A literatura brasileira exibe no presente condição particularmente favorável: estatisticamente, cresceu o número de publicações de autores nascidos no país; diversificaram-se os gêneros em que um escritor pode se manifestar, estendendo-se as opções dos modelos mais elevados da ficção e da poesia à produção para a imprensa, para o cinema ou para o público jovem; profissionalizam-se os criadores de arte, adotando a prática de agentes literários, que medeiam as relações com editores, tradutores e divulgadores no campo cultural.
Também é sintomático do novo status da literatura brasileira o aumento do número de concursos literários, promovidos por empresas privadas (Portugal Telecom; Zaffari-Bourbon), por entidades não governamentais (Academia Brasileira de Letras; Sesc) e pelo governo, nos níveis municipal, estadual (a exemplo do Prêmio São Paulo de Literatura) e federal, como o da Fundação Biblioteca Nacional. Essas premiações, somadas, alcançam mais de um milhão de reais, sendo concedidas anual ou bienalmente a escritores em língua portuguesa. Os vencedores ainda se beneficiam da repercussão obtida por suas obras, facultando-lhes chegar com mais facilidade ao público consumidor.
O quadro da indústria editorial também se alterou no Brasil do novo milênio: empresas estrangeiras descobriram o mercado nacional, adquirindo editoras de grande porte. Outro acontecimento desde a última década é a reunião de editoras sob um único selo, permitindo a um grupo como a Record, por exemplo, abrigar os catálogos, entre outros, da Bertrand Brasil, José Olympio, Civilização Brasileira e Difel. A adoção de contratos de exclusividade, com o pagamento de royalties aos autores ou a seus herdeiros, para garantir o privilégio, tornou-se outra prática do mercado editorial brasileiro. Por outro lado, a concentração editorial em poucas empresas de grande porte, raras inteiramente nacionais, teve como conseqüência a reação regional, impulsionando o aparecimento de projetos destinados à difusão de escritores de circulação local ou emergentes. Trata-se aqui de outro procedimento, que responde a uma lógica diferenciada, porém não menos focada no mercado.
Tirando vantagem dos modernos editores de texto e de softwares direcionados à diagramação, é possível, de modo fácil e rápido, preparar originais, proceder ao planejamento gráfico, chegar à arte final e deixar uma obra pronta para publicação. As editoras podem, portanto, se resumir a empresa de pequeno porte, empregando poucas pessoas ou terceirizando os serviços, o que contribui para a diminuição das despesas operacionais. Tais circunstâncias colaboram para o aparecimento e desaparecimento de empreendimentos dessa natureza, cujo catálogo é formado, na maioria das vezes, por autores em ascensão ou regionais, desatendidos pelas grandes editoras, que os desconhecem ou não desejam investir em criadores de alcance unicamente local.
Assim sendo, o panorama da literatura brasileira no começo do segundo decênio do novo século distingue-se daquele experimentado nas décadas anteriores, ainda que várias iniciativas, bem-sucedidas, datem de programas, projetos e posicionamentos inaugurados nos anos 1970. Uma delas diz respeito a empreendimentos públicos, apoiando a publicação de obras inéditas de autores emergentes, bem como estimulando a circulação de escritores nacionais em escolas e universidades, com o fito de levá-los a dialogar, sem mediações, com seu público. Outra decorre da ação dos intelectuais brasileiros, artistas e pensadores, que agiram em prol da redemocratização do país, luta que os colocou perante as forças da repressão, da censura e da indiferença, mas que resultou em uma literatura voltada para a conscientização dos leitores e engajada no processo de restauração das liberdades políticas e dos direitos civis.
Esses aspectos — favoráveis, alguns; desfavoráveis, outros — apresentam-se na qualidade de desafios perante os quais todo escritor, consagrado ou aspirante, precisa se defrontar, posicionar-se e, eventualmente, resolver, dado seu conteúdo às vezes enigmático. Tais desafios são enumerados a seguir.
