E a literatura?

O escritor deve estar sempre combatendo, ou em posição de combate, pronto para a luta
Fernanda Montenegro, autora de “Prólogo, ato, epílogo”
28/01/2019

Ninguém tem dúvidas de que a literatura — no sentido mais abrangente possível — é um elemento de luta político-social, sobretudo quando o país se encontra num momento difícil, envolvido com censuras e injustiças sociais. O escritor deve estar sempre combatendo, ou em posição de combate, pronto para a luta.

Por isso, lancei neste espaço, mês passado, o meu Manifesto Brasil, em que convoco os escritores brasileiros a seguir o exemplo de Lima Barreto, o nosso combatente maior, que enfrentou as dores do século com o vigor de sua obra — Recordações do escrivão Isaías Caminha, à frente —, embora nem sempre tenha recebido a atenção devida dos estudiosos. Até por preconceito. Aliás, preconceito existe sempre.

Devemos estar sempre atentos sobretudo para enfrentar o poder. Atentos sempre às questões envolvendo mulheres, negros, gays, e todos, todos, todos. Da minha parte, publicarei, proximamente, pela Iluminuras, a novela Colégio de freiras, para denunciar o tratamento cruel que é dado às mulheres brasileiras pela sociedade conservadora, envolvendo, sobretudo, as jovens que perdiam a virgindade sendo empurradas para a marginalidade, merecendo, por isso mesmo, o isolamento social.

O grito de Fernanda Montenegro
Um dado alarmante: o artista — numa expressão geral — já recebe agora tratamento de marginal, com acusações levianas à Lei Rouanet. Por isso, a grande atriz Fernanda Montenegro teve que gritar — nós não somos bandidos! Aproveitamos este grito para entrar na luta sem descansar um único segundo, despertando para enfrentar todas as situações.

Este grito de Fernanda Montenegro — que se refere à Lei Rouanet — deve transformar na palavra de ordem da nossa. Fernanda não é só nossa principal e mais importante atriz, mas tem autoridade moral para gritar contra um governo que quer ofender e oprimir.

Não bastam as manifestações nem abaixo-assinados. É preciso transformar a própria obra em instrumentos de luta. Artigos, cartas, mensagens, livros, tudo pronto para o combate, sem restrições. Um combate pacífico, cada vez mais pacífico, sempre com a força das nossas palavras. Somos escritores para isso.

Este é um Governo estranho e esquisito. Embora escolhido pelo voto, pela expressão popular, se coloca como uma ditadura, em que o senhor presidente se comporta como alguém que tem o direito de enfrentar as questões político-sociais no grito. Ele, às vezes, comporta-se como um adolescente contrariado, ameaçando e soltando piadinhas. Na verdade, não tem sequer um projeto de Governo; com superministérios sem direção e sem orientação.

A literatura sempre estará aberta a muitos caminhos. Nenhum deles pode ser bloqueado, mas devemos nos voltar, preferencialmente, para aqueles sugeridos pela grandiosa obra de Lima Barreto, reiteramos. Viva a democracia!

Raimundo Carrero

É escritor. Autor, entre outros, de Seria uma noite sombria Minha alma é irmã de Deus. 

Rascunho