a cidadela está no alto
em contra-plongée
ao suposto plongée no mar
e seus desníveis
flutuações bem dizeres
más edições de uma
película sem bula
no traste que trastevere
na canção do improviso (…)
O sertão já virou mar lá no coração poético de Demétrio Panarotto. Um mar revolto, que nunca está quieto e, por isso, uma só linguagem para dizer das histórias que quer contar, não basta. É preciso ampliar, se deixar levar pelas correntes da linguagem, não se limitar. É necessário ser com este mar, a intempérie constante, naufragar no excesso que avassala; permitir que palavras e mais palavras invadam este universo sem disciplina.
Neste sertão, escrever é subtrair; escrever é retirar o excesso; escrever é neologizar o que já habita sobre a terra e mares; é metamorfosear o homem, para que este transforme o texto, o contexto e, por fim, a visão. Escrever é a incompatibilidade em si mesma; uma revisão constante, inquieta, insatisfeita, neurótica. Escrever é, a um só tempo, a aceitação da linguagem e a sua negação; o seu nojo e o recorrente vômito; aquilo que vai gerar o novo.
Uma só forma de dizer não apraz, no léxico deste poeta, do sul do Brasil, e por isso, a poesia; e por isso também, a prosa, o cinema e, dentro deste, o cinema mais experimental; a música, a docência, e a liberdade constante de criar em mundos que gravitam à sua volta. A liberdade de transgredir; pois as leis, neste contexto, mais que violadas, existem para serem ultrapassadas, reordenadas.
O mar revolto, ou planta rasteira (favela), que sobe o morro, contra as provocações da linguagem, que circula nas veias deste poeta, talvez, num primeiro momento, provoque no leitor, apanhado nas redes da surpresa, o espanto primeiro da incompreensão, mas que, pelo contrário, não o afasta, mas sim o provoca, desperta a sua curiosidade; o desejo de se lançar às águas, ou de peregrinar no sertão sem fim.
O que se quer é aprender em como que se navega nestas águas, ou se caminha nas terras áridas, sem bússolas ou sextantes que nos guiem. O que se quer é apreender; ser com esta nova linguagem; submergir nela, para depois, neste batismo silencioso, emergir como Fênix; renascer das cinzas da linguagem, como leitor que também aprendeu a voar, como leitor que sabe construir cidades.
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