1. A difícil profissionalização
Ao longo do século 20 poucos escritores tiveram condições de depender tão somente dos rendimentos de seu trabalho literário. Citam-se freqüentemente os nomes de Jorge Amado e Erico Verissimo, para evidenciar a carência de uma política de auto-suficiência econômica experimentada por poetas e ficcionistas. Alternativas como a aceitação de emprego no serviço público, um lugar na diplomacia ou a atuação na imprensa são encontráveis nas biografias daqueles que vieram a constituir o cânone da literatura moderna do Brasil.
Duas situações vividas especialmente no primeiro decênio do século 21 revelam que o mercado editorial pode hoje garantir a autonomia financeira do autor brasileiro: a produção de livros sob encomenda, em resposta a projetos coletivos, de que é exemplo a coleção Amores Expressos, da Companhia das Letras; a remuneração dos direitos autorais, cujo exemplo mais notório provém de Paulo Coelho, responsável por grandes êxitos editoriais no Brasil e no exterior, situação também experimentada por outros artistas brasileiros.
A profissionalização pode, pois, colocar-se no horizonte de expectativas do escritor brasileiro. Porém, para tanto, ele deverá também aceitar um segundo desafio.
2. A circulação entre escolas, feiras de livros e festas literárias
Eventos dedicados a festejar o livro datam dos anos 1950, se lembrarmos que a feira de Porto Alegre nasceu em 1955. Nos anos 1970, na esteira da Bienal do Livro de São Paulo, promoções dessa natureza aumentaram em número, dimensão e diversidade. Desde o começo da década passada, são realizadas em quase todas as capitais brasileiras e na maioria das cidades de porte médio, acolhendo grande quantidade de pessoas. Ao lado das feiras e bienais do livro, destacam-se as festas literárias, que, a exemplo da Flip, reproduzem-se com sucesso pelo país. Ainda que boa parte do público dessas promoções desloque-se aos palcos de debates ou aos estandes que vendem livros para assistir aos shows de seus ídolos da música pop e da televisão, esses compartilham um espaço que é do escritor, a quem, por seu turno, cabe comportar-se como aqueles, pronto a dar entrevistas, fazer declarações sobre assuntos variados, acolher a admiração de leitores e fãs.
Tal disponibilidade não se aplica apenas a eventos públicos relacionados ao livro e à cultura. Ela se materializa igualmente na predisposição para se apresentar em salas de aula e auditórios, dirigindo-se a uma platéia formada não apenas de adultos, como professores e estudantes universitários, mas também infantil e juvenil, como os alunos do ensino básico.
Consolidou-se, assim, a tese de que crianças e jovens interessar-se-iam mais pela leitura se motivados pela presença viva e estimulante do escritor. Desse modo, a chamada crise de leitura levou ao aumento de projetos educacionais, bancados por órgãos governamentais, de uma parte, e por editoras, de outra, de visitas de autores a escolas e cursos superiores, produzindo, em muitos casos, o aumento das vendas das obras literárias, em outros, a disseminação de uma prática segundo a qual o artista ultrapassa o âmbito privado de sua produção e aprende a se comunicar com seus possíveis destinatários. Sob esse aspecto, o criador transforma-se em agente do mercado, colaborando para seu fortalecimento.
3. O fortalecimento do mercado
A indústria editorial brasileira passou por substantivas mudanças na última década, de que são exemplos, como se observou, a compra de empresas nacionais por grupos europeus e a formação de conglomerados, reunindo vários selos, incumbidos, cada um, de projetos específicos, como a produção de livros infantis, traduções de best-sellers estrangeiros, difusão de obras de auto-ajuda, etc. Pode-se concluir que o mercado consumidor de livros no Brasil é atraente e que o país conta com um público leitor sólido e crescente. A conclusão é enganosa, embora seja inegável que se registraram aumento no número de livros adquiridos e alargamento do público leitor.
Por sua vez, a melhora dos dados quantitativos deve-se a alguns fatores específicos. Um deles, é certo, decorre da comerciabilidade dos livros de escritores brasileiros como o sempre citado Paulo Coelho, ao lado do qual se pode colocar os nomes de Luis Fernando Verissimo, Lya Luft e Martha Medeiros, além dos blockbusters do esoterismo e auto-ajuda, como Zibia Gasparetto e Augusto Cury. Outro se relaciona à intensa participação do Estado no processo de compra, por intermédio de projetos governamentais, de obras literárias, com a conseqüente, mas nem sempre eficiente, distribuição delas entre escolares.
