Primeiras palavras

É sabido que o brasileiro lê pouco. Praticamente não lê nada. Mesmo assim, um dos livros mais procurados do ano, por aqui, foi Harry Potter and the half-blood prince (Harry Potter e o príncipe mestiço), de J. K. Rowling
Ilustração: Osvalter
01/10/2005

É sabido que o brasileiro lê pouco. Praticamente não lê nada. Mesmo assim, um dos livros mais procurados do ano, por aqui, foi Harry Potter and the half-blood prince (Harry Potter e o príncipe mestiço), de J. K. Rowling, com lançamento nacional previsto para o final de 2005, pela Rocco. São setecentas e tantas páginas em inglês. Os muitos brasileiros que o importaram, via internet, não gastaram menos do que R$ 100 por exemplar. Trata-se de um best seller infanto-juvenil que caiu no gosto dos adultos do mundo todo; um fenômeno de vendas, carisma e popularidade que conseguiu a proeza de instituir, no Brasil do século 21, uma espécie ainda tímida mas bastante notável de culto ao livro — como objeto de desejo e consumo. E isso lá é bom? O que significa tanto sucesso num país de tão poucos leitores? Que tipo de personagem é Harry Potter? É dos que abrem portas a outras e maiores leituras; é dos que se alimentam exclusivamente de jogadas de marketing; ou dos que aprisionam seus fãs numa espécie perigosa e infértil de adoração? E no Brasil, quais as opções do público infanto-juvenil? Como anda nossa literatura para crianças e adolescentes, a que alturas se encontra o espírito crítico desses leitores? Para opinar sobre o assunto, o Rascunho convidou dez escritores brasileiros, todos experientes no trato com os pequenos.

Gato no telhado
Reinaldo Moraes

O Brasil tem premiadíssimos escritores na área infanto-juvenil. Ruth Rocha e Lygia Bojunga são apenas os nomes mais conhecidos. E acho que as grandes editoras, responsáveis pela esmagadora maioria dos títulos no mercado, bem como um bom punhado de pequenas e esforçadas nanicas, fazem, em geral, um bom trabalho. Digo isso observando os livros que minhas filhas pequenas (de 5 e 8 anos) lêem/vêem. Logo, penso que a questão não é se a produção infanto-juvenil brasileira vai formar novos e bons leitores — pois é óbvio que vai —, mas sim indagarmos se os governos que se sucedem e a sociedade que fica e vota conseguirão elevar a abrangência e a qualidade da educação pública no país, de modo a criar um universo apreciável de crianças com domínio adequado da linguagem escrita. Sem isso, o gato da literatura de qualquer gênero e segmento vai subir no telhado, sem a menor dúvida.

O absurdo sucesso de Harry Potter, no Brasil e no mundo todo, aponta para a existência de um tremendo mercado para livros de aventura instigantes e bem-feitos, como os da série do bruxo inglês que metamorfoseou sua criadora em magnata instantânea. Acredito que os escritores brasileiros em geral poderiam se dar bem por aí. Até mesmo os que se destacam na ficção adulta, se devidamente estimulados pela possibilidade de emplacar best sellers de aventura, livremente bolados e escritos, num mercado explorado com competência e sensibilidade pelas editoras. Gênero que não é estritamente infanto-juvenil, a ficção de aventura sempre cativou imaginações de qualquer idade, especialmente de adolescentes. Afinal, aí já deitaram e rolaram caras como Robert Louis Stevenson e seus marujos, ilhas do tesouro e médicos-monstros; o Allan Poe dos fantasmas e dos horrores no solar da mente; e o Monteiro Lobato da boneca Emília, do Jeca Tatu, dos trabalhos de Hércules. Claro está que não me refiro aos “paradidáticos” de formato bitolado, de temática e linguagem estritamente policiadas e “normalizadas”, com não mais de 80 páginas. Esse tipo de livro não costuma permitir grandes vôos, com as brilhantes exceções de praxe, e dificilmente será páreo para os Harry Potter e os Códigos Da Vinci que não param de escalar a lista dos mais vendidos.

