Os livros vencedores do Prêmio Sesc de Literatura acabam de ganhar edição pela Record, parceria do projeto que em 2022 chegou à 20ª edição. Neste ano, a premiação foi vencida pelo paraense Pedro Augusto Baía e pela gaúcha Taiane Santi Martins.

Mikaia, romance de estreia de Taiane, narra, através da busca de Mikaia — uma bailarina que sofre uma amnésia repentina —, a história de três gerações de mulheres que viveram e fugiram da guerra civil moçambicana.

Narrado por múltiplas vozes, o livro joga com as diferentes maneiras de se lidar com um passado traumático, pois, enquanto a protagonista quer lembrar, sua irmã, Simi, quer esquecer e sua avó, Shaira, decide silenciar.

O desenrolar da trama se dá no embate entre as tentativas de Mikaia em recuperar um passado que lhe foi roubado, os retalhos de memória que lhe voltam confusos, e a resistência de Simi em renunciar a uma infância inventada e cultivada por vinte anos às custas do esquecimento.

Contos
Já o livro vencedor da categoria Contos, Corpos benzidos em metal pesado, de Pedro Augusto Baía, coloca em primeiro plano a questão ambiental em onze histórias curtas. O livro começou a ser escrito entre o 1º. e o 2º. turnos da eleição presidencial de 2018, quando a violência crescente no país se mostrava especialmente cruel na região norte.

Os protagonistas são uma vítima do garimpo, um imigrante da região Norte que é confundido com um boliviano na Europa, um repórter que investiga uma vítima quilombola, uma fotógrafa que sofre um ataque de pânico em uma cidade alagada, um massacre numa seção eleitoral dentro de uma aldeia indígena, um homem contaminado por metal pesado, entre outros.

Embora as histórias sejam repletas de conflitos e violência, são as relações de afeto, os elos que tecem a resistência, que se evidenciam, podendo conter tanta ternura e inocência como quando uma menina, no conto Carne de boi, sente vontade de perguntar ao irmão “como um rio limpinho consegue morar dentro de uma palavra tão pequena”.