A poesia como rito de passagem

Resenha do livro "Bodas de osso", de Paulo Bentancur
Paulo Bentancur: ficção com inúmeras vítimas.
01/12/2005

Na orelha que preparou para Bodas de osso — volume de poesias do conhecido prosador e crítico literário gaúcho Paulo Bentancur —, Luiz Ruffato escreveu que são “poucos os autores que se permitem cruzar as perigosas águas que separam ficção e poema”. E foi exatamente o que fez Bentancur, tão habituado a trabalhar com narrativas ficcionais. Assim, o livro de poemas que lança agora, pela Bertrand Brasil, vem dividido em três partes, quase três capítulos, como que representando o início, o meio e o fim de uma grande novela. O enredo — repleto de pontuações autobiográficas — cobre toda uma vida humana, da inocência da meninice ao cansaço desiludido da fase adulta.

Na primeira, referente aos primeiros anos da existência do poeta-narrador-personagem de Bodas de osso, Bentancur se entrega às lembranças (suas, talvez) de uma época em que a infância — a escola, os brinquedos, a rua — era quase que um sinônimo de lirismo. Na segunda, ganha destaque o homem, jovem, como poeta, descobridor do mundo por meio da palavra, do pensamento e da consciência. E, finalmente, na terceira parte da obra, esse mesmo poeta já surge crescido, maduro e perdido — para a vida e talvez para a própria poesia. É como se a composição e o consumo de versos simbolizassem um rito de passagem da criancice à maturidade.

Paulo Bentancur, também biógrafo de Erico Verissimo e autor de vários livros infanto-juvenis, colabora com diversos veículos da imprensa cultural brasileira, como Jornal do Brasil, Zero Hora, Bravo!, O Globo, Época, Aplauso e Rascunho. Sobre as tais bodas de osso a que seu livro se refere, Bentancur diz que são aquelas “cumpridas na mais absoluta solidão”.

Bodas de osso
Paulo Bentancur
Bertrand Brasil
140 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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