O quarto romance da poeta, ficcionista e musicista Denise Emmer, O barulho do fim do mundo, nos coloca diante de uma questão urgente, polêmica e radical: o abuso infantil — um tema que tem de ser discutido, universal e repetidamente, unindo todas as nossas forças para a extinção de tal maldade incalculável, a fim de que haja punições cada vez mais severas para o criminoso e abusador.
O livro, muito bem estruturado e arquitetado para nos impactar e nos tirar da zona de conforto, tem ares de requinte ao tratar de um assunto polêmico e de uma brutalidade impensável para um universo que preza o humano a partir da Arte. Os três primeiros capítulos ‒ O banho, Eu, a casa e Tango — criam uma narrativa de mistério, pois a escritora nos surpreende com sua marca mais original ao retraduzir um novo realismo mágico, com a pena que tece uma atmosfera que, ao mesmo tempo, oscila na corda-bamba entre o desprezível e abjeto e outra que a ultrapassa, por meio da imagem de uma menina que nos encanta com sua delicadeza e sua poesia.
O abuso, tema central de O barulho do fim do mundo, percorre toda a trama, além de conferir densidade e concentração à obra de Denise Emmer. No segundo capítulo, o desvendamento da narradora é algo inusitado, já que, num primeiro momento, somos levados pelo jogo do suspense e do enigma em torno da figura da personagem Amiudinha.
As imagens e metáforas revelam a passagem entre o dentro e o fora, tanto das personagens como dos objetos, sendo a menina a ponte imaginária entre o real e o sonho, entre a penumbra e a claridade. A chave de entrada para a ficção mágica causa, simultaneamente, espanto e alumbramento na parte II, se perfilando com a essência eterna da protagonista. Ela, conversando com os objetos, os sapatos, se insere no universo lúdico do mundo infantil com beleza e vigor. A sujeição à mãe e ao padrasto, que desvela o lado nefando dos caracteres, se opõe ao seu mundo doce e onírico. A narrativa carrega imagens singulares e ligadas ao imaginário dos sonhos. A ambientação inicial, em meio ao abjeto e ao sujo, se diferencia em outros capítulos e, de forma ambígua, as polaridades se afastam drasticamente, pois são ininteligíveis uma à outra.
O voo bailarino do circo, de maneira lírica, e seus saltos para o infinito se enroscam na trama de um tecido sutil, cujos fios se emaranham nos dentes das cobras da crueza, se afastando dos dons mais preciosos, em que quadros realistas de intensidade dramática se alternam com o universo feérico dos contos de fadas, ampliado pela complexidade ainda maior do universo adulto do realismo mágico. O baixo, o ignóbil e o insano não se fundem aos nexos da beleza da poesia mais nobre, que não aceita o pacto com o “mal”: não aquele mal do dia a dia que nos leva a oscilações de humor básicas, mais ao tumor do bestial, sem nenhuma chance para o caminho das flores. A mobilidade e flexibilidade se inserem através da poeticidade de sua prosa, que presentifica os momentos impactantes nas vidas das personagens centrais. A fragilidade de Amiudinha se apresenta como potência, não dos tolos e perversos, como o padrasto, mas como campo da fertilidade de memória de uma personagem que abraça o incalculável. A narradora descreve, na gravidez, a semente que frutificará, e diz:
Porém, agora, ele seria pouco maior do que uma vírgula, da dimensão de um ponto na frase.
Intensa e complexa percepção, linguística que se utiliza da gramaticalidade para se metaforizar o universo materno. Ou seja, seu livro é uma verdadeira joia da literariedade, porque inventa mundos e trabalha lapidarmente com a palavra, em que os vazios são tecelagens do interior da menina que interroga o externo. Mas, ao mesmo tempo, traz a realidade nua e crua da desumanidade dos antisseres.
Em sua obra-prima, que é esse romance, Denise Emmer trabalha com extremos, como nas pontas de uma corda longa, mas que estão com objetivos diferentes, ou seja, o abjeto e o suave.