Programas governamentais de aquisição e difusão de livros povoam a história da leitura no Brasil. Desde o século 19, políticos e pedagogos se debatem com a questão, discutindo as melhores alternativas para derrubar as taxas de analfabetismo, bastante elevadas até os anos 1990, e formar uma nação de leitores. Foram privilegiados, em distintos períodos da história, o livro didático, o texto informativo, revistas semanais, enciclopédias e dicionários, obras de poesia e ficção, a produção dirigida à infância e à juventude, gêneros considerados aptos a motivar uma criança ou um adulto a ler mais e melhor.
Nas últimas décadas, esses gêneros têm sido amplamente favorecidos por programas nacionais, como o PNBE e o PNLL, ou regionais, dependentes, estes, das ações de secretarias estaduais de educação ou de cultura, ou de prefeituras, especialmente a das capitais. Editoras se beneficiam amplamente dessas políticas, que repercutem sobre os escritores, pois compete a esses últimos a produção de obras adequadas às compras governamentais. Por essa razão, a maioria dos autores brasileiros atuantes no sistema literário nacional apresenta, em seu catálogo particular, uma ou mais obras destinadas ao público escolar, formado por crianças e jovens. Mesmo artistas transgressivos e audaciosos, como João Gilberto Noll, que assinou recentemente um texto para o consumidor juvenil — o que não significa, da parte dele, perda de criatividade ou rendição ao mercado. Sugere, por outro lado, a resposta de um ficcionista de reconhecida qualidade e impacto na literatura a um desafio do mercado editorial brasileiro, a que os escritores não podem ficar indiferentes. Por sua vez, cabe a pergunta: e a qualidade artística?
4. Inovação e renovação literária
Supõe-se que o único compromisso de um autor de obras literárias, sejam elas de natureza lírica, narrativa ou dramática, seja com sua própria arte. Essa, por sua vez, pode nascer espontaneamente, mas depara-se com alguns horizontes, entre os quais se reconhece a imposição do cânone. Formatado por distintas tradições — a nacional, a internacional, a lingüística, a estética —, o cânone aparece na condição de um desafio e, sobretudo, de um enigma, que o artista deve decifrar, sob pena de ser devorado, por não saber fazê-lo ou não ser bem-sucedido.
O cânone, por muito tempo, requereu sua própria reprodução. Distintos classicismos empenharam-se na afirmação de normas e paradigmas a que cabia obedecer e dar seqüência. Os modernismos e as vanguardas inverteram a ordem: o cânone aí está para ser desacatado, rejeitado e desconstruído.
O ímpeto revolucionário das primeiras décadas do século 20 pode ter arrefecido à medida que os decênios se passaram. Não desapareceu, porém, do horizonte do campo literário, induzindo cada artista, de uma parte, a inovar, se comparado com seus contemporâneos e predecessores, de outra, a renovar-se permanentemente, se examinada sua trajetória artística ao longo do tempo. Diante dessa provocação, e sobretudo quando somada ou cotejada aos desafios anteriores, não se pode negar que as novas gerações de escritores brasileiros têm apresentado inovações substanciais, sem deixar de se renovar continuamente.
Cabe mencionar primeiramente autores cujas obras inaugurais datam da década de 1960, como Dalton Trevisan, que, se de uma parte permanece fiel à forma do conto, de outra, investe ininterruptamente em uma narrativa profanadora, cortante e implacável, de que são exemplos os recentes Violetas e pavões e Desgracida, apontando para a fertilidade de seu imaginário de contista.
