José Manuel Barroso

Ensaio fotográfico de José Manuel Barroso
Foto: Ozias Filho
01/09/2024

as janelas do tempo
nem sempre estão abertas
como os frutos.

O caminho se faz caminhando, é sabido; e mais certo do que as respostas, o que temos sempre à mão de semear são as perguntas que trazemos na algibeira; as sombras diárias que nos acompanham na senda até ao doce olvidar. Será que, com o passar dos anos, o peso de uma suposta sabedoria, as questões ficam mais claras, mais sólidas, mais assertivas e, por isso, as respostas, quando existem, desopilam o fígado e respiramos com mais serenidade? Os anos e os seus calendários corroboram a leveza no pisar o chão, ou pelo contrário, nos pesam as pernas e o seu caminhar?

Escrever um primeiro livro aos setenta e oito anos, é esse volume de reflexão sobre uma trajetória de vida, ou o nascimento revigorante para uma outra eternidade? Enxergamos com olhos mais desanuviados, no linear do texto que traz e traduz mundos; vemo-nos num espelho mais transparente?

E quanto de caminhar existe nas pernas de José Manuel Barroso; este Capitão de Abril, homem de luta e liberdade? Muitos quilómetros e quilómetros de histórias de vida, impossíveis de contar em poucas páginas ou palavras de um livro. Nas várias oportunidades em que estive com ele, fiquei tão absorto, que mal me apetecia abrir a boca, já que este homem, antes do poeta, desfia um rol de narrativas, umas atrás das outras; como se uma película de cinema se tratasse. Um cinema contado na primeira pessoa; um roteiro com a marca da verdade, uma história que se, de facto, fosse levada ao grande ecrã, inspiraria gerações (e bem precisamos destes testemunhos, cada vez mais, para que não esqueçamos os horrores da História).

Este caminhar está na sua poesia dita tardia; nos textos que desfolhamos fora do seu discurso verbal? Ou poesia e vida são ambas o mesmo? Na pele de leitor, que sou, não descortinei coincidências, mas sim um texto de elevada erudição, que cativa, envolve, e consagra José Manuel Barroso, como um poeta pronto.

Se ficares conto-te o meu sonho é um livro que já nasce maduro, mas que encerra em si a leveza, a frescura dos dias, e da linguagem. “Eu não sei a se poesia estava dentro de mim”, diz o poeta, “mas ela surgiu muito naturalmente (…) abriu uma janela (…) e apresentou-me um lado de mim que eu não conhecia”.

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

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Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho

Foto: Ozias Filho
José Manuel Barroso
Nasceu nos Açores (Portugal), em 1943. Jornalista em vários veículos de comunicação, dirigiu as agências noticiosas ANOP, NP e Lusa (da qual foi também presidente). Ganhou o Grande Prémio de Jornalismo do Clube Português de Imprensa. Serviu na Guiné, como capitão miliciano, tendo sido assessor de comunicação do general António de Spínola. Foi membro do Movimento das Forças Armadas (MFA) e publicou, Segredos de abril, sobre a Revolução de 1974. Foi condecorado pelo presidente da República, em 2021, com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade. Publicou o seu primeiro livro de poesia, Se ficares conto-te o meu sonho (Húmus), em 2022. Participou em diversos festivais de literatura. Em 2024, ganhou o Prémio de Conto da Aveiro Capital Portuguesa da Cultura. Publicou, em 2024, Monchique e outros poemas (On y va Editora).
Ozias Filho

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1962. É poeta, fotógrafo, jornalista e editor. Autor de Poemas do dilúvioPáginas despidas, O relógio avariado de DeusInsularesOs cavalos adoram maçãs e Insanos, estes dois últimos, em 2023). Como fotógrafo tem vários livros publicados e integrou a iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Publicou em 2022 o seu primeiro livro infantil, Confinados (com ilustrações de Nuno Azevedo). Vive em Portugal desde 1991.

Rascunho