A americana Kathy Acker foi uma romancista que trabalhou com temas e estilos de escrita que remetem ao punk da década de 1970. A prosa de Acker chega ao Brasil agora com a publicação de seu primeiro romance, A vida infantil da tarântula negra, por Tarântula Negra.
A edição da crocodilo conta com tradução de Livia Drummond e prefácio de Flá Lucchesi. Escrito em 1973, o processo de apropriação é central para a busca de identidade da narradora nesse livro. Acker cria uma personagem de dezesseis anos, Tarântula Negra, que explora identidades alternativas como assassina e prostituta, copia trechos de livros pornográficos em que se imagina a protagonista e participa de atos sexuais públicos.
A autora faz uma colagem na qual suas próprias palavras se somam às de Marquês de Sade sobre Justine; mistura sua vida com a autobiografia de William Butler Yeats, a vida de Moll Cutpurse, “a rainha regente do desgoverno, a garota arruaceira, a tirana benevolente dos ladrões e assassinos da cidade, a dama urso”, entre outros. Os temas de alienação e sexualidade objetificada do livro se repetem em textos posteriores.
Seus textos, construídos por sobreposição e colagem, remetem ao cut-up de William Burroughs, autor que a definiu como uma “Colette pós-moderna” que “dá a seu trabalho a potência de espelhar a alma de quem o lê”. Seu trabalho de prosa começou em 1972 com uma escrita baseada em sua experiência pessoal exposta de forma crua, constituindo um análogo literário a movimentos da moda, música e artes visuais de sua época.
Em novembro, a crocodilo lança também mais dois livros de Kathy Acker: Sonhei que era uma ninfomaníaca: imaginando e A vida adulta de Toulouse Lautrec, por Henri Toulouse Lautrec.