Há, aparentemente, um boom de literatura africana no mundo. Escritores africanos ou de ascendência africana mais ou menos recente, residentes ou não em África, têm publicado cada vez mais e conquistado alguns dos prémios literários internacionais mais importantes, como o último Prémio Nobel de Literatura. Não incluo aqui, por conseguinte, os afroamericanos (estadunidenses, caribenhos e latino-americanos) descendentes dos homens escravizados que foram levados para as américas há séculos.
Por razões que têm a ver com a atual situação económico-social das nações africanas, afetando diretamente o mercado literário, a maioria desses autores mora ou passa grandes temporadas no estrangeiro, com destaque para a Europa e os EUA. Costumam, por isso, ser considerados autores da diáspora africana, enquadramento que tentarei desenvolver nesta coluna de um modo um pouco mais acurado do que o habitual.
O título da coluna aponta explicitamente para as relações entre diáspora, raça e nacionalidade literária. Começarei por resumir o entendimento que farei, aqui, dos três termos que constituem o referido título.
Desde logo, parece-me importante, quando se fala de África, complexificar um pouco a noção de diáspora, para englobar também os africanos brancos, indo além, assim, da visão redutora que considera “africano” sinónimo de “negro”. Naturalmente, o fenómeno é mais evidente em países onde a existência de cidadãos brancos é mais significativa, como acontece na África Austral.
A propósito, talvez precise de ser dito que os africanos brancos podem ser considerados duplamente diaspóricos. O seu enraizamento no continente africano deve-se, como é óbvio, ao fenómeno da colonização europeia, mas nem todos eles foram para África como “colonizadores” (ou colonialistas?). Assim, e por exemplo, muitos foram ainda crianças, levados pelas suas famílias, acabando por permanecer no continente africano, outros foram como aventureiros e outros ainda como degredados, por razões políticas ou comuns. Esse o seu primeiro movimento diaspórico. O segundo aconteceu quando alguns deles, antes ou depois das independências africanas, deixaram ou deixam, por motivos vários, o continente.
Em segundo lugar, vou entender “raça” pelo seu sentido comum, para não dizer vulgar, ou seja, como sinónimo de cor da pele. Como se pode concluir do parágrafo anterior, a diáspora africana em geral é constituída tanto por negros como por brancos. O mesmo se passa, comprovadamente, com a diáspora literária africana, que é composta por autores de todas as “raças”.
Quanto ao conceito de “nacionalidade literária”, não é sinónimo – esclareça-se – de nacionalidade no sentido jurídico. Finalmente, e tal como o usarei no presente texto, não deve ser confundido com “nacionalismo literário”, embora possa haver, em vários casos, conexões entre ambas as realidades.
Diáspora(s) polissémica(s)
Os exemplos que usarei para discutir a relação entre diáspora, raça e nacionalidade literária estão relacionados sobretudo com a história da literatura de Angola, antes e depois da independência nacional do país.
Há, na história literária angolana, numerosos casos de autores diaspóricos, pelo menos em certos momentos da respetiva existência. Desde logo, o autor do primeiro livro conhecido da literatura angolana, Espontaneidades da minha alma (1849), José da Silva Maia Ferreira, viveu largas temporadas da sua vida no estrangeiro (Portugal, Estados Unidos e Brasil, onde acabou por falecer, em 1867).
Outros autores conhecidos emigraram para Portugal no século 20, antes da independência de Angola. A título de exemplo, recordo o caso de Mário António, um dos grandes nomes do Movimento Vamos Descobrir Angola, que deu origem à moderna literatura angolana, cujos vínculos com o nacionalismo político costumam ser assinalados quer pelos críticos literários quer pelos historiadores. Tendo-se distanciado politicamente dos seus pares, Mário António acabaria desprezado por eles, mas o valor da sua obra literária jamais deixou de ser enaltecido.
Após a independência de Angola, em 1975, muitos autores emigraram do país, por força da situação de guerra, dos conflitos políticos internos e da crise económica e social. Os mesmos podem ser agrupados de acordo com fatores e circunstâncias peculiares.
