Na introdução que escreveu para o primeiro livro de Marina Tsvietáieva lançado no Brasil — traduzido por ele mesmo e recém-publicado pela Travessa dos Editores —, o poeta e semiota Décio Pignatari destacou que se o século 19, na Rússia, foi dos grandes prosadores, o século 20 jogou luz sobre o trabalho de alguns dos melhores poetas de nosso tempo. E entre eles — Pasternak, Maiakovski, Iessiênin, Ana Akhmátova, Puchkin —, sem dúvida, estava Marina, pouco conhecida no Brasil, mas fundamental a qualquer antologia modernista russa.
Marina nasceu em Moscou, em 1892, numa família que poderia ser considerada, hoje, de classe média alta; de pai viúvo, o professor universitário Ivan, casado em segundas núpcias com sua mãe, Maria, uma pianista frustrada, descendente de alemães e poloneses, morta pela tuberculose quando a filha tinha apenas 14 anos. Dela, a menina herdou sua musicalização, seu antimaterialismo e seu interesse pela língua e pelo romantismo germânicos.
Marina sempre levou uma vida extremamente liberal, em todos os sentidos. Casou-se cedo, criou três filhos, manteve dezenas de amantes, nunca escondeu sua bissexualidade e participou ativamente da vida cultural européia, em especial da checa e francesa.
Mas as grandes guerras do século, auxiliadas pela Revolução Russa, acabaram por vencê-la. Entre outras tristezas menores, viu dissolver-se sua família, entre mortes, exílios e prisões. Em 1941, enforcou-se, deixando apenas um bilhete: “Não me enterrem viva: verifiquem bem!”. Ninguém compareceu ao funeral. Para Pignatari, seu Poema do fim, presente no livro Marina Tsvietáieva, é o “mais espantoso poema de amor do século” passado.