A palavra escrita como profissão

Em Bilac Vê Estrelas, Ruy Castro reduziu o maior poeta parnasiano brasileiro a uma caricatura de um boêmio que circulava nos meios intelectuais cariocas no final do século 19
Ruy Castro, autor de “Bilac Vê Estrelas”
01/02/2001

Em Bilac Vê Estrelas, Ruy Castro reduziu o maior poeta parnasiano brasileiro a uma caricatura de um boêmio que circulava nos meios intelectuais cariocas no final do século 19. Mas Olavo Bilac foi muito mais do que isso. Nascido em 1865 no Rio de Janeiro, abandonou os cursos de medicina e de direito, fazendo carreira no jornalismo e no funcionalismo público. No entanto, Bilac carimbou seu passaporte para à imortalidade pela sua produção poética.

Em 1888, publica Poesias, reunindo os títulos Panóplias, Via Láctea, Sarças de Fogo, Alma Inquieta e O Caçador de Esmeraldas. O prólogo Profissão de Fé é uma carta de intenções daquele que buscou (e atingiu) a forma perfeita, utilizando rimas raras — características do parnasianismo. Boêmia à parte, Olavo Bilac bebeu em diversas fontes, desde mitologia grega, passando por autores relevantes da poesia nacional, até os franceses Théophile Gautier e Charles Baudelaire. Alguns versos dele tornaram-se populares e são repetidos até hoje. No 13º soneto de Via Láctea, encontramos: “Ora (direis) ouvir estrelas!”. Tarde, publicado postumamente, traz o soneto Língua Portuguesa, que inicia com uma frase que se transformou em definição do nosso idioma: “Última flor do Lácio, inculta e bela” — título, inclusive, da coluna assinada pelo popstar Pasquale Cipro Neto.

Em sua monumental História da Inteligência Brasileira, Wilson Martins — um dos maiores críticos literários da língua portuguesa de todos os tempos — reflete a respeito da produção bilaquiana: “Com o livro de Bilac, a poesia brasileira alcançava, enquanto forma de expressão literária e enquanto expressão formal da emoção, um plano de absoluta primeira grandeza, até então desconhecido, seja pelos românticos, seja em termos de consistência na qualidade, pelos próprios parnasianos que o haviam precedido. Quanto aos poetas de escolas e inspirações diferentes que se sucederam depois disso, poucos obtiveram a mesma estatura, no interior de seus respectivos sistemas de escrita e concepções literárias: por trinta anos, Bilac será não somente o poeta mais representativo do parnasianismo, mas, sem dúvida, o mais representativo do temperamento nacional.”

Bilac usou a palavra escrita para as mais variadas finalidades, tendo assinado textos publicitários, livros didáticos, e também a letra do Hino à Bandeira. Idealizador de uma campanha cívica de caráter nacionalista, pregou o alistamento militar obrigatório, fez palestras em várias cidades brasileiras, e no dia 17 de novembro de 1916 esteve em Curitiba, ministrando conferências no Centro de Letras e na então Universidade do Paraná. O poeta faleceu no dia 16 de dezembro de 1918.

Marcio Renato dos Santos

É jornalista e escritor. Autor de Minda-Au e Mais laiquis, entre outros.

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