Assim, num primeiro momento, deixaram o país autores de origem portuguesa, alguns já nascidos em Angola, entre eles nomes importantes e cuja contribuição para a história da literatura angolana é indiscutível, como Leonel Cosme. Autores ligados aos movimentos políticos derrotados nos confrontos que antecederam a proclamação da independência nacional, incluindo dissidências do MPLA, a organização que tomou o poder na época, também foram parar à diáspora. São os casos, entre outros, de Zetho Gonçalves e Manuel dos Santos Lima. Pode também ser mencionado o exemplo de Sousa Jamba, cujo primeiro livro – Os patriotas – foi publicado em inglês no Reino Unido em 1992 e que, devido à sua militância na Unita, o movimento que combateu militarmente contra o governo angolano até 2002, viveu emigrado na Zâmbia, Reino Unido e EUA durante anos.
A partir do final dos anos 1980, autores jovens, surgidos entre o final do período colonial e os primeiros anos da independência, como Rui Bueti, Jorge Monteiro dos Santos, Fernando Monteiro e outros, também emigraram, principalmente para Portugal. O paradeiro exato desses autores é desconhecido, ignorando-se, também, se os mesmos continuam a produzir. Isso – diga-se – pode ser um bom tema de pesquisa pelos académicos e críticos literários.
Em 1992, três anos depois da queda do Muro de Berlim e quando a aventura socialista acabou igualmente em Angola, aquele que é considerado o grande nome da ficção angolana, Luandino Vieira, e que, além de escritor, foi um empenhado militante nacionalista e revolucionário, tendo estado 14 anos preso pela polícia política portuguesa, decidiu também deixar o país, vivendo hoje semi-isolado numa aldeia do norte de Portugal. Um outro nome ligado à luta pela independência (participou na guerrilha contra o exército colonial português) que também mora em Portugal, no caso por razões de saúde, é o do poeta Garcia Bires.
Dois outros autores angolanos conhecidos – José Eduardo Agualusa e Ana Paula Tavares – vivem hoje no estrangeiro, por decisão pessoal, o primeiro em Moçambique (já viveu em Portugal e no Brasil) e a segunda, em Portugal. Agualusa saiu de Angola aos 14 anos de idade, com os pais, na véspera da independência, tendo voltado a morar no país por um breve lapso de tempo, já adulto, enquanto Ana Paula Tavares emigrou para Portugal mais recentemente.
Mais jovens do que Ana Paula Tavares e Agualusa, mencionarei ainda outros nomes de autores angolanos que vivem ou já viveram na diáspora. Por ordem de publicação, começo por Ondjaki, que viveu em Portugal, Itália e Brasil, tendo regressado recentemente a Luanda, onde criou uma editora e abriu uma livraria. Além dele, cito mais três, que permanecem fora de Angola: Kalaf Epalanga (Alemanha), Yara Monteiro (Portugal) e Djaimilia Pereira de Almeida (Portugal). Todos esses nomes, incluindo, obviamente, os de Ana Paula Tavares e Agualusa, são conhecidos por muitos leitores brasileiros.
Menciono, por fim, um sem número de autores angolanos, a maioria talvez desconhecida, que vive em trânsito entre Angola e o estrangeiro, passando períodos de tempo num e no outro lado, em estudo, trabalho ou outras razões. É o caso do jovem escritor Benjamim Mbakassy, vencedor da última edição do Prémio Literário DST Angola/Camões, ou da poeta Tchiangue Cruz. Desde 2020, eu também estou nesse grupo.
A conclusão a tirar, observando essa vasta lista de nomes e pensando, igualmente, nos que ficaram por mencionar, é que a diáspora literária angolana é profundamente diversificada, quer em termos de “raça” quer em termos de circunstâncias, razões e motivações. O facto – diga-se – não apenas reflete cabalmente a composição demográfica dos angolanos, nem sempre conhecida ou entendida no exterior, como resulta também da história do país.
