Manoel Carlos é mais conhecido como um dos principais novelistas da teledramaturgia brasileira. De fato, o nome do autor figura entre os principais artífices do gênero, sobretudo porque ele se destaca não só pelos altos índices de audiência como por um gosto certamente diferenciado nas suas tramas, uma sensibilidade que o faz escolher, por exemplo, trilhas sonoras homenageando artistas como Tom Jobim e Cole Porter; ou quando opta por nomear suas personagens principais livremente inspirado por Machado de Assis, um dos seus escritores favoritos (a conferir a sempre presente figura de Helena em todas as suas tramas e de Capitu, no folhetim Laços de família). Tais elementos fazem de A arte de reviver, seleção de crônicas assinadas originalmente para a revista Veja Rio, um livro merecedor de uma atenção especial. Afinal de contas, será que ele é tão bom na produção impressa quanto é nas telenovelas?
Aparentemente, a resposta é positiva. Manoel Carlos domina como poucos o talento da comunicação direta com os leitores. Faz dos textos uma conversa informal, como a boa crônica deve ser, abordando temas da moda, sem se desvencilhar de suas obsessões, aquelas que Nelson Rodrigues classificava fundamentais para sua produção. Nesse aspecto, e voltando a Manoel Carlos, está claro que ele utiliza o artifício da crônica como extensão do trabalho como novelista, ora adaptando temas, ora utilizando a interlocução com os leitores como treinamento para os folhetins televisivos. E é aqui que residem os problemas dos textos de Manoel Carlos.
Se, do ponto de vista estilístico, A arte de reviver não necessita de reparos — ao contrário do que aconteceria, por exemplo, com um texto do superestimado Mário Prata, cujos solecismos e imprecisão vocabular são abundantes —, no que se refere ao tratamento dos temas, a coletânea de crônicas não supera as expectativas aguçadas pela telenovela. Muito pelo contrário. De um lado, porque o autor insiste na repetição de abordagens de casos particulares como prova de que seu olhar é sensível à realidade cotidiana, sendo esta, segundo essa perspectiva, mais absurda que a ficção. De outro lado, porque as historietas aderem a um discurso politicamente correto que, num extremo, chega a ser contraditório. Exemplo banal: no texto Meu amigo gay, Manoel Carlos se derrete pela sensibilidade e erudição letrada de seu colega homossexual (o artigo só fala disso, nada mais), deixando claro sua visão, vá lá, liberal do mundo. Até aí, tudo bem. Ocorre que, algumas páginas adiante, o mesmo Manoel Carlos fica estarrecido com a afirmação de uma das filhas de sua vizinha (oh, histórias da vida privada) quando esta assevera que deseja “sair para beijar”. Só faltou o novelista dizer: “este mundo está perdido!” (com exclamação e tudo).
Em que pesem as críticas desta brevíssima resenha, é certo que o livro será um deleite para os amantes do gênero, uma vez que as amenidades sobejam nos textos de Manoel Carlos. Afinal de contas, tal como as telenovelas, o que está ali parece ser feito para todos os públicos, com o doce sabor da frivolidade.