Quatro anos de Rascunho

Edição especial com 36 páginas e dois novos cadernos marcam o aniversário do Rascunho
01/04/2004

Esta edição especial marca os quatro anos do Rascunho. Esta data seria propícia a uma avaliação desta empreitada literária independente. Mas tal tarefa tomaria o rumo do pessimismo, das dificuldades do país, da falta de apoio à cultura, do baixíssimo índice de leitura — estatísticas (estas coisas que ninguém nunca sabe muito bem de onde saem) mostram que cada brasileiro lê, em média, 0,8 livro ao ano. Olhar para este miserável número é deparar-se com um abismo, com uma escuridão sem fim.

Também poderíamos discutir a importância da leitura como direito à cidadania, o seu valor na formação cultural do indivíduo, a necessidade de políticas públicas sólidas para o impulso à leitura para as crianças — coisas mais do que debatidas nos diversos canais literários e de comunicação Brasil afora. Mas qualquer tipo de resposta (se é ela que exista) está muito longe de nosso alcance. Podemos, no máximo, chegar a algumas considerações, mas que, definitivamente, não irão alterar uma situação que se arrasta há anos e cuja solução não parece possível nesta vida.

O que cabe a um jornal como o Rascunho nesta gelatinosa vida cultural brasileira é continuar a existir, por mais simplista que isso pareça. Acreditamos que iniciativas isoladas são fundamentais na formação de novos leitores — eis um dos grandes motivos na persistência deste emaranhado de letras.

Um projeto nascido em Curitiba e com bom alcance no cenário nacional é apenas mais um passo que se junta a tantos outros em vários rincões deste país. A formação de uma rede em prol da literatura — sem esperar pelo apoio governamental — é primordial para o fortalecimento do ato de ler. Talvez isso seja um tanto utópico, mas a “simples” distribuição de algumas centenas de exemplares do Rascunho na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba, por exemplo, é uma maneira de mostrar ao Governo, no caso este do Paraná, de que é possível abrir caminhos e perspectivas culturais à população. Basta um pouco de iniciativa.

Além dessa pequena, mas valiosa, participação direta na vida cultural brasileira, o Rascunho também é — e isso nem mesmo os mais ferrenhos detratores do jornal são capazes de negar — um dos mais abertos campos de discussão, longe dos grupos literários e de guerras pessoais. O Rascunho continua firme na sua “missão” de abrir espaço a diferentes vozes, opiniões, reclamações, etc. Não é o caso aqui apresentar os tantos exemplos em que o jornal se mostrou aberto a opiniões as mais diversas possíveis.

Mas como não temos forças para salvar o Brasil e, tampouco, para colocá-lo nos trilhos da pujança econômica e cultural, pelo menos aumentemos nossa contribuição pela cultura brasileira. Para tanto, esta edição, além de comemorar os quatro anos do Rascunho, marca também a estréia de dois novos cadernos: Dom Casmurro e Viramundo.

Dom Casmurro — referência mais do que óbvia — será inteiramente destinado à criação literária. Nesta edição, os destaques são o poema inédito Teologia do traste, de Manoel de Barros; os contos Sulfato de morfina, de Luiz Ruffato, Os deliciosos peitinhos murchos, de Raimundo Carrero, As sandálias de Hermes, de Paulo Sandrini, Serviço de empurrar pedra, de Manoel Carlos Karam e O homem que recolhia o tempo, de Francisco de Morais Mendes. Traz ainda as crônicas de José Castello e Miguel Sanches Neto, uma bela elegia de Fernando Monteiro, e ainda cinco poetas.

Viramundo chega para acabar com uma carência do Rascunho: a falta de espaço à literatura estrangeira editada no Brasil. Nesta estréia, destaque para os textos de Luís Henrique Pellanda sobre Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago; de Marcella Lopes Guimarães sobre Boa tarde às coisas aqui em baixo, de António Lobo Antunes, e de Roberto Pinheiro Machado a respeito de Carlos Fuentes. Viramundo traz ainda textos sobre Martin Amis, Natalia Ginzburg, Lolita Pille e uma entrevista com a poeta portuguesa Ana Hatherly.

Temos plena certeza de que este Rascunho, seus quatro anos, centenas de páginas com resenhas, críticas, ensaios, contos, poemas, crônicas, entrevistas, inúmeras discussões, não irão “salvar” o Brasil, mas seguimos, humildemente, fazendo nossa parte.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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