Nacionalismo(s) e nacionalidade literária
A análise da relação entre diáspora angolana e a nacionalidade literária visa responder à seguinte indagação: até que ponto e/ou em que condições os autores angolanos que vivem na diáspora podem ser considerados como “nacionais”, isto é, como estabelecer se eles fazem parte ou não do sistema literário angolano?
Trata-se de uma questão eminentemente cultural. A resposta, já o disse, não pode ser jurídica, pois, por circunstâncias várias, os escritores da diáspora podem ter ou não a nacionalidade angolana. Se a tiverem, podem ou não possuir igualmente uma outra nacionalidade qualquer, estrangeira. Pela cor da pele também não será, como é óbvio, pois a composição “racial” dos angolanos é diferenciada. Será pela temática? Isso levanta a seguinte questão, que se coloca em relação a todas as literaturas: para ser “nacional”, a literatura precisa de ser “nacionalista”?
Durante muito tempo, pensou-se que sim, embora a ideia de “nacionalismo” não fosse sempre e necessariamente associada à política (a relação entre os dois termos podia ser apenas implícita). Como diz Carlos Ceia, no seu dicionário online de termos literários, o romantismo é tributário do nacionalismo. A coincidência histórica explica essa associação entre os dois movimentos. Remontando o conceito de “nação” ao século 18 na Europa, coube ao romantismo, cujo período áureo se estendeu da segunda metade do século 18 até à primeira metade do século 19, acolher a missão de construir as identidades nacionais das nações emergentes, tanto na Europa como, posteriormente, nos processos de independência das novas nações americanas. Certas características intrínsecas do romantismo, como a eleição da emoção como principal fundamento da natureza e da experiência humana, o culto da natureza, a existência de uma ancestralidade mítica e a idealização da figura humana (o “herói romântico”), permitiram ao romantismo, nomeadamente através do romance, estabelecer o princípio de uma identidade nacional unitária e ontológica.
Essa influência pode ser encontrada igualmente na literatura (e no jornalismo) de Angola. O já citado José da Silva Maia Ferreira foi o principal romântico angolano. Até 1878 e mesmo depois, o romantismo era dominante, como se pode constatar no jornal Luanda, nas obras de Alfredo Trony e outros. Autores posteriores, como Cordeiro da Mata, Eduardo Neves (português de origem, que foi para Angola aos 15 anos de idade), Fontes Pereira e outros, foram também influenciados pelo chamado romantismo tardio. A corrente literária em questão influenciou ainda o chamado nativismo angolano, que se manifestou até às primeiras décadas do século 20.
O passado e a tradição eram os princípios basilares do romantismo, opondo-se à ideia de progresso e modernização. Por isso, Carlos Ceia afirma que, com o romance moderno, “a noção de nacionalidade deixa o primeiro plano e passa a uma posição subjacente”. Acrescenta ele: “(…) o nacionalismo literário ou a representação de uma identidade nacional não conseguiram mais ocupar um plano fundamental e unificador”. Tal conclusão parece profundamente equivocada, pelo menos no que diz respeito à história da literatura angolana.
Com efeito, os autores que, a partir de meados do século 20, contribuíram para o surgimento da literatura angolana moderna, não sendo, obviamente, românticos como as gerações imediatamente anteriores, não deixaram – pelo contrário – de colocar a ideia de nação e de identidade nacional no centro do seu projeto estético. Influenciados por quatro correntes artísticas fundamentais – a negritude, o realismo social português, o modernismo brasileiro e o chamado romance nordestino, igualmente brasileiro -, identificaram nacionalidade e nacionalismo literário, com um viés assumidamente político: tratava-se de usar a literatura como instrumento de luta pela independência nacional. No que pode, talvez, ser considerado uma coincidência com o romantismo, a ancestralidade e as tradições culturais africanas eram invocadas para afirmar a autonomia (a independência) relativamente ao colonizador.
