As obras de B. Traven (2)

B. Traven produziu um conjunto não muito grande, porém impressionante de obras de repercussão mundial
B. Traven por Ramon Muniz
01/08/2024

B. Traven, pseudônimo do escritor alemão ainda hoje de identidade incerta, produziu um conjunto não muito grande, porém impressionante de obras de repercussão mundial. Na coluna anterior, referi O navio da morte, que Celso Queiroz e eu escolhemos para inaugurar a coleção de clássicos a ser editada pelo selo literário Quimera. Agora, continuo a apresentar, em ordem cronológica, a lista de suas obras, embora a maioria delas ainda não tenha sido traduzida para o português.

Os catadores de algodão
O mesmo Gerard Gales, protagonista de O navio da morte, surge agora no México pós-revolucionário da década de 1920, em busca de qualquer emprego que lhe permita sobreviver e seguir para rincões cada vez mais distantes da “civilização” que, quanto mais conhece, menos julga digna do nome.

O tema central do livro são as contradições do trabalho, reveladas nas suas andanças pelo interior do país, as quais testemunham opressão racial, exploração patronal, greves e o surgimento dos primeiros sindicatos, assim como os expedientes utilizados pelos pobres para resistir às péssimas condições de vida.

A primeira edição em alemão, Die Baumwollpflücker, apareceu em fascículos no diário Vorwärts em junho e julho de 1925. Reescrito por Traven para a forma de livro, o folhetim recebeu o título de Der Wobbly, tendo sido publicado por Buchmeister Verlag, em Berlim, em1926. Traven, porém, não se satisfez com essa versão e trabalhou no livro até 1929, quando publica a sua versão final, desta vez retomando o seu título original.

A primeira edição em inglês sai apenas em 1956; em espanhol ainda depois, em 1968, com o título de Salário amargo. No Brasil, a primeira tradução, feita diretamente do original alemão por Érica Gonçalves Ignacio de Castro, saiu agora como segundo volume a integrar a coleção do selo literário Quimera.

O tesouro da Sierra Madre
O terceiro livro de B. Traven conta o encontro de três aventureiros na corrida do ouro do México, e explora tanto os efeitos degradantes dessa espécie de febre demoníaca sobre o caráter de cada um deles, como a devastação econômica e cultural do ambiente e da forma de vida dos indígenas.

A primeira edição em alemão, Der Schatz Der Sierra Madre, saiu em Berlim, pela Büchergilde Gutenberg, em 1927. A primeira edição em inglês, The treasure of the Sierra Madre, saiu em Londres, pela Chatto & Windus, em 1934. No ano seguinte, saiu a primeira edição norte-americana, em Nova York, pela Alfred A. Knopf. A primeira edição em espanhol, Tesoro en la Sierra Madre, foi traduzida por Esperanza López Mateos, amiga, agente e tradutora de B. Traven, saindo pelas Editiones Estela, em 1946.

A adaptação cinematográfica do romance, por John Houston, de 1947, foi protagonizada por Humphrey Bogart, Walter Houston e Tim Holt, e recebeu três Oscar, o que deu um novo patamar de popularidade para a obra de B. Traven, expandindo-a para o mundo todo.

Der Busch [A mata]
O lançamento seguinte de B. Traven foi uma coletânea de contos intitulada Der Busch, que saiu em 1928, contendo inicialmente doze contos. Como serviço para os leitores que desejarem conhecer toda a extensão dos contos de B. Traven, gênero em que demonstra grande maestria, segue-se aqui uma discriminação deles, a partir do original alemão. São eles: Die Auferweckung eines Toten; Indianertanz in der Dschungel; Die Geburt eines Gottes; Die Geschichte einer Bombe; Die Dynamitpatrone; Die Wohlfahrtseinrichtung; Der Wachtposten; Familienehre; Der Eselskauf; Ein Hundegeschäft; Die Medizin; Der Nachtbefuch im Busch. Numa segunda edição alemã, de 1930, acrescentaram-se oito contos: Der Aufgefangene Blitz; Spießgesellen; Der ausgewanderte; Diplomaten; Bändigung; Der Grossindustrielle; Der Banditendoktor; Indianerbekehrung.

