Estava escrito no mapa, em cada ponto marcado com um x, vincado frente e verso com letras garrafais: Sou de onde estou. A escritora angolana Yara Nakahanda Monteiro vê em cada mapa, destino que se lhe apresenta, uma possibilidade para descobrir o outro, descobrir-se a si própria, e, com determinação, ser feliz.
Esta nĂ´made, com residĂŞncia fixa em Melides, no Alentejo (Portugal), tem como lugar de partida a provĂncia do Huambo, mas sĂŁo vários os portos por onde atracou as suas vivĂŞncias, e neles depositou raĂzes, sorvendo a boa e a má água de cada oásis, já que cada paraĂso tem tambĂ©m o seu submundo. O reflexo destas paragens obrigatĂłrias está latente no seu corpo vertido em livros.
Mapas para partir. Mapas para chegar. Mapas para conhecer, e mapas para se perder.
Na escrita de Yara, todos os caminhos nos levam aos nĂłs intrincados que sĂŁo a vida. Este enorme puzzle que tentamos encaixar, da melhor forma, as nossas partes soltas.
E no inĂcio era o silĂŞncio, e do silĂŞncio a voz da terra primeira, e da terra, os cheiros da infância, e dela a constatação de que nĂŁo somos iguais, e da diferença, a resiliĂŞncia, para crescer sabendo que aquilo que nĂŁo nos mata nos faz mais forte, e desta força, a mulher que vai ganhando mundos com a sua escrita, e das letras, o regresso Ă s histĂłrias pessoais de muitos como ela, Ă terra da memĂłria e da mobĂlia que carregamos Ă s costas, para qualquer ponto no mapa que nos acolha.
A literatura como mapa para se encontrar. Mapas para renascer, quer seja em Angola, na periferia de Lisboa, Rio de Janeiro, na floresta amazônica, Copenhague, Atenas, ou em Melides. No seu mapa não está escrito qual o destino, mas sim quando ele virá.
A literatura como mapas de guerra contra o preconceito. “Lutar com palavras/ é a luta mais vã./ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã”, leio Drummond e vejo Yara com suas histórias de vida. Mapas para vencer. Mapas para descolonizar colonizadores. Mapas para descolonizar colonizados. A literatura como lugar de encontros. Mapas sem fronteiras.
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