Laerte Coutinho nasceu em São Paulo, em 1951. Um dos maiores cartunistas do país, criou uma série de personagens fundamentais dos quadrinhos brasileiros, como os Piratas do Tietê, Hugo Barrachini, Gato e Gata, O Síndico, Overman, Fagundes, o puxa-saco, Suriá, Deus e dezenas de outros. Ao lado de outros grandes cartunistas, como Glauco, Angeli e Adão Iturrusgarai, assinou as histórias do famoso “bando” batizado de Los Três Amigos. Atua ou já trabalhou em publicações como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Pasquim, Gazeta Mercantil, Veja, IstoÉ, Placar, Chiclete com Banana, Circo e Geraldão. Nos anos 70, em parceria com o quadrinista Luiz Gê, fundou a revista cult Balão, na USP. Em 1990, passou a editar sua própria revista, a Piratas do Tietê, pela Circo Editorial. Laerte também tem um longo currículo de colaborações para a televisão, que inclui roteiros para programas como TV Pirata, TV Colosso, Sai de Baixo e o quadro Vida ao Vivo, exibido pelo Fantástico.
• Na infância, qual foi seu primeiro contato marcante com a palavra escrita?
O primeiro, primeiro, duvido que alguém lembre. Mas uma coisa de que me lembro — porque virou uma história conhecida na minha família — foi a palavra “hemorróidas”, que eu li num anúncio de Hemovirtus [uma pomada tradicional], no bonde. E que aprendi a escrever, inclusive de cabeça para baixo, para ser lida por alguém à minha frente.
• E a literatura? De que forma ela apareceu na sua vida?
Em casa sempre teve muito livro. Todo o Monteiro Lobato, além de uma vasta biblioteca de infantis, juvenis e adultos. Meus pais sempre nos estimularam a ler.
• Que espaço a literatura ocupa no seu dia-a-dia?
Não sei medir esse espaço objetivamente. Gosto muito de ler, e leio em geral à noite, antes de dormir. Quando o livro está muito interessante, ele ocupa partes do meu dia também.
• Quadrinhos também podem ser considerados como literatura?
Não. Quadrinhos são narrativas com imagens — para mim, isso é bem diferente de literatura, inclusive se considerarmos os livros com ilustração. É outra linguagem, como o cinema, o teatro, etc.
• Quais são seus livros e autores prediletos?
Pergunta difícil, porque isso muda com o tempo. Neste momento, meus autores preferidos são Margaret Atwood e J. M. Coetzee.
• Como você escolhe os livros que lê?
A escolha de livros pode se dar por meio de dicas de amigos, resenhas em jornais ou revistas, folheação em livrarias ou acertos com o passado (no caso dos livros que sempre quis ler ou reler).
• Você percebe na literatura uma função definida ou mesmo prática?
Não. Não vejo a literatura (e nenhuma forma de arte) como algo prático ou funcional.
• Como você reconhece a boa literatura?
Não sei responder. Nem sei se existe essa categoria — “boa literatura” — com contornos tão nítidos… Existe texto mal escrito, isso existe, e a gente os reconhece do mesmo modo que reconhece comida estragada.
• A literatura já lhe causou grandes prejuízos, decepções ou alegrias?
Alegrias e decepções, sim. Por que prejuízos? Um livro caríssimo, por exemplo? Ou a perda de um vôo causado pelo entretenimento com um livro?
• Que tipo de literatura lhe parece absolutamente imprestável?
“Absolutamente imprestável”, nenhuma.
• Que grande autor você nunca leu ou mesmo se recusa a ler?
Grandes, nos sentido de clássicos, não li muitíssimos! E não me recuso a ler nenhum. Grandes, no sentido de famosos, alguns. Paulo Coelho, por exemplo. E nem é uma recusa total — é mais uma falta de vontade. Já comecei a ler um dos primeiros dele, O alquimista, acho. Achei muito mal escrito e parei.
• Que personagem literário mais o acompanha vida afora?
Não sei dizer.
• Que livro os brasileiros deveriam ler urgentemente?
Todos.
• Como formar um leitor no Brasil?
Além do óbvio? Escola, biblioteca, etc.? Não sei.