Sem monotonia
A escritora trabalha com a riqueza de várias figuras de linguagem, não deixando o texto monótono. Partindo de uma gradação, vai do interior da casa, na sua grandiosidade, ao espaço externo, com o mundo do circo e dos ciganos. O erotismo é mágico, implícito, como disse Roland Barthes. Desse modo, Emmer estabelece uma contraposição à pornografia, que é escancarada e explícita. As cenas amorosas são literárias, não são expostas com baixeza. O que fica mais oculto e velado é mais belo. Parte, num mesmo capítulo, de cenas diferenciadas como nos cortes cinematográficos.
Emmer desenvolve os capítulos a partir dos títulos de forma perfeita, encaixando tudo no seu devido lugar. O título, na verdade, é uma ironia ácida, pois a personagem mãe da menina não deseja sua cria. Muito formidável essa imagem ambígua. Do que se é e não se quer ser. Entre o ser e o querer. De um realismo também rascante, profundo, com passagens poéticas belíssimas, em muitos momentos. A narradora, a casa, é questionadora, levando o leitor a pensar sobre os atos da personagem, que não quer seguir o papel esperado pela sociedade e pelo elo maternal e familiar. A família tradicional dá lugar a um espaço habitado pela libertinagem e desregramento. O excesso desconstrói o que é moderado, habitual. Uma imagem cruel e desumana de uma personagem que rejeita sua descendência. Todos os capítulos são magistrais e carregam uma singularidade, fazendo do livro algo dinâmico e múltiplo em sua densidade e variedade.
Cada capítulo é uma aula de beleza e arte literária. Magnífica é a personificação da casa como algo que adoece e se revitaliza, num duplo movimento que está presente na imagem antiga grega do pharmakón, que trazia o veneno e o remédio, ou seja, a doença e a cura. Esse resgate da memória da casa, que se lembra de seus hóspedes, habitantes de um espaço que transpira morte e vida, é fascinante, de uma riqueza e originalidade ímpar. A casa que rememora, que questiona, que se intoxica com os indivíduos que fazem morada nela, com seus problemas e desvarios, é algo arrebatador. Os traços surreais são muito relevantes para a narrativa, como a belíssima metáfora do pássaro que insufla ar no tuberculoso. Passagem de extrema inventividade, que serve como imagem do encanto do poético em meio ao caos e ao sofrimento. A instância da beleza respira em todos os poros de sua escrita. No final, com a vinda dos casais embriagados, a ficcionista dá um novo fluxo à narração, colocando a chama de um realismo mais presente nas linhas fiáveis de um tapete imaginário.
É incrível como Denise Emmer dialoga com os espaços do onírico e do real que se casam numa simbiose perfeita. Miúda é a representação da inocência primeva, perdida pela crueldade do padrasto, que a leva para um mundo sem volta, para os maus. O ambiente do quarto, como refúgio e acolhimento, se, num primeiro momento, a movimenta para os espaços imaginários do sonho, posteriormente, a carrega para uma realidade nefasta e, por fim, a um retorno ao impulso inicial. O desabrochar do corpo de Miúda nos revela o motivo edênico.