Volto a lembrar que, no caso de Angola (e outras nações africanas), não há uma relação direta entre “raça” e projeto literário. Assim, vários autores angolanos brancos, alguns nascidos em Portugal, mas enraizados em Angola, participaram do Movimento Vamos Descobrir Angola, que permitiu o surgimento da literatura angolana moderna. Alguns dos mais belos e radicais textos de temática negra da literatura angolana foram escritos por autores brancos, o que confirma, como se isso fosse necessário, que pelo menos na literatura não há lugar de fala.
Um caso especialíssimo merece uma referência particular: o de João-Maria Vilanova, autor de 20 canções para Ximinha e Caderno de um guerrilheiro. O mesmo era um juiz de origem portuguesa, chamado João Guilherme Fernandes de Freitas, que trabalhava em Angola e resolveu escrever poesia não apenas anticolonial, mas recorrendo ao idioleto cultural angolano, pois sentia-se vinculado ao país. Por temer represálias da polícia política portuguesa, adotou o nome literário de João-Maria Vilanova. Embora algumas pessoas conhecessem a sua verdadeira identidade, só em 2010 ela foi revelada, já depois de ele ter regressado a Portugal, por razões familiares, e de ter decidido pôr fim à própria vida, certamente amargurado pelo desenraizamento que sentia na sua própria terra natal (mas não, como se viu, do seu coração). A crítica não tem dúvidas: João-Maria Vilanova é um dos autores que mais contribuiu para a definição e modernização da literatura angolana. O seu caso, portanto, vai para além da simples heteronímia, para entrar, quiçá, na psicanálise. No mínimo, levanta a discussão da assimilação de valores.
Diáspora e nacionalidade literária
Quase cinquenta anos após a independência de Angola, quando não há mais colonizadores, o país não está mais dividido entre duas fações em guerra e o sistema político funciona, pelo menos, na base de princípios democráticos mínimos, ainda faz sentido discutir a questão da nacionalidade literária tal como no período da luta pela independência nacional? Ainda é preciso identificar nacionalidade literária e nacionalismo literário?
A resposta é “não”. Contudo, continua a haver quem o faça, com uma diferença: o nacionalismo que é advogado como condição sine qua non para ver reconhecida a nacionalidade literária angolana já não é político, mas cultural. De um modo geral, os arautos dessa posição, acreditando que as tradições são imutáveis, defendem ideias neo-nativistas e propõem visões identitárias fechadas, auto-referentes e excludentes, baseadas na “raça” e por vezes na etnia.
Os inquiridores da nacionalidade literária dos autores, qualquer que seja a origem destes últimos, o seu percurso, a sua “raça” ou os seus posicionamentos pessoais, por um lado, e vivam eles no interior do país ou na diáspora, por outro lado, definem a temática como o critério fundamental para aferi-la. Previsível e felizmente, entretanto, o trabalho dos escritores angolanos da diáspora corresponde às características dos mesmos: é diversificado e plural.
Assim, e apenas para estabelecer uma diferenciação básica, podemos encontrar desde obras cujo substrato angolano (cultural, histórico ou político) é intelectualmente elaborado e revestido de uma aura cosmopolita, cujo resultado constitui uma verdadeira “invenção” artística, tais com os trabalhos de José Eduardo Agualusa, até textos profundamente embebidos na matriz cultural originária de Angola, rural e bantu, mas ideologicamente atualizados e formalmente modernizados, como os poemas de Ana Paula Tavares ou Zetho Gonçalves.
