Em novembro de 1976 ia para as bancas, com 40 páginas, o número 5 da revista O SACO, editada em Fortaleza (CE) por um grupo liderado por Manoel Raposo (1933), Jackson Sampaio (1941), Nilto Maciel (1945) e Carlos Emílio Correia Lima (1956). O número de colaborações de fora do estado ampliou-se, reforçando o caráter nacional da publicação, que, a esta altura, podia ser comprada nas bancas das principais capitais do país. O primeiro caderno, Prosa, além dos cearenses Manuel de Oliveira Paiva (1861-1892) [1], Fran Martins (1913-1996), José Domingos Alcântara e Heloneida Studart (1932-2007)[2], radicada no Rio de Janeiro, trazia contos do piauiense radicado em Fortaleza, Paulo Veras; do mineiro Antonio Barreto (1954)[3]; do maranhense radicado em Recife, Nagib Jorge Neto[4]; do catarinense Enéas Athanázio[5] (1935), e do fluminense Julio Cesar Monteiro Martins (1956). No caderno Verso, saíram poemas dos cearenses Juvenal Galeno (1836-1931)[6], José Alcides Pinto (1923-2008) e Roberto Pontes (1944), do baiano Ildásio Tavares (1940)[7], do carioca Roberto Reis (1949), do piauiense Paulo Henrique do Couto Machado e de Pepe[8]. O caderno Imagem expôs desenhos de Maty Vitart Thaumaturgo e Bastico.
O caderno Anexo, que ao longo do tempo foi ganhando importância na revista, trazia entrevistas com o escritor piauiense Fontes Ibiapina (1921-1986)[9] e com o mineiro Murilo Rubião (1916-1991)[10]; a transcrição de uma mesa-redonda sobre psiquiatria[11]; um ensaio sobre as publicações de histórias em quadrinhos no Nordeste, assinado por Anchieta Fernandes (1939), um dos introdutores do concretismo e um dos pioneiros do poema-processo no Nordeste; uma resenha abordando três livros de poemas, assinada por Joaquim Branco (1940); um depoimento dos artesãos Carlos Alberto Falci Alves e Celene Sitônio Alves, ele mineiro, ela pernambucana, radicados em João Pessoa (PB); a reprodução de alguns adágios recolhidos pelo pesquisador Leonardo Mota (1891-1948), publicados originalmente no livro Violeiros do Norte (1925); e um interessantíssimo ensaio, As profecias na literatura popular do Nordeste, do professor Raymond Cantel, da Sorbonne.
Em dezembro de 1976, saía a penúltima edição de O Saco, o número 6, com contos dos cearenses Carlos Emílio Corrêa Lima (1956), Joyce Cavalcante (1949)[12], João Teixeira e José Helder de Souza (1931)[13]; o paulista Adelto Gonçalves[14] (1952); os mineiros Elias Fajardo[15] (1947) e Márcio Almeida[16] (1947); o piauiense-paranaense Reinoldo Atem[17] (1949); além de um fragmento do romance O cajueiro do Fagundes, do cearense Araripe Junior[18] (1848-1911), publicado inicialmente em capítulos no Jornal do Commercio, sob o título Um motim na aldeia, e só editado em livro em 1975. No caderno Verso, poemas dos cearenses Américo Facó (1885-1953)[19], Caetano Ximenes Aragão, Manoel Coelho Raposo, Luís Martins da Silva (1950), do carioca Mário de Oliveira (1938), do baiano Ruy Espinheira Filho[20] (1942), e do alagoano radicado em Recife (PE) Jaci Bezerra[21] (1944). E no caderno Imagem, desenhos de Tarcísio Afonso Garcia.
Nas 16 páginas do caderno Anexo encontramos a reprodução de duas corajosas cartas, uma Carta do escritor, da União Brasileira dos Escritores, e uma Mensagem aos sindicatos de jornalistas, da Associação Brasileira de Imprensa, ambas conclamando à defesa da liberdade de opinião e da democracia; a transcrição do editorial do número zero da revista Clã, datado de dezembro de 1946, ou seja exatamente 30 anos antes, assinado pelo poeta e crítico Antônio Girão Barroso (1914-1990); uma entrevista com o artista plástico Aldemir Martins, por Ricardo Alcântara; um ótimo ensaio de Ariano Suassuna sobre a Encantação de Guimarães Rosa; a continuação do Adagiário de Leonardo Mota; e a íntegra das intervenções no debate sobre os rumos da cultura nacional, realizado pelo Jornal da Semana, de Recife (PE), sob patrocínio da Secretaria de Educação de Pernambuco, e com apoio da Rádio Olinda e da Livro 7, que contou com participação do crítico literário Ivan Cavalcanti Proença, do romancista Antonio Torres, do jornalista Galeno de Freitas, do poeta Pedro Paulo de Sena Madureira e de vários escritores locais.
