A paulista Aline Bei guarda uma visão romântica da literatura. Ela começou a escrever por influência de amigos escritores quando estudava Letras na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
“eles tinham algo diferente, intocável. como se uma luz boiasse acima das cabeças dos poetas, uma espécie de segundo sol”, diz a autora, que escreve sempre em letras minúsculas. “foi o que me fez querer escrever.”
A inspiração dessa “aura” foi certeira. Logo em seu romance de estreia, O peso do pássaro morto, de 2017, Aline ganhou o prêmio São Paulo de Literatura e o prêmio Toca. Seu segundo livro, Pequena coreografia do adeus, está novamente entre os finalistas do Prêmio SP.
Aline segue alguns ritos na hora de criar. “gosto de escrever com Música e ler o texto em voz alta durante a criação. no fundo, minha obsessão é o ritmo.” E já se inspirou no bico do próprio seio (“de repente me pareceu um olho desesperado”) para criar sua prosa intimista.
• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
ao conhecer outros escritores e poetas na universidade de Letras
e perceber que escritores eram pessoas muito parecidas comigo: na idade, nos hábitos de comer pastel sexta à noite, nos medos. e ainda assim
tinham algo diferente, intocável. como se uma luz boiasse acima das cabeças dos poetas, uma espécie de segundo sol.
foi o que me fez querer escrever.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
gosto de escrever com Música e ler o texto em voz alta durante a criação. no fundo, minha obsessão é o ritmo.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
minha dose de Infância em Manoel de Barros.
• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Jair Bolsonaro, qual seria?
não há livro que mereça tal tortura.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
estar no meu canto com livros ao redor, música, anotações pelas paredes, colagens com corpos (im)possíveis para cada personagem e uma luz mais baixa, de abajur.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
o silêncio de algumas noites da minha infância.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
quando consigo encontrar uma imagem verdadeira.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
o momento em que o livro começa a encontrar sua linguagem, ou seja, o devir livro, pois a obra ainda está em mim, no entanto já está na folha.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
a vaidade.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
quando há uma mesa sem escuta do outro.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Letícia Bassit.
• Um livro imprescindível e um descartável.
O artista da fome/A construção, do Kafka.
(nunca li um livro descartável)
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
não escutar os seus Silêncios.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
não me coloco restrições desse tipo.
• Qual foi o lugar mais inusitado de onde tirou inspiração?
do bico do meu seio
que no espelho
de repente me pareceu um olho desesperado.
• Quando a inspiração não vem…
trabalho sem ela.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Hilda Hilst.
• O que é um bom leitor?
alguém que carregue a disponibilidade corporal de um artista da cena.
• O que te dá medo?
borboletas.
• O que te faz feliz?
que alguém penteie os meus cabelos.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
quando não escrevo, morro (?)
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
a Escuta.
• A literatura tem alguma obrigação?
não.
• Qual o limite da ficção?
725 mil quilômetros, aproximadamente.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
a uma Árvore.
• O que você espera da eternidade?
que tenha uma porta de saída.