1. Por que o Brasil ainda não levou o Nobel de Literatura?
Ademir Assunção: Porque o Brasil é um país distante dos países nórdicos, é habitado por chimpanzés e, ainda por cima, seus escritores escrevem em português. Adrienne Myrtes: Porque Marcelino Freire ainda não foi traduzido na Suécia. Aleilton Fonseca: Porque os jurados suecos não sabem ler em português (risos). Seriamente: porque nossos autores não escrevem sobre temas de nítido interesse mundial. Branca Maria de Paula: Politicamente, é mais fácil ler chinês do que português. Machado de Assis, Rosa e Clarice: tupiniquins demais? Quando o Nobel enfim acontece, atraca na Metrópole, claro. Carlos Felipe Moises: Porque Drummond, Vinicius, Cecília, Rosa, Osman Lins, João Cabral e outros nunca tiveram o apoio de um lobby político internacional. Edson Cruz: Tem a ver com a língua, com a recepção, com a ausência de uma política cultural externa em nível governamental, com as não-traduções patrocinadas para outras línguas. O resto nós temos. Evandro Affonso Ferreira: O Brasil é fraquinho nesse departamento de política nobelística. Guimarães Rosa merecia ter ganhado. Fernando Marques: O Nobel também premia escritores de países emergentes ou pobres, mas só quando já avalizados por editores europeus ou americanos. Vamos lá? Guilherme Kujawski: Porque ainda não apareceu nenhum escritor bombástico. Lima Trindade: Porque se um escritor brasileiro ganhasse, haveria um número alarmante de haraquiris nas Letras Nacionais. Luis Dill: Porque nossos grandes autores ainda não receberam mais e melhores traduções. Luiz Roberto Guedes: Porque o grande país de Minas Gerais, por si só, não tinha força política pra fazer lobby em favor de Rosa ou Drummond. E o Brasilzão brucutu estava mais ocupado, naquela altura, em preparar a revolução conservadora e censurar o cinema, o teatro, o livro, a música popular. Só restava ao sambista cantar: “Vai, meu irmão, pega esse avião”. Maria José Silveira: Porque não tem o apelo da grande miséria e dos conflitos extremos, nem o lobby da grande riqueza. Além disso, escrevemos em português. Mayrant Gallo: Jamais um autor brasileiro ganhou o Nobel de Literatura por dois motivos: 1) a barreira da língua (o português, como o húngaro, parece um idioma condenado a um nicho de obscuridade) e, assim, 2) nossos autores acabam restritos a sua comunidade lusófona. Menalton Braff: O português é uma língua sem poder econômico, político, militar ou cultural. Não tem prestígio internacional. Reynaldo Damazio: Talvez falte tradição histórica ao país para competir, já que os critérios são políticos, mas Guimarães Rosa e Drummond mereciam ter ganhado o prêmio. Rinaldo de Fernandes: Porque o português é uma língua periférica. E o português brasileiro ainda mais. Roniwalter Jatobá: Falta um escritor com obra razoável, que tenha projeção internacional. Os membros da Academia Sueca, naturalmente suecos, não lêem português. Tibor Moricz: Prêmio Nobel de Literatura? Um autor brasileiro? Se nem nos descobrimos ainda, como podemos querer que nos descubram? Ora, faça-me o favor! Tony Monti: Prêmios não fazem justiça, não há um critério literário absoluto. Poderia ter ganhado, não ganhou. Não considero esta uma questão importante. Reconheço que ganhar um Nobel poderia melhorar o tratamento dado à literatura no Brasil, poderia chamar a atenção para ela. Mas desconfio que, sem retirarmos o prêmio da lógica do espetáculo, da competição, do jogo, o prêmio não faria a literatura tornar-se hábito de muito mais gente. Walther Moreira Santos: Por que outro país deveria levar a sério a literatura brasileira quando o próprio Brasil não o faz? Whisner Fraga: Azar, falta de interesse político e estratégias econômicas ingênuas.