A última edição
Finalmente, em fevereiro de 1977, dez meses após o lançamento de número inaugural, O Saco chegava às bancas pela última vez[22], num total de 32 páginas. No caderno Prosa, contos de Papi Junior[23] (1854-1934), um carioca radicado em Fortaleza, e dos cearenses Nilto Maciel (1947), Marcondes Rosa (1943), Fernanda Gurgel do Amaral e Antonio Girão Barroso; do gaúcho Rogério Raupp Ruschel; do carioca Luiz Paiva de Castro[24] (1932); e do baiano Naomar de Almeida Filho[25]. O caderno Verso trazia poemas do baiano radicado em Fortaleza Demócrito Rocha (1943)[26]; da paraense radicada no Rio de Janeiro Olga Savary[27] (1933); do gaúcho Luiz Coronel (1941)[28]; dos cearenses Jackson Sampaio e Yeda Estergilda (1943); do baiano radicado em Goiânia Aidenor Aires Pereira[29] (1940). No caderno Imagem, desenhos de Humberto Magalhães.
O caderno Anexo trouxe, em seu último número, ensaios do romancista piauiense O. G. Rego de Carvalho[30] (1930), no qual defende a existência de uma relação intrínseca entre arte e loucura; de Carlos Emilio Corrêa Lima sobre a “antipoesia de João Cabral de Melo Neto”; de Carlos d’Alge sobre “literatura africana de língua portuguesa hoje”; e do músico Walter Smetak. E ainda um depoimento do escritor mineiro Roberto Drummond[31] (1933-2002), um ensaio etnopsicanalítico de Nise da Silveira e uma relação de livros publicados.
Notas
[1] Oliveira Paiva é hoje conhecido unicamente devido aos esforços da crítica e ensaísta Lúcia Miguel-Pereira em localizar e editar os originais de seus dois únicos livros, os romances Dona Guidinha do Poço, escrito em 1892 e publicado em 1952, e A Afilhada, de 1889, publicado em 1961. Alguns de seus contos também saíram em livro, em 1976. Há uma excelente edição de suas obras completas, reunidas pela Editora Graphia, do Rio de Janeiro, em 1993.
[2] Jornalista, pioneira na defesa dos direitos da mulher, Heloneida Studar envolveu-se também com a política, tendo sido eleita deputada estadual e federal, logo após a queda do regime militar. Como escritora, publicou romances, como Dize-me teu nome (1957) e O pardal é um pássaro azul (1976); ensaios, como Mulher objeto de cama e mesa (1974); teatro, como Homem não entra (1983); e reportagens, como China, o Nordeste que deu certo (1977).
[3] Escritor premiadíssimo, tanto nacional quanto internacionalmente, Antonio Barreto tem obras publicadas em diversos gêneros, como conto, romance, poesia, crônica e literatura infanto-juvenil.
[4] Jornalista e escritor, publicou na década de 1970 as coletâneas de contos O presidente de esporas (1972), As três princesas perderam o encanto na boca da noite (1976) e O cordeiro zomba do lobo (1979), e, mais recentemente, o romance A fantasia da redenção (2002).
[5] Autor de extensíssima obra, nos mais diversos gêneros, estreou em 1973 com o livro de contos O peão negro.
[6] O livro de poemas de Juvenal Galeno, Prelúdios poéticos, é considerado o marco inaugural da literatura cearense. Abolicionista e republicano, ingressou na política para melhor defender suas idéias. É também considerado o pioneiro do estudo do folclore no Nordeste.
[7] Poeta com mais de uma dezena de títulos publicados, Ildásio Tavares também tem incursões pela prosa de ficção, teatro, crítica e cinema.
[8] Nota da revista: “Não nos deu o nome completo. Não nos deu dados biográficos. Não nos deu fotografia. Completamente anônimo” (p. 5)
[9] Fontes Ibiapina produziu uma extensa obra: 17 livros publicados e mais 16 inéditos, entre contos, romances, teatro e estudos sobre folclore.
