Considerado um dos principais contistas da literatura latino-americana, Julio Ramón Ribeyro (1929-1994) forma, com Mario Vargas Llosa e Alfredo Bryce Echenique, o trio de principais prosadores do Peru no século xx. No entanto, Ribeyro, um eterno tímido e amante da solidão, se via como uma exceção nesse panorama. “Entendo que me distancio da narrativa épica de outros autores latino- americanos que escrevem sobre os grandes conflitos sociais”, disse numa entrevista. “Creio que mostro uma faceta pouco conhecida, porém real, da vida cotidiana.”
Esse estilo delicado se encontra em sua expressão mais madura na coletânea de contos Ausente por tempo indeterminado, lançado pela Carambaia, com tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht, e posfácio do chileno Alejandro Zambra.
A versão original peruana, de 1987, desta coletânea agora lançada pela CARAMBAIA tem o título Solo para fumadores, como o conto que abre o volume. Em 2007, foi publicada no Brasil uma antologia de Ribeyro sob o mesmo título, porém composta de uma seleção distinta de contos.
A linguagem sem sobressaltos une temas diversos nas histórias do livro. No conto-título, um escritor tenta prosseguir a feitura de um romance ao se afastar da vida boêmia em Lima. O autobiográfico Só para fumantes é um relato tragicômico do vício do tabagismo, seus prazeres e horrores.
Em Chá literário, um grupo de senhoras discute os atributos literários de um jovem autor. Já emA solução, um escritor especula sobre diferentes composições para uma história de adultério. Cena de caça esconde em suas descrições suaves acontecimentos intrigantes. A aproximação com o fantástico também se encontra em Nuit caprense cirius illuminata, uma insólita história de amor. Já “Conversa na praça”, é um diálogo beckettiano entre um homem de “intuições geniais” e seu amigo gozador. E “A casa na praia” narra a difícil busca de isolamento de dois artistas.
“Sou um escritor de fragmentos”, disse Ribeyro numa entrevista. Sobre isso, Zambra observa no posfácio: “Mais que uma vida organizada em etapas e derrotas parciais, Ribeyro invoca a cada dia um destino duvidoso”.
Trajetória
Julio Ramón Ribeyro, que começou a publicar contos avulsos em 1948, aos 19 anos, nasceu em Lima em uma família aristocrática empobrecida — não por acaso, o ambiente em que se passam muitas de suas histórias, notadamente nos romances Crónica de San Gabriel (1960) e Los Geniecillos Dominicales (1965). Antes deles, o escritor já era conhecido pelos contos, sobretudo Os urubus sem penas (1955), título de sua primeira coletânea.
Por essa época, depois de se formar em literatura e direito, ele se mudou para a Espanha e em seguida para diversos lugares da Europa, exercendo trabalhos temporários. Por fim fixou-se na França, onde viveu durante a maior parte da vida, com breves retornos ao Peru. Em Paris, Ribeyro trabalhou como jornalista na agência France Presse e depois como adido cultural na embaixada do Peru.
Em 1973, casado e com um filho, foi operado para a extração de um tumor no pulmão causado pelo tabagismo, tendo se submetido a um longo tratamento – mas continuou a fumar. Nos anos 1980, Ribeyro teve uma alardeada discussão pública com Mario Vargas Llosa em torno dos planos de estatização do presidente Alán García.
Vargas Llosa o acusou de ser subserviente a todos os governos, com o objetivo de manter sua posição de conselheiro da unesco, embora reconhecendo seu talento literário. No ano de sua morte, 1994, Ribeyro recebeu o prestigioso prêmio Juan Rulfo, dedicado a escritores da América Latina e Caribe.
