Ipês brancos
Casei-me com um ipê branco,
Suas raízes fincaram-se em meu sexo,
Suas ramagens
Se espalharam pelos meus seios,
Formaram guirlandas
No meu pescoço
E um véu sobre meus ombros.
Penetrei passiva
Num mar de leite
E lavandas.
A noite era de lua,
De bruma
E de glacê.
…
Ipês róseos
Quisera ser um pássaro
Nesta primavera
E voar entre as flores
De um rosa lilás.
Seriam minhas primeiras emoções
De sensualidade e voo
E os galhos gemeriam:
— Amarás!
…
Ipês roxos
O tronco negro
Parece ter sido forjado
Por uma tempestade,
Um estrondo,
Prenúncio de uma revelação,
Cólera e castigo
Sobre o arroxeado fundo.
A escrita
De um alfabeto arcaico
Desenhou esse “s”
Simulando algo concreto
Como uma serpente
Ou um gesto.
Poderia ser o “s”
De “Sabedoria”
Oculto no intelecto vegetal.
…
Ipês amarelos
No campo aberto,
Palitos gigantes,
Imponentes,
Fazem do ipê
Uma escultura esguia.
Há aspirações sem limite
Nessa busca de espaço,
Nesse dinamismo jovem,
Nessas colunas levantadas
A partir da base
Em forma de bacia.
Pelos galhos derramam-se
Ovos quebrados
Como se fossem jarros
Contendo gemas úmidas
E claras de espermas.
As cascas,
Macias e quentes,
São ninhos
Em que se multiplicam
Seres amarelos.