Aventurar-se pelo conto é sempre uma tentação. O gênero parece simples, rápido, apoiado em tramas fáceis — isso quando há uma trama. E o gênero anda em alta na literatura brasileira, tentadoramente em alta. Não são poucos os que se arriscam. São muitos os que tropeçam na armadilha pois, por simples e rápido, o conto tem que ser perfeito.
Bernardo Ajzenberg, depois de cinco romances, resolveu investir na narrativa curta em Homens com mulheres (Rocco – 96 páginas). São doze contos em que a relação afetiva predomina, mas são histórias que não resistem a uma segunda leitura.
Ora é o texto que patina, como em Um encontro, em que o casal se conhece num banco no bosque, mas a descrição boba da beleza da moça é desanimadora: “Nariz esculpido por uma cirurgia perfeita, lábios grossos sobre os quais se destacavam duas maçãs que davam vontade de comer”.
Outra hora é a mensagem que engasga, como em Síndrome do jaleco branco, em que a lição parece tirada de algum programa de televisão numa tarde de terça-feira: “Numa relação de admirador/admirado não há afetividade permanente que resista.”
Na maioria das vezes é o conto inteiro que não empolga, como os fraquíssimos Trecho impossível de mucosa, Verme de metal, Aspirador de pó, O chouriço e as giletes, Quadros no ateliê, Marcenaria e A blusa rosa, em que não há grandes defeitos, mas também não encontramos virtudes. Não passam de historietas banais arrastadas por um texto que tenta convencer o leitor que, se chegar ao final, será premiado. Mas o esforço não é recompensado.
Somente em Pela franja verde e Estréia de regras, Ajzenberg consegue algum tipo de efeito no leitor. O primeiro descreve uma pedofilia grupal em família, com um relato forte e um desfecho corajoso. “Sentada numa cadeira, entre as duas cenas, a tia, uma mulher gorda, sempre ativa na cozinha, não sabia o que fazer com as mãos naquele instante. Olhava para a filha, para o filho…”
Estréia de regras, de longe o melhor conto do livro, relata como um pai lida com a primeira menstruação da filha, só que esta ocorre em um hotel numa viagem ao exterior e ele tem que correr à farmácia em busca de absorvente. O conto flui bem, com um texto mais solto: “Tinha pressa. Queria ver o rosto de Mônica, olhar Verinha. Sabia, pela descrição da mulher, que a filha estava feliz…”
A história é empolgante, apesar da inverossimilhança geográfica. O conto acaba com uma chocante cena de violência contra o turista brasileiro na Itália, quando sabemos que é o oposto que sempre ocorre, sendo as vítimas os visitantes estrangeiros no Brasil. Que o conto então nos sirva também para exercitar a indignação, já que por aqui essas cenas não chocam ninguém.
Apenas dois contos bons em doze tentativas é pouco. Bernardo Ajzenberg precisa discutir sua relação com a narrativa curta.