O caso deste último autor, que vive na diáspora, mais concretamente, em Portugal, é especialmente interessante. Branco, filho de pai português e mãe de origem portuguesa já nascida em Angola, é natural do Huambo, tendo crescido numa pequena localidade chamada Cutato, localizada na província do Kuando Kubango, sudeste de Angola. No período de transição para a independência, militou na FNLA, um dos movimentos nacionalistas rival do MPLA, tendo participado da guerra civil travada então no país. Com a derrota da FNLA, teve de exilar-se e, depois de morar precariamente em vários países, em África e na Europa, acabou por fixar-se em Portugal. Até hoje, não possui qualquer documentação angolana. Contudo, e apesar de, juridicamente, não poder apresentar-se como cidadão de Angola, é dos poetas mais profundamente angolano do país. Além da sua vivência rural, é um grande conhecedor das diferentes literaturas tradicionais africanas, o que é percetível na sua vasta poesia, de elevadíssima qualidade.
Entre essas duas tendências, aparentemente opostas (mas só aparentemente), da literatura angolana produzida na diáspora, podem também ser encontradas obras que continuam a tratar da realidade angolana contemporânea, urbana e moderna, com as suas vinculações com a história mais ou menos recente e os ecos e reverberações das suas ligações com o mundo e em que Luanda, cidade que tem quase 500 anos e que constitui historicamente uma das principais portas de ligação de África à Europa e às américas, através do Atlântico, continua a ocupar um lugar fulcral – esse, até hoje, o filão principal da literatura angolana.
Tal como parece estar a acontecer com autores das demais diásporas africanas, começam a surgir nos últimos tempos escritores mais novos, alguns radicados na Europa, principalmente, desde crianças ou adolescentes, que têm trazido para a cena literária novos temas e novas perspetivas, refletindo pela primeira vez a sua situação de imigrantes e/ou de europeus de origem negro-africana. Menciono aqui três deles, particularmente conhecidos: Kalaf Epalanga, Yara Monteiro e Djaimilia Pereira de Almeida.
A pergunta que pode colocar-se é se tais autores continuam a ser angolanos (literariamente, repito). No caso dos dois primeiros, não tenho dúvidas, não apenas por causa da temática das suas obras, mas também por causa da maneira como a mesma é olhada e da respetiva forma de tratamento. O caso de Djaimilia Pereira de Almeida é, quanto a mim, um pouco mais problemático. De acordo com as informações biográficas que possuo acerca dela, não tenho dúvidas de que, do ponto de vista jurídico, ela é angolana (talvez seja também portuguesa). Mas a perspetiva e a forma das suas obras parecem-me, claramente, cada vez menos angolanas, pelo menos de acordo com a visão habitual do que é literatura angolana. Esta observação, ressalvo, nada tem a ver com o valor literário em si da obra da autora.
Neste ponto, preciso de contar uma pequena história. Assisti recentemente nos Estados Unidos a uma conferência da escritora portuguesa Lídia Jorge no Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University (Providence), na qual, quando lhe foi perguntado que novas escritoras portuguesas ela destacaria neste momento, a autora incluiu precisamente Djaimilia Pereira de Almeida. Eu, que há tempos venho refletindo sobre esta maka da nacionalidade literária, perguntei-lhe se ela considerava Djaimilia uma escritora portuguesa ou angolana. Lídia Jorge respondeu: “As duas coisas”.
Possivelmente, essa é a chave para resolver este problema, falso ou imaginário, nos tempos que correm. Com a mobilidade existente atualmente, pelo menos para certas categorias de pessoas, parece inevitável que haja escritores e outros artistas que podem, de facto, assumir mais do que uma nacionalidade, valorizando cada uma delas consoante os contextos e as circunstâncias.
É que, afinal (cito novamente Carlos Ceia), “o nacionalismo literário ainda oferece ao indivíduo um sistema de representações culturais que lhe permite experimentar o sentimento de compartilhamento, ainda que imaginário, no sentido que liga o presente do indivíduo ao fundamento de passado primordial que todos partilham”. Como bem ele chama a atenção, as representações de identidade nacional, hoje, podem não ter mais o caráter unificador e hierarquizante do passado, mas são apresentadas em todos os seus matizes, diversidades, conflitos, paradoxos e consensos. “As ideias de compartilhamento e de totalidade não desapareceram da realidade e da experiência humanas, pelo menos enquanto desejo”, acrescenta.