🔓 Pornografia

Em meio à desgraça social e econômica, o Brasil ganhou mais 33 novos bilionários, que, com outros 205 afortunados, detêm uma fortuna de R$ 1,6 trilhão
Ilustração: FP Rodrigues
09/10/2020

(09/10/20)

Este é um país curioso… 2020 vai de vento em popa rumo ao desastre completo: o PIB deve fechar com uma queda histórica entre 5,5% e 6% e o desemprego deve alcançar 18%, ampliando ainda mais a desigualdade social. Ao mesmo tempo, o Brasil ganhou, durante a pandemia, 33 novos bilionários, que agora somam um total de 238 empresários a constar do ranking da revista Forbes. Juntos, eles detêm uma fortuna equivalente a 1,6 trilhão de reais — só para termos uma ideia, o nosso PIB em 2019 fechou em 7,3 trilhões de reais. Isso mesmo, caro leitor, essas 238 pessoas sozinhas detêm cerca de 22% da riqueza nacional, a maior parte dela conquistada no mercado financeiro… E aí, eu pergunto: Será que este fim de semana vai dar praia?

Luz na escuridão
Fernando Bonassi, ficcionista, dramaturgo, cineasta: “Acabei de fazer a última revisão de um romance, Degeneração. Sai pela Record no primeiro semestre de 2021. Narra as dificuldades e peripécias do filho de um informante da polícia (um “torturador de subúrbio”, a bem dizer), para a liberação do corpo do pai para cremação — o que se passa em pouco menos 48 horas, no final de semana em que foi realizado o segundo turno da mais recente eleição presidencial. Um livro sobre linchamentos e autodestruição…”

Parachoque de caminhão
“Somos todos iguais quando estamos na merda”.
Romain Gary (1914-1980)

Antologia pessoal da poesia brasileira
Augusto dos Anjos
(Sapé, PB, 1884 – Leopoldina, MG, 1914)

Ricordanza della mia gioventú

A minha ama-de-leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me dava.
Sinhá-Mocinha, minha Mãe, ralhava…
Via naquilo a minha própria ruína!

Minha ama, então, hipócrita, afetava
Susceptibilidade de menina:
“— Não, não fora ela! — “ E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.

Vejo, entretanto, agora, em minha cama,
Que a mim somente cabe o furto feito…
Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha…

Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha!

(Eu, 1912)

Luiz Ruffato

Publicou diversos livros, entre eles Inferno provisório, De mim já nem se lembra, Flores artificiais, Estive em Lisboa e lembrei de você, Eles eram muitos cavalos, A cidade dorme e O verão tardio, todos lançados pela Companhia das Letras. Suas obras ganharam os prêmios APCA, Jabuti, Machado de Assis e Casa de las Américas, e foram publicadas em quinze países. Em 2016, foi agraciado com o prêmio Hermann Hesse, na Alemanha. O antigo futuro é o seu mais recente romance. Atualmente, vive em Cataguases (MG).

Rascunho