Na orelha que preparou para Bodas de osso — volume de poesias do conhecido prosador e crítico literário gaúcho Paulo Bentancur —, Luiz Ruffato escreveu que são “poucos os autores que se permitem cruzar as perigosas águas que separam ficção e poema”. E foi exatamente o que fez Bentancur, tão habituado a trabalhar com narrativas ficcionais. Assim, o livro de poemas que lança agora, pela Bertrand Brasil, vem dividido em três partes, quase três capítulos, como que representando o início, o meio e o fim de uma grande novela. O enredo — repleto de pontuações autobiográficas — cobre toda uma vida humana, da inocência da meninice ao cansaço desiludido da fase adulta.
Na primeira, referente aos primeiros anos da existência do poeta-narrador-personagem de Bodas de osso, Bentancur se entrega às lembranças (suas, talvez) de uma época em que a infância — a escola, os brinquedos, a rua — era quase que um sinônimo de lirismo. Na segunda, ganha destaque o homem, jovem, como poeta, descobridor do mundo por meio da palavra, do pensamento e da consciência. E, finalmente, na terceira parte da obra, esse mesmo poeta já surge crescido, maduro e perdido — para a vida e talvez para a própria poesia. É como se a composição e o consumo de versos simbolizassem um rito de passagem da criancice à maturidade.
Paulo Bentancur, também biógrafo de Erico Verissimo e autor de vários livros infanto-juvenis, colabora com diversos veículos da imprensa cultural brasileira, como Jornal do Brasil, Zero Hora, Bravo!, O Globo, Época, Aplauso e Rascunho. Sobre as tais bodas de osso a que seu livro se refere, Bentancur diz que são aquelas “cumpridas na mais absoluta solidão”.