Corajoso é o crítico literário Jerônimo Teixeira, que abriu mão do afeto de seus semelhantes literatos, que se despiu de toda a vaidade, abrindo mão até mesmo da possibilidade de expor, a nível de literato iniciante, jovem, a seus semelhantes críticos literários, qualquer trabalho que venha a fazer, a nível de literato semelhante meu, em troca de viver sua vida a redigir a opinião de seu superior, a nível de hierarquia, o chefe, na revista de alta circulação nacional, que a média burra dos consumidores de revistas nacionais julga ser inteligente e, ganhar no final do mês, a nível de trabalho honesto, o salário mais ou menos que a Veja paga a ele, crítico literário, ainda jovem intelectual formador de opinião, com alto poder de penetração nacional, o que não deixa de ser mais ou menos legal e suficiente para dar conta, mais ou menos, da vaidade, que todos nós, a nível de gente do meio literário, temos, claro, coisa normal, essa vaidade, já que ninguém é livre desse pecadilho, a nível de artista ou formador de opinião nacional, com alto poder de penetração inteligente.
Corajoso é o experiente jornalista e semelhante meu, a nível de literato, Mario Sabino, chefe do crítico literário Jerônimo Teixeira, ao atrair para si, a nível de chefe de revista burra para consumidores médios de revistas nacionais que se julgam inteligentes, o ressentimento de seus semelhantes literatos, aos quais trata com desprezo monumental, com um grande desprendimento de vaidade, já que possui a coragem de assumir publicamente, a nível de programa inteligente de literatura da televisão, programa que só gente inteligente, a nível de se interessar por literatura, assiste, que ele, o maduro jornalista, o inteligente semelhante meu, a nível de universo literário, é melhor, superior, a todos os seus, dele, do chefe formador da opinião de seus subalternos formadores de opinião com alto poder de penetração nacional, alto poder de viver uma vida legal, vida de formador de opinião, em São Paulo, de noite, assim no inverno, aquele friozinho, aqueles bares legais, um grupo novo de amigos, o crítico literário, lá, desbravando aos poucos as entranhas da grande capital, da cultura multidisciplinar do friozinho de inverno, na noite de São Paulo, aquelas sacadas sobre a literatura, a arte, a morte, os semelhantes inferiores, semelhantes literatos. Pô, se o Mario Sabino escreve melhor do que os outros, por que não assumir publicamente essa superioridade? Só as pessoas corajosas têm a coragem de se exibir, em um programa inteligente literato, assistido apenas por literatos inteligentes, a nível de literatura, dizendo que seus colegas de arte sofrida, apenas um lápis, um papel e a madrugada sombria, ruídos distantes na madrugada cor de laranja da grande metrópole nacional, continental, internacional, mundial, cosmopolita, penetrada semanalmente pela opinião corajosa e, por que não?, desmistificadora, iconoclasta, sim, purificadora opinião do experiente e corajoso editor cultural praticamente internacional, são farsantes corruptos, literatos exploradores do dinheiro público, atrasados vanguardistas, usurpadores da arte, essas paradas. Agora o cara vai ficar meio sem graça de aparecer por aí, vai pagar o preço por sua destemida coragem.
Corajosos são esses formadores de opinião literária, com alto poder de penetração, a nível de suplementos, blogs, revistas e jornais inteligentes, a nível cultural, que têm a coragem de desagradar a todos os seus contemporâneos, a nível de gente inteligente, a nível de meio literário, a nível de literatos, afirmando, sem qualquer sombra de dúvida, que somos todos, a nível de literatos contemporâneos, muito inferiores ao Machado de Assis.
Alguém, afinal, precisa falar a verdade, doa a quem doer.
Corajoso sou eu, escritor de vanguarda, experimental, transgressor, jovem, contemporâneo, que, ao invés de ganhar uma graninha estável, redigindo, com facilidade extrema, as opiniões corajosas de algum chefe de revista com alto poder de penetração nacional, ou até estadual, já vale, uma graninha mais ou menos, que dê pra sair de noite no inverno gostosinho de São Paulo, a arte, a morte, a literatura, pensando grande, pensando maior, varando madrugadas a escrever um grande romance, sem concessões ao gosto médio dos consumidores burros de revistas inteligentes, para ser reconhecido por semelhantes literatos, inteligentes, que varam madrugadas, sem dinheiro, pensando na arte, na morte, na literatura, nos livros dos outros, para ser ridicularizado na Veja, compreendido por semelhantes pobres, tímidos, com baixo poder de penetração sexual, e depois ir para o escritório na segunda de manhã, para ganhar uma graninha, para não precisar redigir a opinião corajosa de um chefe intelectual com alto poder de penetração anal, a nível de formador de opinião nacional.
Essa de falar do Mario Sabino e do Jerônimo Teixeira, que me chamaram de débil mental, na revista independente de alto poder de penetração nacional, foi corajosa, hein!?!?