Inversão
Como narradora, a casa, fala com relação aos ancestrais, aqui, no relato mítico, na origem de tudo. Quebra, ironicamente, essa visão machista, ao representar, metaforicamente, como o próprio título indica, que o leitimotiv para o erro e a perversidade humana, aqui neste romance, é o homem, invertendo a lógica religiosa, que sempre viu a mulher como a pecadora e a tentadora, com a Eva primordial. Essa palavra, “primeiro” antes de “monstro”, nos mostra o ardil da figura masculina em penetrar na ingenuidade da menina, que perde sua virgindade e fragilidade, com um ato ignóbil de um ser de extrema maldade. Ou seja, o motor é o monstro, o primeiro, o que deu origem ao erro e ao ataque à jovem. O estupro é ressignificado, na sua história, não pela linguagem realista, mas pela figuração da imagem, em seu viés metafórico, o que enriquece o enredo, não o deixando à margem, mas o centralizando, a partir do constructo onírico e surreal, com as figuras das serpentes, como alegorias falocêntricas, da superioridade do opressor, do maior contra a menor, apequenando-a e circundando-a, com o papel do medo, da culpa e da escravidão. Para isso, carregada de culpa, ela se flagela e se machuca. A imagem do sangue, que traduz a pulsão para a vida e para a morte, a juventude que revela o sangue feminino que lhe impõe a marca do nascimento, do florir para a maternidade, também se demonstra como o sangue da revolta e da fúria perante a sujeição a um estado de prisão. O sonho seria este habitar das asas que lhe insuflam o desejo pela liberdade e o novo personagem, seu amigo, o cão, que veio do céu, chamado de Lanterna, é a figuração mesma do afeto que precisa ser resgatado pelo dom dos libertos. A casa, excepcionalmente, além de ser questionadora, é uma atriz, uma personagem, pois age, quer interferir na realidade das outras personagens, a partir de seus movimentos e outros fenômenos. É um riquíssimo paradoxo, pois num jogo textual magistral, algo que seria inanimado, sem vida e sem movimento, adquire alma, anima, vida e interação com o meio. A morada tem um coração, que chora, se emociona, pensa, grita, sangra e pulsa. A casa é narradora e personagem, narra, questiona e age. Ela quer interromper o desejo da menina pela pulsão aterradora da morte, para que ela continue a viver e superar o trauma.
Este romance é repleto de segundos planos e imagens implícitas, cabe ao leitor desvendá-los com olhos de águia. A história prende, desde a primeira linha, a atenção do leitor, o conduzindo ao desejo em querer adentrar, cada vez mais, pelas portas e janelas deste tecido textual enigmático, que carrega símbolos e metáforas cheias de vida e tramas, que atam as pontas da existência mais pulsante ao delírio mais distante. O próximo e o longínquo se misturam, e o resultado é um texto de extrema pujança. A moça, inicialmente, já apresenta uma imagem do que virá, a metáfora da mulher coxa, manca, representando uma marca de sua diferença, de sua perda, falta e ausência. Esse defeito a leva a uma singularidade que revela como alguém que oscila, que é claudicante, se espelha no sonho para fugir da realidade. A metáfora daquela que tem um defeito demonstra uma tentativa de fuga, de não aceitação do campo doloroso dos fatos. Ela ondula entre a vida e a morte, entre o sonho e a realidade, entre a prisão e a liberdade, como um pássaro prestes a alçar o voo da misericórdia.
Robustez
Com domínio da escrita, Denise Emmer, como uma domadora das rédeas das palavras, incita o animal textual a correr de forma livre, mas com o poder de domar a fera irrefreável do caos total. Sua escrita tem uma ordem simbólica que subverte a lógica mais racional, mas que não deixa de lado o real, dando sentido, significado, verossimilhança e robustez à obra.
A cena do nascimento da filha de Amiudinha é uma das cenas mais poéticas sobre o parto já lidas. Quanta beleza e densidade lírica numa cena impactante que levará o leitor às lágrimas. A amizade entre Miúda e seu cão é de extrema poeticidade, apontando para o preenchimento de um vazio paterno e materno na vida da moça. Esse suprimento se dá de forma plena, revelando o senso de zelo e proteção do animal por sua dona. A fidelidade do cão é uma metáfora perfeita para alinhavar a história de Miúda, para que ela não recaia no caos total ou no desamparo opressivo de uma família vil. O barulho do fim do mundo tem o peso e a dureza própria dos canalhas, mas também apresenta, por outro lado, a leveza de cenas tão encantadoras e harmoniosas como essa, que desfazem o desequilíbrio e a insensibilidade do casal pelo poder do poético que reside nos seres imantados pela energia fulgurante da beleza. O seu livro tem a dureza da pedra, que nos corta e dilacera, mas também tem a suavidade da pluma a nos elevar aos reinos celestes, que transfiguram o mal e o desprezível. Por vezes, é no meio da imundície e da podridão que pode nascer a flor mais bela e perfumada, isso se dá a partir de personagens que ultrapassam o tempo miserável do ser com relação ao ambiente que os cerca, como nos apontou o nosso grande poeta Drummond.
