Nascido em Nossa Senhora do Carmo do Rio Verde, hoje Carmo de Minas, no Sul do Estado, em 1º de junho de 1916, o mineiro Murilo Eugênio Rubião era filho do filólogo e poeta Eugênio Rubião e de Maria Antonieta Ferreira Rubião, prima do escritor Godofredo Rangel. Murilo veio com a família para Belo Horizonte aos 7 anos, e ainda na adolescência começou a ler Machado de Assis, um dos seus escritores preferidos durante toda a vida. Entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais em 1938, e em seguida arranjou um emprego em uma livraria, onde conheceu e ficou amigo do futuro presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em 1939, já sentindo a vocação para as letras, transferiu-se para o jornal Folha de Minas, onde se aproximou de alguns intelectuais, entre eles o escritor Marques Rebelo, de quem receberia grande incentivo para seguir o caminho das letras. Depois de formar-se em direito, em 1943, Murilo Rubião começou a organizar os contos de O ex-mágico, que vinha escrevendo há anos. Lançado em 1947, pela Editora Universal, do Rio, o livro recebeu críticas elogiosas de Otto Maria Carpeaux e Oscar Mendes, que também apostaram no contista e viram nele um futuro promissor. Em 1953, foi a vez de Murilo publicar A estrela vermelha. Com estes dois livros, ele se tornaria o precursor do realismo mágico na América Latina, que nos anos seguintes faria a fama de autores como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, Juan Rulfo, e alguns outros.
Mineiro arraigado, Murilo Rubião deixou a terra somente duas vezes: uma delas foi em 1949, quando foi para o Rio de Janeiro como chefe da Seção de Documentação do Vale do São Francisco. Três anos depois, voltou para Belo Horizonte, para ser o chefe de gabinete do então governador Juscelino Kubitschek, do qual comandaria a campanha de publicidade para a presidência da República. Com a vitória de JK, em 1956, Murilo foi para Madri, onde durante quatro anos trabalhou como adido cultural na embaixada brasileira. Depois disso, voltou definitivamente para Minas e passou a trabalhar na Imprensa Oficial, onde em 1966 criou o célebre Suplemento Literário de Minas Gerais, que saía encartado semanalmente no Minas Gerais, e em torno do qual surgiu a conhecida “Geração Suplemento”, da qual participaram, entre outros, os escritores Luiz Vilela, Duílio Gomes, Márcio Sampaio, Luis Gonzaga Vieira, Humberto Werneck, Sérgio Sant’Anna, Adão Ventura e Jaime Prado Gouvea.
Mesmo tendo sido reverenciado nos meios literários desde a sua estréia com O ex-mágico, Murilo Rubião só se tornaria conhecido nacionalmente a partir de 1974, quando o editor Jiro Takahashi, na Editora Ática, lançou a vitoriosa série Autores brasileiros, na qual também seriam publicados livros de outros escritores mineiros, como Roberto Drummond, com A morte de DJ em Paris, Manoel Lobato, com A flecha em repouso, Garcia de Paiva, com Os agricultores arrancam paralelepípedos, e outros. Murilo Rubião se tornou best-seller com O pirotécnico Zacarias, que chegou a vender mais de 100 mil exemplares, foi indicado para vestibulares, entre eles o da UFMG, virou tema de teses acadêmicas e teve alguns contos traduzidos para importantes revistas internacionais, entre elas a El cuento, do México. Seus livros saíram também na Alemanha, Tchecoslováquia, e Estados Unidos, onde o professor Curtis Pulsipher, da Universidade de Illinois, publicou tese de mestrado sobre sua obra.
Homem modesto e elegante, sempre vestido com um terno preto e usando óculos de lentes grossas, que se tornaram sua marca registrada, depois de O ex-mágico, Murilo Rubião lançaria A estrela vermelha, em 1953, pela editora Hipocampo; Os dragões e outros contos, em 1965; O convidado, em 1974, pelas edições Quiron, com apresentação de Jorge Schwartz, até ser publicado pela Ática. Solteiro por convicção, fiel aos seus poucos amigos, com os quais costumava se encontrar todos os finais de tarde, quando deixava a Imprensa Oficial, no bar Lua Nova, no Edifício Malleta, centro de Belo Horizonte, Murilo Rubião fumava muito, tomava uísque, mas sempre ia cedo para casa, pois não era de enfrentar as madrugadas. Daquela mesa do Lua Nova, que faria história em Belo Horizonte, havia cadeiras cativas, além de Murilo, o pintor Chanina, o livreiro Wilson Leão, o escritor Roberto Drummond, o crítico literário Fábio Lucas, a pintora Yara Tupinambá, o escritor Isaías Golgher, o jornalista Geraldo Magalhães, e alguns outros. Wander Piroli e Oswaldo França Júnior também costumavam aparecer por lá. Em um daqueles encontros, quando o escritor Bartolomeu Campos Queirós disse a Murilo que estava querendo parar de fumar, este colocou a mão no queixo, pensou um pouco, deu mais uma bicadinha no uísque e respondeu: “Será que a vida merece isto?”.
Exemplo de que a literatura não pede quantidade, mas qualidade, a obra de Murilo Rubião se resume a exatos 33 contos, que foram escritos e reescritos incansavelmente durante a sua longa carreira literária. Com coordenação de Humberto Werneck, a Companhia das Letras começa a relançá-los em três volumes. Já saíram A casa do girassol vermelho, e O pirotécnico Zacarias, ambos com 11 contos cada um. Quanto ao terceiro livro, ainda não há previsão de lançamento. Entre as várias publicações que existem sobre a obra e o pensamento de Murilo Rubião estão os livros Mário e o pirotécnico aprendiz, da Editora da UFMG, coordenado por Marcos Antônio Moraes, no qual está reunida a correspondência que foi mantida entre Rubião e Mário de Andrade, entre 1939 e 1944, e A trama do arquivo, da mesma editora, organizado por Wander Melo Miranda. Este último trabalho mostra algumas curiosidades do arquivo pessoal do escritor, que após a sua morte, no dia 16 de setembro de 1991, foi doado por sua família ao Centro de Estudos Literários da Faculdade de Letras da UFMG.
Uma curiosidade: Murilo Rubião escreveu contos que dariam um outro livro. Mas um dia, para azar da literatura brasileira, ele esqueceu os originais dentro de um táxi, quando vinha do Bairro da Serra, onde morava, para o Centro de Belo Horizonte. Eles não foram encontrados.