escrever é
resistir para
existir.
resistência
existência.
escrevistência. (…)
A palavra é uma arma. É lugar-comum afirmá-lo, e há razões mais do que suficientes para corroborar essa oração, já que vivemos num mundo que, desde sempre, é ungido pelo deus belicista. Desde o início da História vemos, com os olhos bem abertos e com as mãos quase sempre impotentes, uma sociedade que progride através da guerra e de suas ferramentas de destruição.
Toda a liberdade conquistada e visível — e que é frágil — deve-se às lutas sangrentas de um passado, seja recente ou não. A palavra é uma arma, sem dúvida: seja para atacar os adversários, seja para resistir aos mesmos ataques; seja para espalhar discursos de ódio; seja para elevar e conscientizar o melhor do ser humano. Na boca do escritor, preocupado com o seu tempo e com a justiça desses dias, a palavra é peremptoriamente sinônimo de resistência e resiliência.
E assim é para a escritora Cleidi Pereira, quando diz que a palavra, para ela, “estando no lugar de mãe, mulher, imigrante, no contexto político atual, pode ser uma arma, no sentido da defesa, ou pode ser algo que me conforte. Eu acho que ela tem esses múltiplos usos. Mas, pensando no sentido bélico, acredito que a palavra é um excelente instrumento para gerar desconforto, para nos fazer pensar.” A palavra não como arma, mas como um sapato apertado, que magoa, que incomoda.
Num de seus poemas, a escritora chega a usar o neologismo escrevistência, “um misto de escrever com resistir”, diz a poeta e ensaísta (responsável pela última entrevista ao torturador Brilhante Ustra, ex-chefe dos centros de tortura e assassinato de pessoas que se opunham à ditadura militar no Brasil). A palavra como resistência, mas não só: a nova palavra também sugere o direito a existir.
Na verdade, a arma que esta escritora assume assemelha-se mais a um escudo: de defesa, de proteção, de resistência, de contrapoder ao que está instituído, sedimentado e defeituoso na sociedade desses dias. Sem margem para dúvidas, a palavra é uma arma — e, de fato, somos seres bélicos. Talvez esteja mais que na hora de alterarmos esse paradigma, sem futuros risonhos à vista. É tempo de urdir a esperança, e ainda vamos a tempo de dizer que a palavra pode ser uma flor.

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