A publicação do romance Algo a mais, livro de maior sucesso da escritora e roteirista inglesa Elinor Glyn, marca o início da retomada da coleção Biblioteca das Moças, da Editora Nacional. A coleção, composta por mais de 180 títulos, surgiu em meados dos anos 1920 e permaneceu ativa até 1960, tendo ainda sido brevemente revivida na década de 1980.
Com a repaginação de títulos selecionados pela consultora literária Alba Milena, as edições terão também novo projeto gráfico, a cargo da designer Fernanda Mello, além de textos de apoio com contextualização histórica e de lançamentos inéditos.
O título que abre a nova fase foi publicado no Brasil em 1955, com tradução de Godofredo Rangel, é considerado precursor da ficção erótica para mulheres. Lidas na penumbra e comentadas à meia-voz por suas jovens leitoras, as histórias de Elinor Glyn retratam, ao contrário das recatadas damas dos denominados “romances cor-de-rosa”, mulheres que desejam, frequentam os espaços públicos, têm atitudes morais ambíguas e expressam sem amarras suas opiniões sobre economia, política e cultura.
Foi a autora quem criou o termo “It”, que designa, em suas obras, a primeira metáfora da literatura para atração sexual. Ava Cleveland, a protagonista de Algo a mais, é uma jovem de 25 anos e irmã mais velha de Larry Cleveland, aristocrata, de família de renome na sociedade, mas que perdeu toda a fortuna.
Eles, no entanto, têm o “It”, o que pode ser traduzido como o “algo a mais” ou ainda como atração fatal e a capacidade de seduzir. Ela expressa seus desejos e não espera ser cortejada pelos homens. Ava é, sem receios, a primeira “it girl” da literatura. O amor romântico não é seu ponto forte e sua vida amorosa não cabe dentro das rígidas normas das convenções sociais inglesas.
Larry, seu irmão, é viciado em ópio e cocaína, e ela própria é obrigada a abandonar a sua vida desocupada para ganhar o seu sustento. Assim, ao ingressar no mundo do trabalho, uma atividade exercida apenas por “mulheres inferiores”, ela se dá conta de que sua vida anterior era inútil.
Ainda que retrate o glamour das festas, dos bailes, das visitas sociais, Glyn revela uma preocupação com uma estrutura social que já dá sinais de decadência e hipocrisia. Tais questões são, pela primeira vez, abordadas de forma direta nos romances sentimentais.
Com a popularidade e notoriedade de seus livros, Glyn mudou-se para Hollywood para trabalhar na indústria do cinema em 1920 e se tornou uma das roteiristas mais famosas daquela década. Algo a mais ganhou ainda uma adaptação para o cinema mudo em 1927.