É genial a imagem de uma nova família que se cria, cheia de amor e esperança, paralela, inversamente, ao casal desprezível em sua desordem e desequilíbrio patéticos. O espelhamento está presente nesta casa, onde, no espaço do sótão de três paredes, se espelha a alma, símbolo formado pela trindade, o três, nas figuras de Lanterna, Miúda e Céu. A casa adquire, cada vez mais, força no âmbito narrativo, representando o espaço em que o interno e o externo se conjugam, não só entre os seres que a habitam, como em relação à própria morada em si, que externaliza sua alma a partir da movimentação do espaço exterior e também interior, ora internalizando, ora externalizando. Isso é incrível e dinâmico, criando uma atividade e potência, em que há interferências entre a narradora e as personagens dentro dela. Ela acolhe e recolhe esses seres em seus braços, personificando todo o ato amoroso com relação a quem a agrada e, ao mesmo tempo, de repulsa perante o casal opositor. É admirável a síntese na última parte do capítulo, no qual a casa rememora os habitantes que a preencheram com momentos de alegria, comparando-se, assim, o passado e o presente, fazendo a casa ultrapassar o espaço e sentir e pensar sobre o tempo. Tempo que se resgata e se traduz como escrita, linguagem, narrativa.
A casa, como narradora, corporifica a relação entre os elementos componentes do gênero épico ou narrativo, ou seja, o tempo, o espaço, as personagens, o enredo, entre outros. Assim, a casa se densifica pela linguagem carregada de sentido, que só o humano comportaria. A inventividade magistral da escritora faz da casa uma artesã das palavras em potencial, com imagens carregadas de beleza, lirismo e originalidade. Também é fascinante o trabalho com a linguagem do animal. Não só a casa adquire vida e personificação. O cão, através das entrelinhas, formula uma linguagem cifrada em códigos secretos que só a percepção de uma moça sensível, como Amiudinha, perceberia, nomeando sua filha de Céu, metáfora de algo divino, que toca os astros, que está além da mundanidade. Uma sutileza perfeita que atinge os acordes de uma orquestra sublime como, paradoxalmente, os latidos dos cães em sua “sinfonia de uivos”, como Denise bem destaca. A imagem ambígua do cão, como algo que causa temor e medo, se choca com a beleza da amizade, proteção e fidelidade à sua dona.
A casa
O barulho do fim do mundo é, verdadeiramente, um primor de qualidade literária. A casa não é só alma e mente, com suas reflexões e memórias. Nessa parte, se aprofunda o aspecto corpóreo da morada como um corpo humano, que adoece, devido ao danoso tratamento da habitação. Rememorando um tempo feliz em que não havia essa nocividade, a casa revela o paroxismo entre um tempo paradisíaco, no passado, comparado com o tempo da narrativa, em que a narradora adoece e estremece o lugar com seu cântico de dor. Ocorrem analogias entre espaços diversificados na morada, com diferenças significativas entre as personagens cotejadas. Se, no ambiente onde residem Amiudinha, Céu e Lanterna, encontramos ecos dessa dor dilacerante, com o abafamento da doença, no espaço habitado pelo casal, encontramos um terremoto que abala a estrutura desses seres apequenados, onde se revela o lado sobrenatural e mágico do enredo, pensando ser algo vindo de um embruxamento do lar. Isso é de uma riqueza formidável, pois a escritora trabalha com vários planos e perspectivas, como vestimentas variadas inseridas no corpo da escrita.
Freud analisou um elemento importante na literatura de alguns autores ‒ o inquietante, o arrepiante, o estranho-familiar ‒ quando analisa, por exemplo, uma narrativa do escritor alemão Hoffmann, O homem de areia. O elemento fantástico também comparece na história singular e plena de camadas simbólicas do romance de Emmer, percebendo-se, assim, a junção entre o real e o imaginário, o concreto e o abstrato.
