Muitas saídas para o norte ou para a morte

Floriano Martins entrevista os poetas portugueses António Osório e Alberto Pimenta
Alberto Pimenta: “A arte depende da perspectiva: há a de quem faz e a de quem curte”
01/10/2003

A poesia portuguesa volta a requerer a atenção dos leitores do Rascunho, considerando este momento particular do mercado editorial brasileiro em que surgem mais dois nomes de consagrada importância. Dois poetas de uma mesma geração, com vozes tão distintas que se poderia dizer-lhes opostas. De um lado, o acento mais elegíaco de António Osório (1933); de outro, o experimentalismo satírico de Alberto Pimenta (1937). Ao comentar sobre a poesia do primeiro, destaca Ivan Junqueira que “tudo é silêncio e convite à meditação nestes poemas em que o poeta se funde à poesia para com ela formar uma túnica sem suturas”, referindo-se à poética encontrada em A ignorância da morte. Já o crítico Pádua Fernandes aponta no segundo uma “estratégia da inexistência”, que perpassa toda sua obra, incluindo o célebre Discurso sobre o filho-da-puta. Nos dois casos nos vemos diante de reedições de livros publicados ao final dos anos 70.

Indagado por Maria Tereza Horta sobre qual é o lugar do poeta em nosso tempo, disse António Osório: “É o de um pária! Já o escrevi e volto a repetir: somos uns párias. E digo isto com muita mágoa! O nosso mundo é o das catacumbas. Os párias têm direito às catacumbas”. À sua maneira, não deixa de concordar com ele Alberto Pimenta, ao salientar: “até parece que os críticos e lingüistas que até hoje têm refletido sobre a poesia do seu tempo partem do princípio de que o normal seria ela não existir, dado que todos a consideram como um afastamento de qualquer tipo de norma, seja ela lingüística ou de comunicação”.

A obra de António Osório, onde se revela um “fascinante realismo mítico”, no dizer de Eugênio Lisboa, inclui livros como A raiz afectuosa (1972), O lugar do amor (1981) e Aforismos mágicos (1986). Já no caso de Alberto Pimenta, caberia mencionar Os entes e os contraentes (1971), Ascensão de dez gostos à boca (1978) e Adan read & mad (1984). Nos dois casos, decerto seria mais interessante para o leitor que este primeiro contato se desse por meio de uma antologia, sobretudo no caso de Alberto Pimenta, cujo Discurso sobre o filho-da-puta não contempla a voracidade multifacetada de sua poética, o que acaba por delimitar-lhe a força poética.

Nas entrevistas aqui apresentadas espera-se ampliar a aproximação, ao menos no que diz respeito ao pensamento destes dois importantes poetas portugueses, não sem antes lembrar que ainda há muito a ser feito em termos de estabelecimento de um diálogo mais substancioso entre as duas culturas ligadas por um mesmo idioma.

LEIA ENTREVISTA COM ANTÓNIO OSÓRIO

LEIA ENTREVISTA COM ALBERTO PIMENTA

A ignorância da morte
António Osório
Escrituras
188 págs.
Discurso sobre o filho-da-puta
Alberto Pimenta
Achiamé
Floriano Martins
Rascunho