Reinaldo Moraes é escritor, tradutor e roteirista. É autor dos romances Tanto faz e Abacaxi, e do juvenil A órbita dos caracóis. Atualmente, integra a equipe de redatores da novela global Bang-bang, de Mario Prata. Mora em São Paulo (SP).

Papai e mamãe
Antonio Calloni

Para formar bons e novos leitores, em primeiríssimo lugar, é necessário que os pais sejam bons e velhos leitores. Para o bem e para o mal, somos o primeiro modelo. Vejo isso pelo meu filho, que adora ler, e de tudo — do gibi do Capitão Cueca à biografia de Leonardo Da Vinci. Não acho saudável a tentativa “nazista” de tentar separar o joio do trigo. É uma postura perigosa, presunçosa e excludente. Os bons e novos leitores têm o direito de conhecer tudo que está a sua volta para, com o tempo, desenvolver o próprio espírito crítico, sem a obrigatoriedade (é óbvio) de ter que gostar de tudo e, muito menos, de ser condescendente. Dentro dessa perspectiva, a literatura brasileira voltada para as crianças sempre teve uma produção muito abrangente. Temos grandes autores, alguns reconhecidos mundialmente. Bem-vindos, Harry Potter, bulas de remédio, histórias em quadrinhos, hieróglifos e rabiscos. Para formar bons e novos leitores: papai, mamãe, leiam mais! Porque a literatura infantil vai muito bem obrigado.

Antonio Calloni é ator e escritor, autor de Os infantes de dezembro, A Ilha de Sagitário, Amanhã eu vou dançar e O sorriso do escorpião. Mora no Rio de Janeiro (RJ).

Uma depuração
Luís Pimentel

A publicação de livros para crianças e jovens estará sempre formando bons e novos leitores, mesmo quando não se trate da melhor literatura. À medida que vai lendo, o leitor vai depurando o gosto e separando o que conta das bobajadas. A formação de bons e novos escritores para crianças e jovens é que é mais difícil, uma vez que editoras e livrarias continuam apostando apenas nos nomes já consagrados. Nas escolas — ainda o melhor canal de circulação do livro infantil e infanto-juvenil —, o funil é ainda mais cruel. Como a maioria dos professores encarregados de selecionar os livros não tem o hábito da leitura, acaba indicando para adoção os autores que já conhecem, pelo tempo de carreira ou pela massificação da mídia. Aos autores, recomendo que escrevam, independentemente desses esquemas; aos leitores, que leiam mais e mais; e aos professores, que se informem e vasculhem catálogos, não só os das editoras que eles já conhecem ou que possuem sistema eficiente de divulgação.

Luís Pimentel é jornalista e escritor. Autor de O calcanhar da memória e Um cometa cravado na tua coxa, entre outros. Mora no Rio de Janeiro (RJ).

Mágico e simples
Walmor Santos

A criança, considerando a clientela escolar da 1.ª a 4.ª série, é o maior público leitor do Brasil e é a única faixa etária que dispensa campanhas de leitura. E isso, dentre inúmeras razões, se compreende pelo descobrimento da palavra escrita, pela criança.

Questionamos a pergunta em pauta: “De que forma é feita essa literatura infantil no país?”. Parece uma pergunta tendenciosa, quase afrontosa a uma literatura que é considerada uma das melhores do mundo. Sem contar que Harry Potter não é literatura infantil, mas juvenil e, por que não?, adulta. Eu li três dentre os títulos dessa série até agora publicados. E adorei.

Quanto ao fenômeno Harry Potter, a edição em inglês é conseqüência do enorme sucesso das edições já publicadas em língua portuguesa. Ler em inglês será demérito? Quanto à sua qualidade, basta ler uma dessas aventuras para ver como deve ser a narração de um bom livro, onde a fantasia simplesmente acontece, sem pausa para explicação nem divagações inúteis. É mágico e simples.

Por outro lado, a boa literatura, considerando “boa” aquela que é adequada a cada faixa etária ou a cada tipo de leitor, a que proporciona o prazer, que provoca a imaginação, será sempre formadora de leitores, com o progressivo desenvolvimento de juízo crítico, que passa a exigir cada vez mais qualidade.

