Poemas de Ed Dorn

Leia os poemas traduzidos "Juh & Gerônimo", "Relva", "O jardim da rosa branca", "Vaquero", "E acabou a canção", "Vinte e quatro canções de amor (2.)"
Ed Dorn era um poeta e professor americano frequentemente associado aos poetas da Montanha Negra
01/02/2022

Juh & Geronimo

Friends from boyhood
In Chihuahua and Arizona
Perfecting their senses
In the portable forge of summer
Got down to the Mother Mountains
Their obsessive democracy
Blown out at the points of control
Crazy with permission
A noiseless ecstasy
Only they can hear
Each man permitted
More than a man can bear
Against the true as steel
Military Republicanism
Of the Norte Americanos

Juh & Gerônimo[1]

Amigos desde a infância
Em Chihuahua e no Arizona
Aperfeiçoando os sentidos
Na forja móvel do verão
Desceram até as Montanhas Mães
Sua obsessiva democracia
Explodiam nos postos de controle
Enlouquecidos com as permissões
Um êxtase silencioso
Que apenas eles podem ouvir
A cada homem permitido
Mais do que um homem aguenta
Contra a verdade como aço
Militarismo Republicano
Dos Norte Americanos

Grasses

We sat among grasses
late in the evening and not
far off a line ran:
a fence
went along the edges of the park
to contain it to
keep back bushes and such uncultivated
weeds as were too high.

Within enclosure on the unguarded
area roamed variously the
madrona trees
in the creeping darkness.

If it weren’t for the insects now
in our broken minds the counterplay
two dogs make
might bear attention among the
random selection, dog, tree, grass.

Relva

Sentados na relva
no fim da tarde e não
longe corre uma linha:
uma cerca
se estendia pelos limites do parque
para contê-lo para
manter isolados os arbustos e as outras ervas
daninhas quando crescem demais.

Do lado de dentro da área
desprotegida vagavam erraticamente
os medronheiros
na escuridão rastejante.
Não fosse agora pelos insetos
em nossas mentes fraturadas o contraponto
que dois cães fizeram
poderiam chamar a atenção,
em escolha aleatória, cão, árvore, relva.

The garden of the white rose

Lord, your mercy is stretched so thin
to accommodate the need
of the trembling earth—
How can I solicit even
a particle of it
for the relief of my singularity
the single White Rose
across the garden will
return next year
identical to your faith—
the White Rose, whose
house is light against the
threatening darkness.

O jardim da rosa branca[2]

Senhor, tão tênue se estende sua misericórdia
para acomodar todos os que precisam
nesta vacilante terra —

Como posso eu pedir até mesmo
uma mera partícula disso
para o alívio de minha singularidade
a singular Rosa Branca
ali no jardim haverá de
retornar no ano que vem
idêntica à sua fé —
a Rosa Branca, cuja
casa é a luz diante da
ameaçadora treva.

Vaquero

The cowboy stands beneath
a brick-orange moon. The top
of his oblong head is blue, the sheath
of his lips
is too.

In the dark brown night
your delicate cowboy stands quite still.

His plain hands are crossed.

His wrists are embossed white.

In the background night is a house,
has a blue chimney top,
Yi Yi, the cowboy’s eyes
are blue. The top of the sky
is too.

Vaquero

O caubói parado sob
uma lua laranja-tijolo. O topo
de sua cabeça oblonga é azul, a bainha
de seus lábios
também.

Na noite marrom escura
seu caubói delicado permanece quase imóvel.

As mãos, sem nada, cruzadas.

Os pulsos realçam o branco.

Na noite ao fundo há uma casa,
e uma chaminé que lá no topo é azul,
Yi Yi, os olhos do caubói
são azuis. O topo do céu
também.

The Song is Ended
for Nellie L.

Lingers on
but the
melody when everyone goes
the moon
we sang, to say
too soon
and found that everyone
too soon
had gone
with the moon

Do you
love
me baby
like you used to now
I’d like to know
Oh I’d like to know.

E acabou a canção

para Nellie L.

As coisas perduram
menos a
melodia, quando todos se foram
e a lua
que cantamos, para dizer
muito cedo
e perceber que todos
muito cedo
se foram
com a lua

Você
me ama
baby
como costumava amar, agora
eu queria saber
Oh, eu queria saber.

….

Twenty-four love songs (2.)

Inside the late nights of last week
under the cover of our selves
you went to sleep in my arms
and last night too

you were in some alarm
of your dream
some tableau
an assembling of signs
from your troubled day glows
and trembles, your limbs
divine with sleep
gather and extend their flesh
along mine
and this I surround, all this
I had my arms around

Vinte e quatro canções de amor (2.)

Bem dentro das noites da semana passada
cobertos por nós mesmos
você veio dormir em meus braços
e também na última noite

você estava em estado de alerta
em seu sonho
algum quadro
um conjunto de imagens
dos dias difíceis, que cintilam
e estremecem, seus membros
divinos, que no sono
reúnem e estendem suas carnes
junto às minhas
e eu as envolvo, todos elas
os meus braços envolvem

 

Notas

[1] Dois dos mais importantes líderes indígenas norte-americanos no combate pela defesa de seus povos contra a expansão colonialista. Juh (1825-1883) foi chefe dos Janeros, parte da nação Chiracahua Apache, e sua região de origem fica no estado de Chihuahua, no México. Gerônimo (1929-1909), outro guerreiro mítico pela mesma causa, foi líder do grupo Bedonkohe, também da nação Apache.

[2] Um dos últimos poemas (se não o último) escritos por Dorn, quando seu câncer já avançara para a fase final.

 

Edward “Ed” Dorn
Associado à escola Black Mountain, Ed Dorn nasceu em 1929 numa família de fazendeiros no meio oeste norte-americano, em Villa Grove, Illinois, crescendo com a pobreza e as carências causadas pela depressão econômica dos anos 1930. Isso fez dele um poeta que apesar de uma imagem pública de caubói durão, escrevia poemas de forte lirismo, com frequência evocando suas origens. Morreu de câncer em 1999, em Denver, Colorado.
André Caramuru Aubert

Nasceu em 1961, São Paulo (SP). É historiador formado pela USP, editor, tradutor e escritor. Autor de Outubro/DezembroA vida nas montanhas e Cemitérios, entre outros.

Rascunho