2. Qual autor brasileiro merece estar na lista de indicações ao prêmio de 2011, e por quê?
Ademir Assunção: Eu. Por quê? Ora, com um milhão e duzentos mil euros eu viveria o resto da minha vida dedicado exclusivamente à literatura. Adrienne Myrtes: Marcelino Freire. O texto dele é dinamite pura, e também porque assim se contemplaria duas categorias, já que ele é quase uma Madre Teresa de Calcutá. Aleilton Fonseca: Nenhum, pois não escrevem para o mundo, mas só para uns cem leitores brasileiros. Mas, se os jurados suecos entendessem o nosso português, João Ubaldo Ribeiro seria o favorito. Branca Maria de Paula: Agora que o Brasil nasceu pro mundo, espero que levem em conta também nossa literatura. Aposto no Chico Buarque e na Nélida Piñon, pois ambos têm estofo e circulam lá fora. Carlos Felipe Moises: Lygia Fagundes Teles, Manoel de Barros, Ferreira Gullar e outros, porque são muito melhores do que, por exemplo, o Saramago. Edson Cruz: Augusto de Campos. Por seu trabalho poético. Por suas cintilantes traduções. Por seu ensaísmo iluminador. Pelo movimento internacional da Poesia Concreta. Por seus erros de avaliação. Evandro Affonso Ferreira: Autran Dourado, pelo conjunto da obra. Fernando Marques: Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Ferreira Gullar. Os dois primeiros, por alguns dos melhores contos do idioma. Gullar, pelos poemas e ensaios. Guilherme Kujawski: Luiz Bras, por ser o maior representante brasileiro do realismo especulativo. Lima Trindade: Chico Buarque. Tem prestígio internacional, é político e sua extensa obra enche estantes e mais estantes de troféus. Mas se fosse à vera, Ferreira Gullar. Ou Ubaldo. Ou Márcio Souza. E se fosse à vera veríssima, sem politiquês, João Silvério Trevisan. Ou Rubem Fonseca. Ou João Gilberto Noll. Luis Dill: Luiz Ruffato. Pela excelência literária, pela renovação das estruturas narrativas e pela temática abordada em seus romances. Luiz Roberto Guedes: Marçal Aquino me disse uma vez que José J. Veiga merecia um Nobel. Concordo. Jota Jota Veiga tinha fôlego universalista. No presente, um candidato que se impõe é o Ferreira Gullar, por sua obra, trajetória, idade e bela cabeleira prateada. Também acho que ainda está em tempo de nobelizar Oscar Niemeyer. Mas como o Instituto Karolinska gosta de surpreender o público, talvez concedesse o Nobel a Caetano Veloso ou a Paulo Coelho, pelo conjunto da obra. Maria José Silveira: Se contasse autores mortos merecedores, teríamos um pequeno cemitério cheio. Já de autores vivos, perdão, me deu um branco… Mayrant Gallo: O escritor gaúcho Sérgio Faraco, pelos belos e fortes contos que escreveu ao longo de uma sólida carreira literária, que inclui também excelentes ensaios, merece figurar entre os candidatos ao Nobel de Literatura de 2011. Menalton Braff: Manoel de Barros. Pela inventividade de sua poesia, que brota como erva, em toda parte, como a vida. Reynaldo Damazio: Hoje votaria sem titubear em Raduan Nassar (prosa) e Augusto de Campos (poesia), por serem reinventores críticos da língua e da imaginação. Rinaldo de Fernandes: Ronaldo Correia de Brito. Porque seu estilo literário, a sua frase, o emprego preciso das palavras têm um sentido de permanência extraordinário. Roniwalter Jatobá: Três, mas infelizmente fora do páreo porque já estão mortos: Machado de Assis, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. Tibor Moricz: De que me vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da outra, outra realidade menos morta, tanta mentira, tanta… Chico Buarque. Esse não é o país da piada pronta? Tony Monti: Se o critério para merecer o Nobel for uma obra vultosa e significativa, acho que o Ferreira Gullar poderia ser um candidato. Walther Moreira Santos: Se ainda estivesse vivo, Moacyr Scliar merecia figurar na lista de 2011, pelo caráter universal dos seus contos absolutamente impecáveis. Whisner Fraga: Paulo Coelho, por ser o escritor brasileiro de maior sucesso no exterior, o que mais vendeu e aquele cuja obra mais divide opiniões.