De altamente positivo fica, para o jovem leitor, a certeza de que, se leu um livro de 700 páginas em poucos dias, qualquer outro é perfeitamente palatável, desde que tenha fantasia, trama interessante, narração qualificada. Sem contar que, para o mercado editorial, os chamados best sellers fomentam a cadeia produtiva pelos resultados econômicos por eles produzidos.

Enfim, como a literatura feminina, a infanto-juvenil é quase sempre vista preconceituosamente pelos ditos “doutores”, senhores da verdade.

Literatura é literatura, de maior ou menor qualidade, para este ou para aquele público. Quando é, afinal, que lutaremos pela literatura e não por nossas relativas opiniões?

Walmor Santos é escritor e proprietário da WS Editor. Publicou, entre outros, O paraíso é no céu da sua boca, A noite de todas as noites e Coração passarinho. Vive em Porto Alegre (RS).

Mais obstáculos, mais incentivos
Paulo Bentancur

A literatura infanto-juvenil representa uma significativa parcela do mercado editorial brasileiro. Portanto, é tratada profissionalmente, inclusive com feiras de livro dedicadas unicamente ao gênero. Isso é bastante positivo. Autores como Ruth Rocha, Ziraldo, Ana Maria Machado, Bartolomeu Campos de Queirós, o falecido Marcos Rey e Sérgio Capparelli — e mais uma ou duas dezenas que não cito para não tomar todo o espaço do jornal — provam nossa vitalidade no gênero. Com tamanha produção, a oferta, naturalmente, é enorme e só atrapalha um pouco o baixo nível das nossas escolas, que, coitadas!, não têm recursos (nem professores preparados) para adquirir as obras de tais autores e pô-los nas mãos da gurizada. E apesar de a literatura disputar espaço com os videogames, a tevê e um mundo vertiginosamente ligado na internet e num tipo de leitura nada atento — ou seja, antiliterário —, acho que tal indústria e tantos autores de qualidade acabam, sim, por representar um enorme incentivo para que se formem novos leitores. Mas tal incentivo ocorre apenas numa faixa, e teria que ser amplo, geral e irrestrito… A formação de um leitor, desde o meu tempo de menino (anos 60), era um fenômeno quase inexplicável. Continua hoje. Com mais obstáculos e mais incentivos.

Sobre Harry Potter, acho que é só uma moda. E que moda é moda, pega mesmo, pra valer. Ninguém quer ficar de fora do processo. As classes média e alta morrem se não consumirem ou ao menos possuírem o que seu vizinho possui. O senso de disputa no mundo contemporâneo é acirrado demais. O inglês virou uma segunda língua e não seria obstáculo para o pessoal ler, se lesse. O maior obstáculo é a quantidade de páginas (os livros são grossos) e o hábito de leitura, que inexiste. Então, só mesmo uma pesquisa séria poderia apontar qual o percentual de compradores do Harry Potter em inglês que realmente leram o livro. Acredito que uns 30%. Os demais, acalmam suas carências possuindo a obra em casa. Não se preocupam em não lê-la porque não há debate; não chega, a obra, a ser fonte de diálogo freqüente entre eles. Assim, não serão desmascarados. Os que leram, leram, e é só consumo. Esquecem depois. Não são leitores legítimos. Leram Harry Potter mas não significa que continuarão a ler. Essa tarefa-aventura (a da leitura) transcende a moda a que não resistem. E, em sua transcendência, é maior que eles, os que compraram o Harry Potter em inglês.

Isso tem algo de positivo, reconheço. Pode mostrar-lhes, afinal, que o livro não é um objeto estranho, remoto, e que pode — como roupas, perfumes, CDs etc. — satisfazer nossas necessidades mais elementares depois da fome e de um teto: a curiosidade, a evasão, a fruição de um bem cultural. Mas, infelizmente, eu não apostaria na possibilidade de os fãs de Harry Potter se tornarem leitores legítimos. Uma minoria que quase não serve às estatísticas até irá, ao longo da vida, correr atrás de livros análogos, e, nessa corrida, talvez acabe travando contato com um universo literário mais vasto e mais exigente. Mas é uma mínima minoria…

Paulo Bentancur é crítico, ficcionista e poeta, autor de diversos títulos infanto-juvenis, entre eles As rimas da Rita, O olhar das palavras, A máquina de brincar e a coleção Brincando de pensar. Também escreveu o recém-lançado Bodas de osso (poemas). Mora em Niterói (RJ).