No México, vários desses contos saíram em Canasta de cuentos mexicanos, traduzidos do inglês por Rosa Elena Luján, em 1956, e em Cuentos de B. Traven (México, Editorial Diana, 1958). A coletânea norte-americana, The night visitor and other stories, não o original alemão, foi utilizada para duas traduções brasileiras: O visitante e outras histórias, com tradução de Cláudio Ribeiro de Castro (Rio de Janeiro, Dinal, 1966), e O visitante noturno, que junta duas novelas de tempos diversos, O visitante noturno e Macário, desta vez traduzidas por Luciano Machado (São Paulo, Conrad, 2008).

Em termos gerais, Der Busch é composta de narrativas que ressaltam a empreitada colonialista truculenta dos norte-americanos no México, contraposta às lendas e formas de pensar igualitárias dos indígenas.

Há vários outros contos dispersos, e ainda inéditos, de B. Traven, além dos tantos que escreveu Ret Marut, outro pseudônimo usado por ele, ainda na Alemanha, nos anos entre 1912 e 1919.

A ponte na selva
B.Traven conta, aqui, um episódio ocorrido no México, onde uma ponte precária foi construída sobre um rio próximo a uma aldeia indígena a fim de permitir o acesso de caminhões das petroleiras norte-americanas que avançavam sobre as matas do lugar. Resulta daí o desaparecimento de uma criança e uma sucessão impactante de eventos de um ritual fúnebre.

A primeira edição alemã de Die Brücke im Dschungel foi uma novela originalmente publicada, como Os catadores de algodão, na forma de fascículos no diário berlinense Vorwärts, em 1927. A primeira versão em livro foi publicada pela Büchergilde Gutenberg em 1929, e depois, em Zurique, em 1933. Em espanhol a primeira publicação deu-se em Buenos Aires, em 1936, pelas Ediciones Imán. A primeira edição em inglês, The bridge in the jungle, é uma tradução do próprio Traven, alterada e ampliada por Bernard Smith, como já expliquei na coluna anterior, e saiu pela editora novaiorquina Alfred A. Knopf, em 1938.

Existem duas traduções brasileiras, com pequena variação nos títulos: A ponte nas selvas, que foi traduzida diretamente do alemão por Huberto A. Schoenfeldt e Gustavo Nonnenberg (São Paulo: Editora Assunção Limitada, 1948); e Uma ponte na selva, traduzida do inglês por Isa Mara Lando (São Paulo: Brasiliense, 1986).

A rosa branca
Este romance, que provavelmente inspirou o nome do movimento de resistência ao nazismo entre jovens católicos alemães, trata, mais uma vez, do ataque das companhias petrolíferas às comunidades indígenas que são proprietárias das terras onde se encontram localizadas as jazidas.

A primeira publicação alemã, Die Weisse Rose, saiu pela Büchergilde Gutenberg, em 1929. A primeira edição em espanhol aparece apenas em 1940, no México; a primeira em inglês, traduzida, em colaboração, pelo próprio Traven, é de 1965.

Há uma tradução brasileira, curiosamente intitulada Ouro negro, feita por Gustavo Nonnenberg e Huberto Schoenfeldt, saída em São Paulo, pela editora Flama, em 1946.

Em 1961, baseado no romance, foi lançado o filme mexicano Rosa blanca, dirigido por Roberto Gavaldón, e estrelado por Ignacio López Tarso, o mais célebre ator da chamada “época de ouro” do cinema mexicano.

Alcir Pécora

Crítico literário, é autor de Teatro do Sacramento (1994); Máquina de gêneros (2001) e Rudimentos da vida coletiva (2002). É organizador de A arte de morrer (1994), Escritos históricos e políticos do Padre Vieira (1995), Sermões I e II (2000-2001); As excelências do governador (2002); Lembranças do presente (2006); Índice das coisas mais notáveis (2010); Por que ler Hilda Hilst (2010). Editou as obras completas de Hilda Hilst (2001-2008), Roberto Piva (2005-2008) e Plínio Marcos (2017).

Rascunho