Estilhaços da fala
o cisne, a calma
na clave das águas
a clarividência das manhãs
enluaradas
os remansos da fala
entrecortada no branco
da folha de papel
desvirginada
o mergulho das asas
no instante
que em tênues ondas
se propaga
…
a casa, a alma
de brilhos trespassada
a luz em chamas
se difrata
o ângulo das letras
no espaço-tempo
ilimitado
até o vento
parece suspenso
milissegundos
de silêncio —
nesta pausa
não premeditada
…
a crosta, a casca
o dia
uma libélula involucrada
o bicho da seda do desejo
as flores nas sementes
preservadas
ocultas
tantas palavras
que não basta a primavera
mas um gesto teu
para que irrompam
das crisálidas
…
o grão, a grapa
a embriaguez noturna
que adormece
em plagas vastas
o sono, o sonho
por vastidões sem mapas
o súbito redespertar da morte
por onde a consciência passa.
…
o cão, a caça
a supralucidez acesa
numa praça
a mão imóvel
antes se desata
e traça
o que a memória olvidaria
por fugitiva a graça
oblíqua e rápida
que atravessa os olhos
como um relâmpago
— entre inúmeros —
que se apaga.