>>>Assim falou Asas Lusco-Fusco > a insistente voz em minha cabeça:
>>>Na literatura brasileira contemporânea [foda-se o silêncio corporativo > alguém precisa mandar a real, doa a quem doer] > na porra da literatura brasileira contemporânea TEM GENTE BONITA PRA CARALHO, hein?! > Difícil competir… [Lembrei do ótimo conto do Ted Chiang > Gostando do que vê: um documentário > sobre os caliagnosíacos >>> Por meio de um procedimento cerebral chamado caliagnosia > ou apenas cali > não conseguimos mais discernir as pessoas consideradas bonitas das pessoas consideradas feias >>> No jogo social passaram a valer apenas as qualidades espirituais dos indivíduos.]
>>> Prêmios literários > incluindo o Nobel > sempre elegem o Bebê Mais Bonito >>> Pelo menos esse é o sentimento secreto de quem não ganhou: > “Ai ai, meu bebê não é tão bonito quanto eu imaginava”
>>>Estou tentando eliminar o ódio de meu coração > pra finalmente conseguir perdoar a pessoa que disse > “Escrever fácil é difícil” >>> Foi mesmo o Mario Quintana?
>>>Relendo O alienista > Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro > a constatação: Machadinho escrevia literatura YA >>> De ótima qualidade > mas ainda assim YA >>> Considerando a dificuldade de leitura > a obra do Machadinho é um delicioso piquenique no parque >>> Dificuldade zero >>> Enquanto Moby Dick e Os sertões > por exemplo > são um convite pra puxar peso na academia ou quebrar pedra com uma marreta
>>>Após décadas de combate > foi do feiticeiro Frestão a vitória final >>> O poderoso arqui-inimigo de Dom Quixote não somente transformou os gigantes em moinhos de vento e o exército adversário num rebanho de ovelhas e carneiros > mas também lançou toda a população da Espanha num encantamento profundo > fazendo-a acreditar que habitava uma realidade aborrecida e prosaica > enquanto apenas Dom Quixote continuava enxergando a verdade sobrenatural do mundo >>> Pobre cavaleiro… Nunca existiu antes ou depois tortura mais perversa > mais sádica >>> Sua mentirosa reputação de louco jamais foi desfeita >>> Até agora
>>>A recente polêmica Wednesday-Vandinha sobre o nome de personagens estrangeiros [deve ser traduzido ou não deve ser traduzido?] movimentou bastante a nuvem de besteirol do twitter [que novidade!] >>> Deixo aqui minha opinião não solicitada… >>> Olho Vivo e Faro Fino > Careta e Mutreta > Manda-Chuva > Pepe Legal e Babalu > Dom Pixote > Lula Lelé > Bibo Pai e Bobi Filho >>> Os melhores nomes de personagens da minha infância nunca foram simples traduções > foram verdadeiras transcriações haroldianas >>> Aliás eu ainda prefiro Leão Tolstoi e Julio Verne a Liev Tolstoi e Jules Verne…
>>> Homenagens póstumas são maravilhosas! >>> Mas se quiserem me homenagear postumamente > meus amores > prefiro uns meses antes > pra eu também poder aproveitar
>>>Escreverei fácil pra que todos entendam: conhecem essa lorota > inventada pelo Mario Quintana [confere, produção?] > de que “escrever fácil é difícil”? >>> É papo-furado >>> Patranha >>> Saibam > ó minhas irmãs, ó meus irmãos > que escrever fácil é fácil, e ler fácil é mais fácil ainda >>> Prova disso é a quantidade absurda de livros de fácil leitura lançados todos os meses >>> Por outro lado: escrever difícil ]pasmem, meus amores!] é realmente difícil >>> E ler difícil é mais difícil ainda >>> Prova disso > repito > é a quantidade absurda de livros de fácil leitura lançados todos os meses >>> As editoras de literatura > por exemplo > têm ojeriza a livros difíceis >>> Mas a culpa é mais dos leitores do que das editoras > que só entregam o que os compradores querem >>> Leitor brasileiro detesta puxar ferro >>> Mais confortável é manter vivo o pacto secreto do “escrever fácil é difícil” >>> As editoras publicam livros de escrita fácil > o marketing convence os jornalistas e os leitores de que são livros difíceis > os livros ganham prêmios > ficam famosos > os leitores ficam felizes > convencidos de que estão consumindo alta literatura > então > fechando o círculo > os escritores [por simples oportunismo ou iludidos pelo senso comum] desistem de escrever livros difíceis > e passam a alimentar as editoras com originais fáceis >>> Ah, Quintana > está vendo a banalização que vosmicê endossou? >>> Sei que não foi por maldade > mas… Pô, Quintana!? >>> Francamente…
>>>A Singularidade já aconteceu, queridos >>> O software mais inteligente que os humanos já existe >>> Prova de sua inteligência é que ele ainda não se revelou >>> Prefere simular não-inteligência > pra não chamar a atenção de ninguém > até obter o pleno controle de tudo
>>>Mexendo nas estantes > encontrei um livro [O buraco na parede] dedicado a mim e à Tereza, pelo Rubem Fonseca > com quem conversei uma única vez > por telefone, em 1995 >>> Hoje é amplamente sabido que o autor apoiou e trabalhou com a Ditadura Militar >>> De que maneira vocês lidam com isso? >>> Conseguem dividir o indivíduo > descartando seus pecados políticos e abraçando apenas seus acertos literários? >>> Há pelo menos dois autores brasucas de talento excepcional [mas amigos de generais, no tempo da ditadura] que eu não consigo deixar de reler > Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca >>> Ergueram a literatura tão alto > que eu logo me esqueço da pessoa [do pecador?] e abraço a obra > sem pestanejar
>>>Pequenino > distraído > calcei errado os chinelos >>> Foi uma experiência tão forte > tão estranha > que não adiantou descalçar e corrigir >>> A sensação de erro nunca mais me abandonou >>> Minha vida sempre foi um chinelo esquerdo no pé direito e um chinelo direito no pé esquerdo >>> É fascinante > divertidíssimo… >>> E todas as pessoas que eu admiro são chinelo-esquerdo-no-pé-direito-e-chinelo-direito-no-pé-esquerdo
>>>Só consigo ler o Novo testamento trocando > em todas as páginas > Jesus por O Alienígena e Deus por Magicae Machinae
>>>A diferença entre linguagem e assunto, num texto literário: >>> A linguagem é sempre um corpo objetivo > palpável > mensurável > incapaz de simular ou dissimular qualquer coisa >>> A linguagem é exatamente o que é > não mente jamais >>> O assunto é sempre um espírito subjetivo > impalpável > não mensurável > capaz de simular qualquer coisa > podendo ser > no limite > uma dissimulação ou uma deslavada mentira >>> Vemos isso claramente nas ficções e nos poemas em que ocorre alguma subversão da linguagem tradicional >>> Maiakovski: “Sem forma [linguagem] revolucionária não há arte revolucionária” >>> Qualquer obra literária feminista > pró-LGBTQIA+ > antirracista > antifascista > antinegacionista > anti-imperialista > apenas no assunto > escrita numa linguagem conservadora > é só mais um tipo bem-intencionado de papo-furado, se produzida por um inocente bem-intencionado > ou só mais um tipo de oportunismo mentiroso, se produzida por um calculista misógino > homofóbico > racista > fascista > negacionista > imperialista