Nos 15 contos que compõem Depois será tarde, Luciana Annunziata capta o instante em que a vida cotidiana, acossada pela entropia implacável, descamba “pelas pirambeiras da morte”. Como em A estação das moscas, onde a narradora, abandonada aos poucos pelo marido, que prefere a companhia de literatura russa, passa os dias trepada numa mangueira. Já em Algo sobre as plantas, o protagonista só se aproxima do pai pela ausência. O instante em que a morte se intromete na vida é flagrado em espaços confinados, do congelador à fazenda, passando por apartamentos e condomínios. Aqui a morte se sente tanto nos embates psicológicos quanto nos sociais — da incomunicabilidade entre indivíduos ao choque entre classes. E, embora paire por estas narrativas uma ameaça de terror, a escrita é embalada em ironia.