A argentina Aurora Venturini escreveu mais de 40 livros, entre eles o romance As primas, publicado pela Fósforo, com tradução e prefácio da escritora Mariana Enriquez. Em uma espécie de romance de formação, definido pelo autor argentino Alan Pauls como “a meio caminho entre a autobiografia delirante e a etnografia íntima”, Aurora Venturini recria o território de sua infância na La Plata dos anos 1940. Entre o trágico e o cômico, constrói o retrato de mulheres abandonadas que, para além da pobreza, são obrigadas a lidar com deficiências físicas, mentais e imaginárias.
Enquanto frequenta “institutos para limitados”, em casa, a jovem Yuna cresce mergulhada no cotidiano precário de sua mãe, “professorinha mixuruca e olhe lá”, no de suas primas Petra e Carina, também portadoras de deficiências, e de seus tios e tias, todos às voltas com os cuidados da irmã Betina, infantilizada para sempre em uma cadeira de rodas.
Quando conhece o professor José Camaleón, entusiasta do seu talento para a pintura, Yuna vislumbra a possibilidade de escapar do que o destino parece ter lhe reservado. A cada palavra descoberta no dicionário e a cada nova tela pintada, ela acredita superar seu mundo de imperfeições, bem como o lar da “família estranha” onde cresceu.
Com uma escrita definida por Mariana Enriquez em prefácio ao romance como radical, excêntrica, deformada e lúdica, Aurora Venturini estreou oficialmente na literatura latino-americana com As primas aos 85 anos, após uma vida repleta de momentos tão insólitos quanto curiosos — adjetivos que, aliás, também se aplicam à sua escrita.
Nascida em La Plata, em 1921, Aurora se exilou em Paris após o golpe de Estado de 1955, onde conheceu figuras como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus. A autora morreu em 2015, aos 92 anos.