Um espectro paira sobre a atual ficção brasileira: o a da adaptação para o cinema.
A princípio não há nada a reclamar: como rejeitar um caminho que oferece maior divulgação do que escrevemos e permite, ainda por cima, aumentar os parcos ganhos que a publicação de um livro gera?
No entanto, há riscos. Um, dois, três, mil riscos.
O primeiro, e mais óbvio, é a descaracterização do texto literário. Para acelerar o caminho em direção às telas, cada vez mais os romances e contos se assemelham a roteiros — versões iniciais, um tanto precárias, mas já roteiros.
Vou à livraria e abro um, dois, três, dez livros de autores brasileiros. Em mais da metade deles, é evidente a presença do fantasma. Uma pena: a ampla maioria não conseguirá o que pretende. Uns poucos se salvarão na peneira da indústria cinematográfica nacional, ela também tão dependente de estímulos externos quanto nossa atual produção literária.
E nós, leitores, definitivamente sobraremos e soçobraremos ao perceber que as tábuas de salvação são poucas, os botes que podem nos levar até as ilhas da literatura de qualidade são reduzidíssimos.
Por enquanto ainda dá para fugir e esconjurar o espectro roteirístico. Até quando?