A varinha do marketing
Carlos Trigueiro

Nossa literatura infantil cresceu. Ganhou prêmios internacionais. Aprimorou forma e apresentação: capas, projetos gráficos e ilustrações nada ficam devendo às publicações estrangeiras. Diversificou temas, indo além dos clássicos brasileiros e do tradicional repertório europeu (contos de fadas). Retomou mitos indígenas, africanos, gregos, árabes e outros do imaginário universal. No nicho infanto-juvenil, enriqueceu o gênero com biografias de artistas, pintores, músicos e escritores, e lançou um novo olhar sobre os sentimentos da condição humana –– inveja, ciúme, ódio, despeito, egoísmo etc.

Porém, não creio que esses fatores sejam suficientes para formar bons e novos leitores. Acho que a literatura proporciona ao imaginário do pequeno leitor a oportunidade de interagir com agentes socializantes da vida real (família, escola, professor, vizinhança, comunidade religiosa) e com sua própria natureza psicológica, individual. Obviamente, esse processo de interação é subjetivo, ninguém garante que formará um amante dos livros.

Quanto ao espírito crítico, o pequeno leitor brasileiro de hoje, bem formado e informado, talvez comece a avaliar o mundo ao redor, a influência do poder aquisitivo, do marketing, da moda e da mídia sobre a vida real, ao perceber que só alguns podem comprar livros ou ter acesso a eles, enquanto a maioria não consegue nem uma coisa nem outra.

Sobre o fenômeno Harry Potter, minha opinião é que passará, assim como passou a febre dos dinossauros. Vejo o pequeno mago como efeito instantâneo da globalização no imaginário infantil, encantado, sim, pela varinha do marketing regendo gigantescas linhas de produção industrial. Acho que não atravessará séculos nem gerações, não repetirá o feito de Ali Babá, Tom Sawyer, Huck Finn, Oliver Twist, David Copperfield, Tarzan e, nacionalmente, de nossos heróis do Sítio do Picapau Amarelo.

Carlos Trigueiro é ficcionista, autor de O clube dos feios, O livro dos ciúmes e O livro dos desmandamentos, entre outros. Mora no Rio de Janeiro (RJ).

Ilustração: Osvalter

Viciado em papel impresso
Pedro Bandeira

Os escritores não escrevem para “aguçar o espírito crítico” de ninguém. Essa é uma bobagem que entrou na moda nem sei por quê. Todo leitor busca nos livros emoções, sonhos, informações e, lá dentro dele, pensa e critica o que acha que deve. Nosso problema não é que no Brasil haja “leitores não-críticos”; a sinuca é que não há leitores, absolutamente! Só 25% dos adultos brasileiros entendem o que lêem e, mesmo dentre estes, poucos lêem.

A escocesa J. K. Rowling é uma bênção: desde Monteiro Lobato não surge uma escritora para jovens tão maravilhosa quanto ela. Os livros com o bruxinho Harry Potter fazem sucesso não por causa do marketing, como muitos sonsos vivem dizendo, mas porque são bons demais! Saber de tantas crianças que estão lendo esses livrões é um milagre! Ela está formando leitores, provando que há um imenso prazer na leitura, mundo afora, até no Brasil. Depois de devorarem livros de até mil páginas, essas crianças, naturalmente, estarão fisgadas para o prazer de ler e não quererão parar mais: até o fim de suas vidas, procurarão outros livros, para buscar de novo o prazer que descobriram. É como um drogado que, após experimentar uma “viagem” que lhe pareceu prazerosa da primeira vez, continuará cheirando, espetando-se, para embarcar de novo na tal viagem. Acontece que, como dizem os próprios drogados, só a primeira viagem dá prazer: o resto é o caminho da morte. Mas, no caso da leitura, cada novo embarque no avião de papel impresso traz cada vez mais prazer! Desde que aprendi a ler sou um viciado em papel impresso. Não sei se sou “crítico”, mas posso afirmar que sou feliz.

