04.07.1984
Há dias Roberto Muggiati, da Manchete, me telefonou: quer reviver os tempos em que a revista, nos anos 50, tinha um grupo de cronistas que a sustentava: Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Henrique Pongetti. Muggiati me dizia que meu nome foi aclamado na redação como o que melhor retrataria a linguagem dos anos 80. Enquanto anoto isso vou pensando em escrever uma crônica exatamente estabelecendo o painel de uma época: talvez fosse interessante para criar teoricamente a distância entre os anos 50 e 80 e marcar meu espaço. Facilita, clareia melhor a coisa na cabeça dos editores.
Aceitei a ideia. Fui lá conversar. Carlos Heitor Cony e Muggiati me receberam muito bem. Preço: chegamos a 500 mil (mais uma passagem para Europa por ano: aprendi isso com Mino Carta). Depois disso, fiquei com um problema, porque o Nascimento Brito quer minha colaboração periódica no JB. E eu que amo esse jornal desde a adolescência, e lhe devo tanto, não posso aceitar, pois pagam uma miséria.
No dia em que fui à Manchete levar o meu primeiro artigo: Roberta Close e a nossa androginia política, ao sair de lá me senti como aquele adolescente de Minas Gerais quando lia os mestres da crônica naquela revista. Vim de carro pelo aterro, parei em Copacabana, fui à areia de Copacabana. Fazia uma tarde linda. E ali fiquei feliz olhando o mar.
Hoje sai o artigo na Manchete. Fui procurar um exemplar: como se fosse o meu primeiro artigo. Pouco depois, Muggiati me telefona se desculpando por duas modificações/censura que fizeram no meu texto:
1) onde eu dizia sobre nós/Roberta Close “democracia da cintura para cima e da cintura para baixo amorfa ditadura”, puseram em vez de “amorfa ditadura” a palavra “arbítrio”. Em vez de “senadores biônicos, que são eunucos sem lastro político”, puseram: “senadores biônicos que são homens sem lastro político”.
É o diabo. E Muggiati explica: os Bloch têm muitos amigos que são senadores biônicos. E a “Manchete antes de agradar ao público tem que agradar aos Bloch, que são complicados”.
Da editora Rocco me comunicam que a primeira edição de Política e paixão se esgotou em dez dias. Ótimo.
06.08.1984
Bom o lançamento de Que país é este?, Política e paixão e O canibalismo amoroso em Belo Horizonte. À noite, muita gente no lançamento. As “meninas” do “Madrigal Renascentista”, colegas de ontem e hoje. O Roberto Drummond deu-me boa cobertura na imprensa. Depois fomos à casa de Aluízio Pimenta, ex-reitor da UFMG no meu tempo. José Aparecido, secretário de Cultura de Tancredo, tem sido gentilíssimo comigo, patrocinou o lançamento, os convites, coquetel, etc. E ainda insistiu para eu ir assistir ao encontro de Tancredo e Montoro no próximo dia 9, quando eu voltar a Minas. Os dois governadores estão articulando a questão da “abertura” política. Mas há um problema que não sei resolver: as conferências que naquele dia devo fazer para médicos e senhoras, organizadas por Zulma Fróes.
18.01.1985
A Globo me chama. Querem que eu “entre para a casa”. Há tempos seria uma tentação (…) Releio coisas que escrevi antes da subida de Tancredo. A mudança política alterará minha poesia? Ainda outro dia conversando com Drummond, depois Rubem Braga e Fernando Sabino, que habitam esse espaço da “mundanidade” da vida literária concreta (não universitária), me pareceu ser esse um espaço mais instigante. Me dizia Rubem Braga, em sua casa, enquanto julgávamos um prêmio literário, que ele só lê o que gosta. Um luxo. Morri de inveja. Tenho que reler Machado, Alencar, Mário de Andrade, etc. Reler.
Hoje, entrevistei Adélia Prado na TV Manchete/Persona. Foi a pedido da Ângela Falcão que trabalha com o Roberto d’Ávila. Ângela foi minha aluna, aprendeu assim a gostar de Adélia, e vendo que Roberto não tinha muitos elementos para entrevistá-la, me chamou para ajudar.