Foram, porém, os escritores estreantes nos anos 70, do século 20, que acompanharam a nova situação da literatura brasileira, de que os desafios aqui dispostos resultam. Chico Buarque de Holanda publicou seu primeiro romance, Fazenda modelo, em 1974, alegoria de fundo político que desmontava o “milagre brasileiro” propalado pelo regime militar. Seus investimentos literários subseqüentes foram Estorvo, de 1991, e Benjamin, de 1995, propostas, sobretudo a primeira, de linhagem experimental, sendo a cronologia movida pelo fluxo da memória e pelos distúrbios emocionais do protagonista. Dez anos depois, Buarque afina-se ao pendor intertextualista da literatura, publicando o multipremiado Budapeste, de 2004; mas o ficcionista dá novo giro à sua prosa, lançando, em 2009, Leite derramado, romance em que trava um debate com a tradição do romance brasileiro, encarnada em Machado de Assis e Oswald de Andrade. Cristovão Tezza começou a publicar seus primeiros livros nos anos 1980, tendo alcançado a maturidade desejada na primeira década do século 21. Exemplos são tanto O fotógrafo, de 2004, quanto o bem-sucedido O filho eterno, de 2007, romance em que se diluem as fronteiras entre a memória e a fantasia, e entre a história e a ficção.
Milton Hatoum talvez possa representar o melhor exemplo de inovação e impacto nos anos 1990, quando lançou o romance Relato de um certo Oriente, mescla de narrativa memorialista, metaficção historiográfica e discussão das possibilidades de representação do exotismo tropical. Dois irmãos, de 2000, e Cinzas do Norte, de 2005, dão continuidade à carreira exitosa, de repercussão internacional, a que se seguem as publicações recentes do autor: Órfãos do Eldorado, de 2008, e A cidade ilhada, de 2009.
A última década deu vazão a uma plêiade de novos talentos, podendo-se destacar os seguintes nomes, considerados sobretudo aqueles que vêm recebendo prêmios significativos em concursos de repercussão nacional: Bernardo Carvalho, de Nove noites (2002) e Mongólia (2003); Luiz Ruffato, de Eles eram muitos cavalos (2001); Miguel Sanches Neto, de Um amor anarquista (2005) e Chá das cinco com o vampiro (2010); Marcia Tiburi, de Magnólia (2005); Nuno Ramos, artista plástico e escritor, autor de Ó (2008); Maria Esther Maciel, de O livro dos nomes (2008); Amilcar Bettega Barbosa, de Deixe o quarto como está (2002) e Os lados do círculo (2004); Lourenço Mutarelli, de A arte de produzir efeito sem causa (2008); Marcelo Mirisola, de Bangalô (2003) e Animal em extinção (2008); Rodrigo Lacerda, de O mistério do leão rampante (1995), e Outra vida (2009); Michel Laub, de O segundo tempo (2006); Tatiana Salem Levy, de A chave da casa (2007).
Relacionaram-se aqui apenas ficcionistas, e tão somente criadores nascidos entre 1960 e 1980, o que corresponde a uma geração que, em 2010, oscilava entre os trinta e cinqüenta anos de idade. Logo, constituem não apenas a literatura que se faz hoje no país, mas também a que provavelmente continuará ativa nas próximas duas décadas. Ela se depara com outro desafio, o último a se mencionar nesta exposição: dar vazão a uma arte de alcance internacional, sem deixar de se revelar brasileira.
5. À la recherche do mercado internacional
Um dos principais projetos dos artistas e intelectuais do século 21 brasileiro consistiu o fortalecimento do mercado de livros no país, decorrente da consolidação do público leitor. Em um país que, perto do final daquele século, ostentava um índice de aproximadamente 70% de analfabetos, contar com consumidores de impressos constituía projeto ambicioso e quase utópico, exequível apenas em alguns centros urbanos. Outros problemas assolavam o campo literário, como a presença ostensiva da literatura estrangeira, especialmente a que provinha de Portugal e da França; a circunstância de os livros serem editados, em muitos casos, em tipografias portuguesas ou francesas; o custo do papel, importado e caro. Muitos desses problemas fazem hoje parte da história; outros permanecem, como os que dizem respeito ao preço ainda bastante elevado dos livros e à presença de best-sellers estrangeiros e de obras de auto-ajuda, essas também freqüentes nas listas dos mais vendidos.
Por essas razões, cumpre ainda ao artista e ao intelectual o esforço por se comunicar permanentemente com seu público, aparecendo como alternativa muitas das medidas enunciadas antes. Não referido, mas igualmente importante, é outro projeto dos criadores de literatura no Brasil: a expressão de uma temática nacional.
