09.09.1983
O que que está havendo com este país, meu Deus!? Há mais de uma semana que ocorrem dezenas de ataques contra supermercados na Zona Norte do Rio. Seca braba no nordeste, não chove há cinco anos; inundação e geada no Sul; dívida externa de 120 bilhões de dólares; as reservas de ouro acabando; o ouro descoberto em dezenas de minas se esvai; rombos financeiros — o último foi da Brastel-Coroa — 400 bilhões de $. Todo dia estouram financeiras. A inflação que o governo diz ser de 150% ao ano é de 300%, pois a TV mostrou ontem que é nessa proporção que sobem os preços dos produtos básicos: legumes, carne, arroz e feijão.
E Figueiredo mudo e imbecil, sustentando a política do Delfim. Me disse meu irmão Carlos que está indo negociar petróleo lá fora, mas que tem que convencer os países a receber daqui a seis meses. Não há lastro, não há $ para o petróleo, não há credibilidade do povo no sistema.
Penso nos que estão no governo. Estão na merda. O curioso é que não sofrem oposição declarada, proibida, aquela oposição que JK e Getúlio sofreram.
09.01.1984
Este ano vai ser duro. Ainda hoje ouvi no rádio que um jornal nos EUA disse: “Ninguém deve investir no Brasil”. Primeiro, porque a economia está falida e não pagamos os juros da dívida; segundo, e isso é mais aterrador, porque há um golpe de extrema direita em andamento (Pus-me a imaginar ter que entrar de novo no inferno que vivi durante 20 anos. Me vi saindo deste país para sempre, imaginei-me resistindo, imaginei-me torturado, etc.)
Já não bastam os crimes na rua, as ameaças de uma guerra total, e agora o descalabro nacional, essa ameaça de nova ditadura!
01.04.1986
Convivendo com a inflação: sessenta milhões (ou 4 mil dólares — paralelo ou 5 mil dólares — oficial) para escrever as 30 páginas do livro brinde da Sul América. Seriam 40 milhões, mas de dezembro para cá, enquanto o livro não ficou pronto (por causa da inflação), sugeri uma correção monetária. Passaram sem titubear para 60 milhões. É o que ganho num ano inteiro no JB. Aliás o JB vai me conceder a passagem Rio-Madri-Grécia para a viagem com Marina.
21.07.1987
Estou ainda traumatizado com a situação brasileira. Esta semana a TV deu pela primeira vez: milhares de brasileiros estão indo viver no Canadá, Portugal e Itália.
10.02.1991
Os jornais estão narrando a toda hora os desmandos da mulher do presidente Collor: prepotência e interferência fisiológica na política, dentro e fora de Alagoas. Fico pensando num bom ensaio: Entre o Estado e a família analisando e o desejo dele de querer fazer uma politica arcaica ( sua familia) e a sociedade moderna — analisando a questão do pessoal/impessoal em política, aprofundando o que DaMatta colocou hoje no JB, quando analisou a escandalosa foto em que Moreira Franco, governador, recebe no Palácio Laranjeiras o comando do jogo do bicho/escolas de samba, dando assim, um aval à marginalidade. Eu deveria me referir “à família Vargas”, “família Sarney”, família dos “militares” durante a ditadura — mistura da coisa pública e privada.
Tenho a impressão de que Collor vive uma ambiguidade: a sociedade arcaica (sua família) e a sociedade moderna (sua intuição). De um lado a corrupção política em Alagoas e o grupo dos “sete amigos”, e o PC Farias; de outro, a equipe econômica e o desejo dele de querer fazer uma política de primeiro mundo.
Pensei até em mandar uma carta, através do embaixador Coimbra, analisando essa ambiguidade (que é da estrutura brasileira) e a necessidade de reforçar o outro lado sadio, caso contrário, cairá na mão dos retrógrados.
16.08.2005
Brasil: a situação no país: péssima, conforme os jornais e revistas brasileiras que lemos no avião. Duda Mendonça — que fez campanha de Lula — confessa que tem conta numa ilha das Caraibas, que a campanha de Lula foi feita com caixa dois. Dezenas de deputados petistas choram decepcionados com esta notícia. Lula, demogogiamente, faz um discurso ao país “pedindo desculpas”, o traíram.
A oposição comandada por FHC pensa em impeachment ou em como criticar Lula para que ele fique desgastado. Teme-se que o governo deposto caia na mão de Severino ou Renan Calheiros, pois o vice, José Alencar, foi eleito no mesmo esquema, portanto sabia disso.