Pedro Bandeira é escritor, autor de Pântano de sangue, A droga do amor, A droga da obediência, Anjo da morte e Droga de americana! e entre outros. Mora em São Roque (SP).

Não, a literatura infantil não cria leitores
Paulo Venturelli

A literatura infantil geralmente tem compromisso com o ensinamento, é pedagogia disfarçada. Pensa-se que a criança é ingênua, o ser-de-amanhã, e canaliza-se para ela uma série de noções, que o autor acredita relevantes, com tintura literária. Segundo Edmir Perrotti, “o cuidado com a elaboração do discurso” só interessa “na medida em que isto não” constitua “um entrave para o ensinamento”. Assim, deixa-se de lado “a coerência interna das narrativas” em seus aspectos como “personagens, enredo, tempo e espaço”. O resultado é a existência de “trabalhos flácidos, inconsistentes, sem coesão”. A feitura do artefato literário é abandonada. A criança não é exposta a obras densas, porque se parte do princípio que ela não entenderia. Um julgamento prévio que tem muito de censura.

Desde os anos 70 a escola tem maciçamente adotado livros. Quem era criança na época hoje é adulto. A comprovação da não-eficácia deste trabalho está no baixo número de leitores no Brasil, na eterna crise do mercado livreiro entre nós. Acontece que, para a criança ler textos sólidos, ela precisa da mediação do professor. Não há uma linha direta entre literatura e aprendizado da prática de leitura. A ponte deve ser feita pelo professor. E aí encontramos o nó principal da trama funesta: o professor, que também não é leitor, não está preparado para este trabalho que exige amplos conhecimentos das artes das linguagens. E a roda-viva da mediocridade se repete: o professor adota um livro, já previamente destinado pela editora para uma dada série, usa a maldita ficha de leitura, presença indefectível nestas obras, e o dano está feito. Apenas mais uma tarefa escolar. Ler com prazer, ler com os olhos voltados para, a vida nunca acontece. Neste contexto, a leitura de Harry Potter e O senhor dos anéis é até um benefício. Ajuda a quebrar outro tabu: o de que o público mirim só lê livros finos.

Pensando na baixa qualidade do que é lido nas escolas, Harold Bloom criou sua já célebre antologia em quatro volumes Contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades para quebrar o círculo vicioso da mediocridade. Quantas escolas usam estes livros? Há uma acomodação geral e até aqueles autores entre nós que fogem da papinha literária e oferecem livros de real valor não são conhecidos, passam ao léu da escola que, perfazendo o caminho de sempre, mata o leitor na casca, em lugar de criá-lo. E assim, gerações e gerações são perdidas, e quando este povo se põe a ler, vai em busca da literatura de auto-ajuda para tentar entender os intrincados mistérios da miséria humana. Se tivessem passado pela alta literatura desde cedo, dispensariam isto, sabendo conviver com seus limites e angústias, pois os grandes mestres são grandes também porque souberam pensar e escrever sobre isto. A literatura, enfim, é um caminho de sabedoria, não apenas diversão ou pretexto para escrevinhações escolares.

Paulo Venturelli é escritor e professor de literatura da UFPR. Mora em Curitiba (PR). É autor dos livros O anjo rouco, Admirável ovo novo e Composições para meus amigos.

Rápida e rasteira
Millôr Fernandes

Perguntador — Da forma que é feita no Brasil, a literatura infantil é capaz de formar bons e novos leitores, é capaz de lhes aguçar o espírito crítico?

Millôr — Pra quê? Criança é coisa obsoleta. E vocês ainda querem aguçar?

Perguntador — O que significa a venda de tantos exemplares em inglês de um livro como Harry Potter?

Millôr — Que a idiotice não tem pátria.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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