Em 1967, um júri integrado por Antônio Olinto, Jorge Amado e Guimarães Rosa deu ao romance Um nome para matar a segunda colocação do prêmio Walmap, o mais importante da época, sendo ainda um dos mais prestigiosos da literatura brasileira.
Não era um júri qualquer. Não era um prêmio qualquer. Nesse ano, o ganhador foi Jorge, um brasileiro, de Oswaldo França Júnior, que também não é um romance qualquer. Um nome para matar, de Maria Alice Barroso, não desmerece nem o júri, nem o prêmio, nem seu ilustre concorrente.
A história se passa em Para de Deus, cidade imaginária do norte fluminense, na fronteira de Minas. Para de Deus é um universo ficcional fechado, que Maria Alice explora em detalhes, não só neste como em outros livros.
A narrativa não é cronológica e mescla as vozes de diversas personagens. Este é o ponto onde Maria Alice atinge o ápice de sua arte: a construção das personagens.
Fiquemos com uma cena: após ficar viúva, Paula, mulher sexualmente insaciável, passa a freqüentar o terreiro da fazenda, à noite, onde tem encontros com os empregados. Numa dessas escapadas, encontra os próprios filhos, que formam uma barreira na porta da cozinha. Ela, então, sacando seu revólver com cabo de madrepérola, afirma que passara a infância dando satisfação aos pais, passara a vida de casada dando satisfação ao marido, mas naquele momento “queimaria” o filho que se interpusesse entre ela e a porta, para não ter que dar mais satisfação a ninguém.
O romance está ancorado em quatro grandes personagens masculinas, que representam quatro gerações de uma mesma linhagem e os quatro períodos da história da cidade. A primeira delas é Chico das Lavras, o fundador, misto de profeta e justiceiro, que descobre ouro, seguindo a indicação de Deus, e vence duelos milagrosamente, contra bandidos cruéis, ladrões de cavalos e raptores de mulheres.
O segundo homem da linhagem é o infeliz Zé Inácio, atormentado pelo amor incestuoso que teve com uma filha bastarda do pai, com o que atraiu uma maldição para a família.
O capitão Heleno é o terceiro deles. Filho bastardo de Zé Inácio, a quem não pôde chamar de pai durante a infância, começa a vida como um simples empregado nas propriedades paternas e acaba tomando tudo aos filhos legítimos, chegando a matar outros irmãos para garantir a posse de seis fazendas.
A quarta figura masculina é Oceano, filho de Heleno e Paula. É o primogênito, herdeiro da personalidade viril e autoritária do capitão Heleno. Oceano tem um ciúme doentio da mulher — Maria Corina, moça de temperamento livre, alegre e espontâneo.
Desde a noite de núpcias, Oceano tem convicção de que ela tem alma de prostituta. Excitado, põe a mulher na posição em que ficam as fêmeas dos animais; e pede a ela que lhe dê um nome, um nome para ele matar.
Na verdade, toda a articulação do texto converge para o conflito moral de Oceano: provar as supostas traições de Maria Corina. O livro começa e termina com a mesma cena: Oceano passando pelo centro da cidade, poucos momentos antes de anunciarem a ele o misterioso suicídio da mulher.
Um nome para matar foi publicado originalmente em 1967 pela editora Bloch. Teve também edições da Expressão e Cultura e da Record, já na década de 1980. Os preços podem variar de R$ 8 a R$ 25. Em bom estado, R$ 15 é um valor justo.