[10] Murilo Rubião lançou apenas sete coletâneas de contos, ainda assim, na maioria delas, com textos reeditados, após serem reescritos, coisa que fazia com obsessão. Estreando em 1947, com O Ex-Mágico, em 1974 foi resgatado do limbo, com a publicação de três livros: O pirotécnico Zacarias, A Casa do Girassol Vermelho e O convidado. O primeiro destes títulos foi lançado numa edição de 30 mil exemplares…
[11] Esses textos sobre psiquiatria, recorrentes em quase todos os números da revista, deviam provocar uma certa estranheza nos leitores, porque, assim como o caderno Imagem, fraquíssimo, destoava das preocupações essencialmente literárias de O Saco…
[12] Na época, ainda morando em Fortaleza. A partir de 1978, radicou-se em São Paulo, onde construiu sua carreira de romancista (Inimigas íntimas, de 1993) e contista (O discurso da mulher absurda, de 1985).
[13] Poeta, contista, romancista e crítico literário radicado em Brasília.
[14] Embora tenha estreado na literatura como ficcionista (Mariela Morta, contos, de 1977 e Os vira-latas da madrugada, romance, de 1980), Adelto Gonçalves consolidou seu nome como ensaista, a partir da publicação de Gonzaga, um poeta do Iluminismo, de 1999.
[15] Além de diversos livros com temas ligados ao mundo do trabalho e à ecologia, Elias Fajardo é ficcionista (Carnaval sem quarta-feira e Na passarela da vida). Ultimamente, vem se dedicando também às artes plásticas.
[16] Jornalista, poeta, contista e autor de literatura infantil e juvenil, tem mais de 30 livros publicados.
[17] Publicitário, mora em Curitiba desde os quatro anos de idade. Poeta bastante atuante na década de 1970, foi responsável pela criação da Editora Cooperativa de Escritores.
[18] Araripe Junior, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, iniciou sua carreira em 1868 como ficcionista, mas a partir de 1882 passou a dedicar-se exclusivamente ao ensaio, gênero no qual se tornou célebre.
[19] Poeta, em 1911 radicou-se no Rio de Janeiro, onde esteve à frente de diversos órgãos de divulgação da literatura. Publicou em 1951, Poesia perdida, reunião de sua obra dispersa.
[20] Um dos mais importantes poetas contemporâneos (v. Poesia Reunida e Inéditos, de 1998), tem ainda incursões na prosa de ficção, na literatura infanto-juvenil e no ensaio.
[21] Poeta, destacou-se pelo seu trabalho de editor, seja à frente da Editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco, seja pela criação, em 1979, do selo Edições Pirata, que, durante seus seis anos de atividades, publicou mais de duas centenas de escritores.
[22] Nos anos 1980 ainda circulou mais um número de O Saco, que, segundo Nilto Maciel, foi impresso por “por conta e risco” de Manoel Coelho Raposo “sem a participação dos outros fundadores da revista”, e que, portanto, não faz parte da história da revista.
[23] Epígono do naturalismo, publicou contos e romances, com destaque para O Simas, de 1898.
[24] Autor prolífico, publicou dezenas de livros de poemas, romances, contos, teatro, psicanálise e literatura infantil e juvenil.
[25] Médico, chegou a reitor da Universidade Federal da Bahia, onde leciona. Embora hoje dedique-se aos livros de saúde (epidemiologia, que é sua especialidade) e educação, publicou, na década de 1970, dois livros de ficção, Histórias de Objetos, em 1976, e o romance Ernesto Cão, em 1978, este, dentro da revolucionária coleção Autores Brasileiros, mantida pela Editora Ática, de São Paulo, e dirigida por Jiro Takahashi. É um dos criadores do movimento Universidade Nova.
[26] Jornalista e poeta, Demócrito Rocha é fundador do diário “O Povo”, de Fortaleza, e do órgão literário modernista Maracajá.
[27] Olga Savary destaca-se no cenário literário brasileiro principalmente como poeta (Repertório selvagem, de 1998, é uma reunião de sua obra) e tradutora, particularmente de autores hispano-americanos e de haicaístas, mas também publicou contos e ensaios.
[28] Poeta e compositor de viés tradicionalista.
[29] V. Seleta poética, publicada em 2005.
[30] V. Ficção reunida, de 2001.
[31] Destacam-se, entre seus livros, os contos de A morte de D. J. em Paris (1975) e Quando fui morto em Cuba (1982) e os romances Sangue de Coca-Cola (1980) e Hilda Furacão (1991).