Esse projeto remonta aos românticos, que viram na manifestação do caráter nacional a possibilidade de produzir uma literatura diferenciada, singular e ligada tão somente a eles mesmos, já que apenas brasileiros nativos poderiam dar conta da tarefa. A compreensão do que seria propriamente essa identidade variou no tempo e no espaço. Machado de Assis rebelou-se contra a noção de que indígenas e cor local fossem as únicas opções colocadas aos criadores, e tratou de percorrer um caminho independente, ainda que os poemas das Americanas cedessem à sedução do Indianismo vigente. Seus contemporâneos entenderam que dar vazão à temática nacional era diagnosticar os problemas da sociedade, na cidade (Aluísio Azevedo; Adolfo Caminha) ou no campo (Euclides da Cunha; Domingos Olímpio). Os modernistas recolocaram em primeiro plano o Brasil dos selvagens. A chamada geração de 30 alterou o foco mais uma vez, optando por representar ângulos regionais da multifacetada nação.
Nem sempre a atenção voltada à especificidade da vida nacional prejudicou a leitura dos autores brasileiros fora de seu país de origem. Jorge Amado foi um dos romancistas brasileiros mais lidos no Exterior por longos anos. Porém, até meados dos 1970, poucos escritores eram conhecidos fora do perímetro geográfico dos leitores em língua portuguesa.
Podem-se situar na segunda metade da década de 70 os esforços no sentido de inserir nossa literatura em um mercado internacional. Talvez o chamado boom experimentado pela literatura hispano-americana tenha contribuído para alertar os produtores culturais brasileiros de que a hora era aquela. O início do processo de globalização, partindo da economia e afetando os meios de comunicação de massa, certamente colaborou para diminuir a separação entre o Brasil e a Europa ou os Estados Unidos, estes constituindo os mercados preferidos. Não menos importante, a literatura brasileira apresentava um leque de opções que ultrapassava o exotismo do romance de Jorge Amado, lidando com temas de cunho social, político e étnico, além de investir no experimentalismo e na metaficção historiográfica.
Algumas medidas foram importantes para as obras dos escritores nacionais se aproximarem do público não-brasileiro, podendo-se lembrar: a realização de eventos de alcance internacionais, como bienais do livro e congressos; a participação de escritores, editores e tradutores em eventos no exterior; a publicação de obras de nomes conhecidos da cultura brasileira, originalmente não vinculados à literatura, mas, a partir de certo momento, autores de obras literárias, como Chico Buarque de Holanda ou Fernando Gabeira. Vale chamar a atenção para o fato de, relativamente à difusão da literatura brasileira no exterior, a ação das empresas, nacionais ou estrangeiras, ligadas à indústria do livro ser maior que a do Estado. Este patrocinou eventos, colaborou para a participação de pesquisadores em congressos no Exterior, estimulou a política de exportação, porém, pouco se envolveu com os produtores de cultura. De todo modo, traduções apareceram, e escritores experimentaram popularidade digna de nota, como ocorreu à ficção de Clarice Lispector, por exemplo, na França e na América do Norte.
Uma geração de escritores atuantes no Brasil do primeiro decênio do novo século experimenta a nova situação com naturalidade. Mas cabe destacar outra faceta desse processo de internacionalização, a saber, a ruptura com o foco nacional. Com efeito, a literatura brasileira, em especial, sua ficção, absorveu à sua temática cenários internacionais, personagens não-brasileiros, questões de ordem global. Não fosse assim, não existiria uma coleção como Amores Expressos, de que resultaram romances como O filho da mãe, de Bernardo Carvalho, transcorrido na Rússia, ou Cordilheira, de Daniel Galera, cuja ação desenrola-se na Argentina. Nem romances como Budapeste, de Chico Buarque, ou Mongólia, de Bernardo Carvalho, teriam recebido acolhida favorável da crítica e do público.
No horizonte da segunda década do novo século, escritores, editores, tradutores e críticos têm se deparado com tais desafios, que incitam a produção de ações afirmativas e de obras renovadoras. Esperemos que o ímpeto se mantenha nesse novo tempo.