No capítulo O cisne, de forma bem elaborada, a escritora compara os pares opositivos: sol X lua, dia X noite, vida X morte. Por outro lado, ao estudarmos mais atentamente os mitos e o simbolismo desse astro vitalizante, que nasce nas manhãs e morre à noite, por exemplo, segundo o texto sagrado hindu, “os upanixades”, o sol é um símbolo de ambiguidade, que gera e devora os seus filhos. Portanto, implicitamente, o romance, em pauta, traz a imagem de duplos sentidos, se nos debruçarmos mais atentamente para o que se esconde nas asas da sua ave textual, que produz voos imaginários e sutis, mas que se enroscam também na concretude da terra, da existência. E com a figura do pássaro negro, formado pelas folhas nas colinas da casa, a narradora sugere um arremate trágico na vida de Miúda. E a casa se estende para além dos cômodos, pois tem suas colinas que mostram o frescor da estação. O externo se diferencia do interior da casa, que está doente. Lá fora, há sol e ar fresco. Mas não é suficiente para o corpo muito debilitado da mãe de Céu. A menina bailarina é a metáfora da harmonia, beleza e perfeição perante à sujeira e imundície que se instala em outra parte da casa. O desarmônico e o harmônico se opõem com toda a potência da linguagem.
Segundo os dicionaristas Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, a dança é uma celebração. Portanto, é vida que pulsa, é expressão do instinto de liberdade contra o aprisionamento que Miúda viveu e ainda vive na sua memória, antes do fim. É mágica e poética a forma como se dá a descrição dessa cena com Miúda: “— Os pássaros já são um balé no espaço”. O pássaro é recorrente neste capítulo, desde o título, passando pelo pássaro negro agourento, os pássaros que dançam no espaço e o cisne. O cisne é uma ave que representa um mistério e também uma ambiguidade, seja ele branco ou negro. Uma imagem perfeita para se representar a luz e a sombra, a vida e a morte. Neste capítulo fabuloso, se conjugam, densa e profundamente, as ambivalências.
No penúltimo capítulo, o cuidado da neta pela avó se transforma, a partir de uma metamorfose, é comovente. Enquanto isso, há a representação da bestialidade, do demoníaco e do mal, na figura do padrasto, que compara as fêmeas com animais e objetos a servirem para seus prazeres e subserviências, subjugadas pela lei do mais forte. Enquanto isso, no enredo, a escritora mostra a degradação da casa, que vai, cada vez mais, sucumbindo pela sordidez, agora só do padrasto, que a infecta com sua pestilência. No passado, havia alegria. Hoje, o barulho do fim do mundo, metáfora para se falar desse som da ruína, da raiva e do nefasto, que vem daquele personagem e não se altera do início ao fim da narrativa, mas que, de uma forma gradativa, vai se tornando, cada vez mais, sórdido, imoral, degradante e violento, agora, com sua arma de fogo mata aquilo que representa a segurança e a proteção das personagens, agora frágeis. Neste capítulo, Céu, com o pé machucado, após ouvir esse barulho do fim do mundo, se assusta e cai.
A queda representa seu medo e fragilidade perante o desconhecido. O padrasto cresce de forma terrificante neste capítulo, enquanto a neta e a avó procuram escapar de uma emboscada e do ataque deste ser repugnante. As cenas de ataque à mulher e ao cão são bem violentas. Este capítulo é mais longo, dando ênfase ao título do livro — O barulho do fim do mundo — a significar o fim de um ciclo e a tentativa de destruição de tudo o que é belo, bom e verdadeiro. O barulho do fim do mundo parece ser algo ensurdecedor, que ultrapassa a barreira da harmonia, do silêncio, da germinação suave do sensível.
Portanto, este romance impecável nos provoca, nos inquere para os mundos multifacetados da inocência e violação, com o propósito de nos instigar à ação, pois que o futuro de uma nação está nas mãos da família, que foi usurpada por falsos fantasmas da crueldade mais insana. Que o mais recente livro de Denise Emmer seja lido com toda a atenção e cuidado que merece, em razão de ser tremendamente fecundo e, ao mesmo tempo, mortal, dependendo do ângulo de visão.