Certa vez Rubem Braga me telefonou dizendo que tinha tirado uma foto de minha cobertura. Éramos vizinhos, uns quinhentos metros nos separavam. Aliás, sempre que vem alguém me visitar mostro o “sítio” que é/era a cobertura do Rubem. Mas surpreso fiquei quando ele me enviou a foto: Rubem a havia feito através de um espelho no seu quarto.
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Certa vez fui colega de Rubem Braga no conselho editorial da Francisco Alves. Anos 1970. Creio que Paulo Rocco, que trabalhou na Editora do Autor, é quem levou Rubem para lá. Eu às vezes vinha de carona no carro de Rubem, que um chofer dirigia. Esse chofer era também o “caixa” do cronista: às vezes ele pedia dinheiro ao chofer para pagar contas. Um dia Rubem me perguntou se não arranjava uma editora que relançasse seus livros e lhe desse algum dinheiro. Falei com Jiro Takahashi, da Ática, que teve a idéia de criar a coleção “Para gostar de ler”, que fez a cabeça de várias gerações. A coleção vendia igual água. Rubem estava lá.
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Certa vez sugeri o nome de Rubem como companheiro de júri em um concurso de poesia. Afinal, ele tinha aquela seção “A poesia é necessária” e era tido como o poeta da crônica. Além disso, era meu vizinho e a gente podia se reunir sem problemas. Discutindo com ele os nomes dos prováveis vencedores, Rubem me disse: “Sabe, eu só leio aquilo de que gosto!”. Morri de inveja. Dava ainda aulas na universidade e tinha que reler livros meio chatos, orientar teses, corrigir trabalhos de alunos.
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Certa vez fui à Praça General Osório, no Rio: havia ali um comício de Brizola, que voltara do exílio e batalhava para ser governador do estado. Na praça tomada pelo povo encontro Rubem, acompanhado pelo romancista chileno Jorge Edwards. Rubem o conhecera no Chile quando lá teve um cargo (simbólico) no nosso escritório comercial. O Chile vivia a ditadura, Edwards estava maravilhado com a nova democracia brasileira e fazia muitas perguntavas. Brizola falava, falava, falava. Depois, fomos tomar um uísque no apartamento de Rubem.
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Certa vez, no dia 23 de março de 1988, às dez horas da manhã, Rubem Braga insolitamente me telefona para dizer que Hélio Pellegrino havia morrido.
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Certo vez, em 1980, Rubem Braga me telefonou prevenindo-me de que ia mandar um livro de poesias suas, que acabara de ser lançado meio clandestinamente pela Edições Pirata, do Recife. Em 1993, Roberto (filho de Rubem com Zora Seljan) me pede para fazer a apresentação de Livro de versos. Era um livro curioso. Rubem, tão original nas crônicas, na poesia trazia ecos de Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes.
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Certa vez um restaurante me comunicou que poderia levar meia dúzia de amigos para celebrar meu aniversário. Convidei Rubem Braga, Moacir Werneck de Castro, Ziraldo e Doc Comparato. Boa comida e bom papo. E aí Rubem contou a estorinha da sua professora Violeta, que transformei em crônica.
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Certa vez convidaram a mim, Marina e alguns escritores para conhecer a célebre região de Carajás, no Pará. A viagem foi acidentadíssima: atrasos, perda de conexões, etc. Em síntese, vinte e quatro horas depois ainda estávamos em Brasília e haveria que ir a Belém, para depois pegar um pequeno avião até Carajás. Marina e eu desistimos, Rubem Braga prosseguiu.
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Certa vez, num telefonema, Fernando Sabino me contou que a Editora do Autor fora vendida porque Rubem Braga achava que a casa estava crescendo e dando muito trabalho. A idéia era outra: ter uma pequena editora por puro prazer.
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Certa vez, num congresso de literatura em Porto Alegre, viajei com Rubem Braga e Antonio Callado. O congresso parecia entediar Rubem, que preferia tomar uísque com os amigos. Um dia (Rubem escrevia às vezes sobre artes plásticas) ele me levou para visitar Stockinger. O escultor estava meio surdo, mas foi uma tarde bem tranqüila. Guardo um cinzeiro para aquelas e outras cinzas.
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Certa vez, na Bienal Nestlé de Literatura (SP, 1982), almocei várias vezes com Rubem Braga. Contou-me que foi colega de pensão de Graciliano Ramos. E que este vendia os capítulos de Vidas secas para o jornal argentino La Nación.
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Certa vez, em 1986, estive com Rubem Braga numa linda festa na casa de Tônia Carrero, que nos últimos anos tinha nos convidado várias vezes. Rubem parecia estar próximo da morte. Estava meio doente, cansado, chegou sem fôlego porque o carro do Fernando Sabino havia quebrado no caminho. O vi (pela TV) chorando no enterro do [Augusto] Ruschi.
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Certa vez, em dezembro de 1990, eu era presidente da Fundação Biblioteca Nacional quando chegou a notícia da morte de Rubem Braga. A maneira que encontramos de homenagear o cronista foi convidar Tônia Carrero e Paulo Autran para uma noite de leitura de suas crônicas. A escolha dos dois era mais do que apropriada. Os visitantes e amigos reunidos no hall de entrada da Biblioteca Nacional ouviram uma vez mais algumas de suas crônicas mais tocantes.