Vidraça #247

Os novos colunistas do "Rascunho", a autobiografia de Woody Allen e outras notícias do mercado editorial
José Castilho estreia no Rascunho com a coluna “Leituras compartilhadas”
01/11/2020

Rascunho ganha cinco novos colunistas
Após 20 anos de estrada, o Rascunho acaba de passar por uma grande reformulação. Para acompanhar as novidades digitais e oferecer ainda mais conteúdo nas 48 páginas da publicação impressa, cinco novos colunistas (um homem e quatro mulheres) reforçam o time do jornal a partir desta edição. A crítica literária e psicanalista Fabiane Secches, autora de Elena Ferrante, uma longa experiência de ausência (2020), assina os textos de Cadernos de leitura [pág. 28]; na primeira edição de Leituras compartilhadas, o doutor em Filosofia e especialista em livro, leitura e bibliotecas José Castilho mostra que nossa perspectiva atual é sombria e desalentadora com relação à política pública de Estado para o universo das letras [pág. 29]; Noemi Jaffe, que acaba de lançar o romance O que ela sussurra, participa com reflexões em Garupa [pág. 19]; e a estudiosa da literatura infantojuvenil Nilma Lacerda, em parceria com a designer Maíra Lacerda, publica mensalmente na coluna Caleidoscópio [pág. 36].

Enfim, Woody
A Globo Livros lança neste mês a tão aguardada autobiografia de Woody Allen. Considerado um dos grandes gênios da sétima arte, Allen está envolvido nos últimos anos em uma campanha de cancelamento como represália pelas acusações de ter molestado a filha. Ainda que o diretor de Manhattan e Meia-noite em Paris tenha sido inocentado das afirmações de sua ex-mulher, a atriz Mia Farrow, o assunto voltou à tona durante o movimento #metoo e é discutido em Woody Allen: a autobiografia. 

Flip só virtual
Entre muitas idas e vindas, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) será totalmente on-line neste ano. Programada para acontecer entre 3 e 6 de dezembro, por meio dos canais oficiais do evento, a festa não terá a figura do autor homenageado que, até a saída da curadora Fernanda Diamant, seria a poeta Elizabeth Bishop — nome que trouxe polêmica.

Pilar e a cachorra
Nome confirmado da Flip, a colombiana Pilar Quintana publica primeira vez no Brasil. A cachorra, que sai neste mês pela Intrínseca, confirma Quintana como uma das vozes mais potentes da literatura latino-americana atualmente. Tratando de temas como solidão, abandono, violência e a natureza das relações humanas, o livro é uma narrativa singular e magnética.

Voz inconfundível
A poeta norte-americana Louise Glück foi anunciada, no começo de outubro, ganhadora do Nobel em 2020. Com poucos poemas traduzidos no Brasil, alguns deles vertidos para o português aqui no Rascunho de junho de 2016 por André Caramuru Aubert, Glück foi saudada “por sua inconfundível voz poética que, com beleza austera, torna universal a existência individual”. [Leia ensaio sobre Louise Glück nas páginas 26 e 27]

Mafalda órfã
Morreu no final setembro Quino, uma das vozes fundamentais do cartum mundial. Avesso à fama, o artista argentino foi responsável por criar um dos personagens mais icônicos das histórias em quadrinhos, a menina Mafalda. Com um olhar arguto sobre o mundo, Mafalda representava a inquietude que habitava em Quino e chegou a ser traduzida para mais de 30 idiomas.

Cabral 100 anos
Em celebração ao centenário de João Cabral de Melo, a Alfaguara publica Poesia completa, volume que reúne toda a produção do poeta pernambucano. Com quase 900 páginas e organização de Antonio Carlos Secchin, o livro é um importante instrumento de valorização de João Cabral e traz também textos inéditos.

Cacaso completo
Ainda na onda da Poesia completa, a Companhia das Letras reunirá também toda a produção poética de Cacaso, um dos nomes fundamentais da geração do mimeógrafo. Além de trazer os seis livros publicados pelo autor, o volume leva ao leitor poemas e canções inéditas e textos críticos escritos por Heloisa Buarque de Hollanda, Roberto Schwarz, Francisco Alvim, Vilma Arêas e Mariano Marovatto.

Neruda suspeito
A obra e a vida de Pablo Neruda ainda dão o que falar. Após as suspeitas de que o poeta foi morto pelo regime de Pinochet, agora é a vez do acervo do chileno, em posse de um colecionador espanhol, levantar debate sobre a sua legitimidade. A polêmica se deu, justamente, quando as peças estavam à venda em um leilão, transmitido pela internet no começo do mês passado. Como resultado, somente um dos quatro lotes disponíveis ganhou um novo dono.

 

Breves
• A DBA publica ainda neste ano Sol artificial, de J. P. Zooey, um dos nomes mais inventivos da literatura argentina contemporânea.

• Pedro Bandeira, autor de livros como A droga da obediência, criticou adaptação de contos fadas realizadas pelo governo Bolsonaro. Em carta aberta, o escritor condenou a suavização das histórias e chamou o ato de censura.

• A Kapulana publica neste mês Aké: os anos de infância, livro de memórias do nigeriano Wole Soyinka, vencedor do Nobel de Literatura em 1986.

• Sai no começo de 2021, pela Autêntica, a tradução de De Rerum Natura de Lucrécio (90 a.C.–50 a.C.), realizada pelo professor e escritor Rodrigo Tadeu Gonçalves e que levou seis anos para ficar pronta.

• A Alfaguara relança em meados desse mês nova edição de Meridiano de sangue, de Cormac McCarthy.

Jonatan Silva

É jornalista e escritor, autor de O estado das coisas e Histórias mínimas.

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