A Record segue com o projeto de reedição da obra de Carlos Drummond de Andrade e lança mais três títulos do poeta: Boitempo I: Menino antigo, Boitempo II: Esquecer para lembrar e O poder ultrajovem. Como nas demais reedições, o títulos vêm ganhando novo projeto gráfico e novos textos de apoio, como prefácios.
As obras também trazem uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação de cada uma, que dá pequena amostra dos contextos político, social e cultural da época. Bibliografias e cronologias completas e outras informações podem ser acessadas por meio do código QR na quarta capa de cada volume
Espécie de autobiografia em forma de poesia, a série Boitempo foi publicada em três partes, em 1968, 1973 e 1979, e depois reorganizada pelo poeta em dois livros. Em Boitempo I: menino antigo, Carlos Drummond de Andrade revisita o passado e recorda a infância em Itabira, registrando também suas impressões sobre o país de essência escravagista e predatória.
“Boitempo” foi o amálgama perfeito que encontrou para definir sua origem híbrida, rural e de certa forma aristocrática, já que o boi, para ele, era um animal mágico fundamental, sempre a ruminar os mistérios que o nutriam: “o fubá da vida” moído pelo tempo, bem como suas primeiras letras e até a suspeita de que o próprio amor seria, talvez, “um espetáculo / oferecido às vacas / que não olham e pastam”.
No posfácio, o artista plástico Carlos Bracher fala da convivência e de sua admiração pelo poeta. “Em mim, Drummond é praticamente o que sou e assentou-se em poesia, cor e mineiridade, desde meus primórdios juvenis, quando sua figura alteou-se em dádivas às várias gerações. Drummond corporificou o país, na mais alta voz cívica, intelectual e literária, nos livros, jornais e embates, uma liderança inconteste traduzida em dignidade, coerência e liberdade.”
Já em Boitempo II, Drummond se afasta da infância rural, deixando a casa paterna para ir à escola, ingressando em um mundo novo, do progresso. De repente se vê moço e solto em Belo Horizonte, onde se forma em Farmácia, e começa a escrever: “Fazer./ É preciso fazer alguma coisa/ que pelo menos risque um círculo/ efêmero na água morta da cidade.”
“Drummond é um notável contador de histórias. O enredo de um poema pode, por vezes, desdobrar algo de sua trama em outro poema, seja para esclarecer um ponto de vista, ou para fornecer informação nova sobre o episódio narrado”, escreve a historiadora Heloisa Murgel Starling no posfácio.
A versatilidade de Carlos Drummond de Andrade fica mais que evidente em O poder ultrajovem, reunião de 77 textos publicados na imprensa no final da década de 1960 e início da década de 1970. Publicado originalmente em 1972, este livro mostra a enorme pluralidade e incrível capacidade criativa de Drummond também na prosa. Transitando com desenvoltura pela crônica, pelo conto e, claro, pela poesia, o escritor muitas vezes mistura tudo, borrando as fronteiras dos gêneros literários.
“É com uma abertura rara que ele encara as mudanças, falando sobre elas com generosidade e candura, sem nunca perder certo rigor especulativo. Embora afirme, lá pelas tantas, que ‘Na minha idade a gente torna o passado um palco imenso e rutilante, e amesquinha o presente, que para os jovens é um território sem limites’, a mesquinharia passa longe deste livro”, escreve o cronista Antonio Prata no posfácio.