Vidraça #260

Drummond retorna à Record; Gil e Fernanda Montenegro na ABL e outras notícias do mercado editorial
Carlos Drummond de Andrade, autor de “A cor de cada um” e “Criança dagora é fogo”
01/12/2021

De volta à velha casa
Carlos Drummond de Andrade voltará a ser publicado pela Record, após a Companhia das Letras anunciar que não houve acordo com os herdeiros do poeta. Segundo as tratativas, a Record será responsável por editar todos os livros do escritor, enquanto a José Olympio publicará edições especiais e versões fac-símiles das obras de Drummond. O negócio, que não teve valores revelados, prevê no total a publicação de 63 títulos em diversos formatos.

Novo imortal
O cantor e compositor Gilberto Gil foi eleito em novembro imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). O artista, que em 1968 ironizou a ABL na capa de seu disco Gilberto Gil, recebeu 21 dos 34 votos, batendo o poeta Salgado Maranhão e o crítico Ricardo Daunt. Gil ocupará a cadeira de número 20, que já teve entre seus ocupantes o general Aurélio de Lyra Tavares, eleito pouco depois do Golpe Militar de 1964, marcando uma das páginas mais vergonhosas da Academia. 

Médico no lugar de indígena
E por falar na ABL, o escritor Daniel Munduruku, um dos nomes mais importantes da literatura indígena, não foi páreo para o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, eleito para a cadeira 12. O doutor recebeu 25 dos 34 votos possíveis. Munduruku contou com uma carta de apoio assinada por mais de cem autores brasileiros, entre eles Xico Sá, Alice Ruiz, Milton Hatoum e Chico Buarque. Os acadêmicos não se sensibilizaram com as “mal traçadas linhas”. 

Premiação
João Anzanello Carrascoza e Marcelo Labes venceram as duas principais categorias do Prêmio Biblioteca Nacional. Carrascoza levou na categoria contos com Tramas de meninos (Alfaguara). Três porcos (Caiaponte), de Labes, venceu como melhor romance. Textos para lembrar de ir à praia (Reformatório), de Rodrigo Luiz P. Vianna, levou na categoria poesia. Kafka e Schopenhauer: zonas de vizinhança, de Maurício Arruda Mendonça, foi escolhido na categoria ensaios literários, enquanto Feitiços [Charmes], de Paul Valéry, traduzido por Roberto Zular e Álvaro Faleiros, foi eleito a melhor tradução.

Finalmente
Julio Ramón Ribeyro, escritor peruano ofuscado pelo seu conterrâneo Vargas Llosa, terá mais um livro publicado no Brasil. Depois de Prosas apátridas, que saiu pela Rocco, agora é a vez de Os urubus sem penas, que estará disponível com tradução de Silvia Massimini Felix, pela Moinhos.

Por aqui
O senegalês Mohamed Mbougar Sarr, que levou neste ano o Prêmio Goncourt, o mais importante da França, já tem casa certa aqui no Brasil. A Fósforo anunciou que irá lançar o livro mais recente do autor, La plus secrète mémoire des hommes (A mais secreta memória dos homens, em tradução livre). Apesar do frisson sobre o nome de Sarr, a previsão de lançamento é somente para 2023.

Ainda inédito
O sul-africano Damon Galgut venceu o Man Booker Prize de 2021 com The promise, romance ainda sem previsão de publicação no Brasil. Considerado, ao lado do Nobel de Literatura de 2003, J. M. Coetzee, um dos nomes mais importantes da literatura da África do Sul, Galgut é pouquíssimo lido no Brasil. Com mais de dez obras, entre prosa e textos para teatro, somente O bom médico, publicado pela Companhia das Letras, e Em um quarto estranho e O impostor, ambos lançados pela Record, estão acessíveis ao leitor brasileiro.

Breves

  A Arte & Letra publicou em novembro Mergulho ancestral, o novo livro de poemas do escritor, tradutor e professor Rodrigo Tadeu Gonçalves.

• Amoroso, a biografia de João Gilberto, escrita por Zuza Homem de Mello, entrou para a lista de mais vendidos do site PublishNews, na primeira semana de novembro. O livro ficou em 19º lugar, com 178 exemplares vendidos.

• Duna, de Frank Herbert, está na lista de mais vendidos. A obra-prima de ficção científica, que teve quase 600 exemplares vendidos na semana de lançamento do filme homônimo, dirigido por Denis Villeneuve, tem sido redescoberta por um público mais jovem graças ao longa.

Jonatan Silva

É jornalista e escritor, autor de O estado das coisas e Histórias mínimas.

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