Vencedor do Prêmio Cálamo, um dos prêmios literários mais importantes da Espanha, na categoria “Livro do Ano 2021” (escolhido por votação dos leitores), A tirania das moscas, da cubana Elaine Vilar Madruga, constrói uma fábula insólita, com toques de realismo mágico, humor macabro e grotesco e um certo lirismo para falar dos horrores do autoritarismo e da opressão em todos os níveis, do coletivo ao individual.
O livro conta com capítulos inteiros escritos em falas tensas, sarcásticas, em que o clima disfuncional da relação entre pais e filhos se torna palpável. A edição brasileira conta com prefácio da escritora Cristina Morales, editora do livro original.
A história se passa em um pequeno país excessivamente quente, infestado de moscas, comandado pelo General Bigode. Ali mora uma família disfuncional, a começar pelos pais: um militar gago detentor de incontáveis medalhas pelos serviços prestados à pátria e uma mulher traumatizada por uma tragédia familiar que encontrou no casamento com um homem poderoso a chance de uma vida mais confortável, ainda que a maternidade lhe fosse custosa e insuportável.
Da união do casal vieram três filhos: Cassandra, a mais velha, jovem perspicaz e manipuladora, sexualmente atraída por objetos, sobretudo enferrujados (e também a narradora do livro); Caleb, o do meio, possuidor de um dom incomum e mórbido; e Calia, a caçula, que se recusa a falar e desenha animais hiper-realistas com talento excepcional.
O pai, após ter sido acusado de traição e afastado do governo, instaura uma violenta autocracia na própria casa, obrigando os filhos, que viviam em discórdia, a se unir contra a intransigência paterna e a alienação materna. Em ritmo veloz, a narrativa dispara rumo a um desfecho inesperado.