as janelas do tempo
nem sempre estão abertas
como os frutos.
O caminho se faz caminhando, é sabido; e mais certo do que as respostas, o que temos sempre à mão de semear são as perguntas que trazemos na algibeira; as sombras diárias que nos acompanham na senda até ao doce olvidar. Será que, com o passar dos anos, o peso de uma suposta sabedoria, as questões ficam mais claras, mais sólidas, mais assertivas e, por isso, as respostas, quando existem, desopilam o fígado e respiramos com mais serenidade? Os anos e os seus calendários corroboram a leveza no pisar o chão, ou pelo contrário, nos pesam as pernas e o seu caminhar?
Escrever um primeiro livro aos setenta e oito anos, é esse volume de reflexão sobre uma trajetória de vida, ou o nascimento revigorante para uma outra eternidade? Enxergamos com olhos mais desanuviados, no linear do texto que traz e traduz mundos; vemo-nos num espelho mais transparente?
E quanto de caminhar existe nas pernas de José Manuel Barroso; este Capitão de Abril, homem de luta e liberdade? Muitos quilómetros e quilómetros de histórias de vida, impossíveis de contar em poucas páginas ou palavras de um livro. Nas várias oportunidades em que estive com ele, fiquei tão absorto, que mal me apetecia abrir a boca, já que este homem, antes do poeta, desfia um rol de narrativas, umas atrás das outras; como se uma película de cinema se tratasse. Um cinema contado na primeira pessoa; um roteiro com a marca da verdade, uma história que se, de facto, fosse levada ao grande ecrã, inspiraria gerações (e bem precisamos destes testemunhos, cada vez mais, para que não esqueçamos os horrores da História).
Este caminhar está na sua poesia dita tardia; nos textos que desfolhamos fora do seu discurso verbal? Ou poesia e vida são ambas o mesmo? Na pele de leitor, que sou, não descortinei coincidências, mas sim um texto de elevada erudição, que cativa, envolve, e consagra José Manuel Barroso, como um poeta pronto.
Se ficares conto-te o meu sonho é um livro que já nasce maduro, mas que encerra em si a leveza, a frescura dos dias, e da linguagem. “Eu não sei a se poesia estava dentro de mim”, diz o poeta, “mas ela surgiu muito naturalmente (…) abriu uma janela (…) e apresentou-me um lado de mim que eu não conhecia”.
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