O atleta no mundo

Entrevista com Eduardo Gonçalves de Andrade
Tostão por Osvalter
01/07/2009

Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, nasceu em Belo Horizonte, em 1947. É considerado um dos maiores jogadores de futebol da história do esporte, tendo integrado a seleção brasileira vencedora do tricampeonato mundial de 1970. Começou sua carreira no América Mineiro, mas consagrou-se no Cruzeiro e, mais tarde, no Vasco da Gama. Abandonou os campos precocemente, aos 27 anos, devido às conseqüências de um descolamento de retina, e, formado pela UFMG, decidiu se dedicar à medicina. Atualmente é colunista de diversos jornais brasileiros, como Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Estado de Minas, Correio Braziliense, Gazeta do Povo (PR), Jornal da Tarde (BA), Diário de Pernambuco e O Povo (CE) — entre outros veículos com os quais esporadicamente colabora.

• Na infância, qual foi seu primeiro contato com a palavra escrita?
Fui alfabetizado aos sete anos. Hoje, os meninos, muito mais cedo, já sabem ler e utilizar o computador.

• De que forma a literatura apareceu na sua vida?
Depois dos sete, fui, aos poucos, lentamente, lendo algo do que aprendia na escola. Se não me engano, a partir dos 12 comecei a ler livros. As grandes lembranças que tenho são dos livros de Jorge Amado e de Hermann Hesse. Aos poucos, li quase tudo desses autores. Adorava suas obras. As de Hesse me influenciaram bastante. Hoje, sempre que posso, eu as releio.

• Hoje, que espaço a literatura ocupa no seu dia-a-dia?
Já houve épocas em que lia bem mais que hoje. Atualmente, fico muito envolvido com a leitura diária de jornais e revistas. E isso não é bom. Mesmo assim, estou quase sempre lendo algum romance. Acabei de ler o livro de Chico Buarque, Leite derramado. Gostei bastante. Nunca fui um leitor voraz. Sempre demorei para terminar um livro. Hoje, demoro muito mais.

• Tendo em vista sua área de atuação, a leitura e/ou a literatura influenciam seu método de trabalho?
Leio diariamente muitos jornais para ficar atualizado com o mundo e para obter mais informações que ajudem no meu trabalho de colunista de jornais. Acho que toda minha formação profissional, de jogador, de médico, de professor universitário, os cursos que fiz sobre psicologia e psicanálise e as minhas leituras de romances e livros sobre os mais variados assuntos, tudo isso, hoje, ajuda bastante no meu trabalho.

• Algum tipo de leitura pode aprimorar a técnica de um jogador de futebol? Como?
A técnica, não acredito. Mesmo os livros técnicos que falam sobre o futebol. Acho que a leitura, nos seus variados tipos, pode ajudar o atleta a se relacionar melhor com o mundo e com a sua profissão.

• Os atletas brasileiros de hoje costumam ler mais ou menos do que os de outras gerações?
Tenho a impressão de que os atletas de hoje se preocupam mais em ler e conhecer outros assuntos. Mas a maioria absoluta quase só lê livros de auto-ajuda. Detesto esse tipo de livro, mas reconheço que alguns podem influenciar positivamente os jogadores.

• Você possui uma rotina de leituras? Como escolhe os livros que lê?
Tenho uma rotina para escrever minhas colunas. Fora isso, principalmente no meu dia de folga, quando não tenho o compromisso de escrever e de enviar minhas crônicas, procuro ler. Não há nenhuma regra para isso. Leio baseado em informações de amigos ou mesmo de jornais.

• Você percebe na literatura uma função prática?
Não acho que a principal função do livro seja a prática. Muitas vezes, ele tem essa função. Mas vejo o livro, o romance, mais como uma forma de prazer.

• Que tipo de literatura lhe parece absolutamente imprestável?
Não gosto da literatura de auto-ajuda.

• Quais são seus livros e autores prediletos?
Nunca fui de diversificar bastante. Sempre gostei de ler os mesmos autores, como Hermann Hesse, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e poucos outros. Os melhores livros que li foram obras desses autores. Mas o que mais me marcou foi Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes. Hoje, gosto muito de ler cronistas, como Luis Fernando Verissimo, Carlos Heitor Cony e Luís Pondé, entre outros. Além de vários cronistas esportivos.

• Que personagem literário mais o acompanha vida afora?
Dom Quixote.

• Que livro os brasileiros deveriam ler urgentemente?
Não tenho essa pretensão de indicar livros.

• Como formar um leitor no Brasil?
É preciso estimular as crianças a ler desde cedo, e não apenas a ficar no computador. A criança precisa aprender a ler com prazer, sem a obrigação de aprender, o que inevitavelmente também vai acontecer.

Luís Henrique Pellanda

Nasceu em Curitiba (PR), em 1973. É escritor e jornalista, autor de diversos livros de contos e crônicas, como O macaco ornamental, Nós passaremos em branco, Asa de sereia, Detetive à deriva, A fada sem cabeça, Calma, estamos perdidos e Na barriga do lobo.

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