Nos poemas do livro Selvageríntimo, lançado pela Isto, o pernambucano Fernando Jaepelt, criado em Santa Catarina, busca explorar diferentes ângulos do abismo, combinando palavras em busca de ressignificações — o título é um bom exemplo.
As seis partes do conjunto “percorrem os trágicos delírios do cotidiano coletivo”, de acordo com o poeta e historiador Bruno Gaudêncio na apresentação. “O leitor de cara capta uma dicção potente e vibrante amparada em uma composição sintética, feita de cortes precisos e fragmentários.”
“Na verdade, Fernando Jaepelt privilegia em seu fazer poético ‘o incômodo do existir’, as múltiplas tensões presentes nas dimensões ao mesmo tempo banais e trágicas do dia a dia, em toques expressivos de alusões muitas vezes surrealistas”, continua Gaudêncio.
“queria guardar os dias de chuva/ numa garrafa e beber nas horas/ em que a paisagem interna/ não suporta céu azul e sol// nas horas em que devesse/ ser feliz mas não sou”, diz o poema transtorno aditivo chuvoso (fissura).