No livro-reportagem Cada um carregue sua culpa, a jornalista italiana Francesca Mannocchi vai de Mossul ao campo de refugiados de al Jaddah, percorrendo o labirinto de relatos com que compõe o cenário árido do pós-guerra iraquiano.
“Onde quer que haja um vestígio do Estado Islâmico, existe uma vergonha”, diz trecho do livro, publicado no Brasil pela Âyiné, com tradução de Cezar Tridapalli. Há neste mundo uma defesa da ambiguidade, da impossibilidade de afirmar: não há heróis ou vilões, não há soluções definitivas.
Cada um carregue sua culpa também traz retratos de personagens centrais nesse conflito: as mulheres viúvas de milicianos prontas para serem mães de outros mártires, os filhos dos carrascos do EI ao lado dos filhos das vítimas do EI no mesmo campo de refugiados; os juveníssimos órfãos do Califado que esperavam ser imolados em um atentado e agora, sem uma perna, miram o vazio; os adolescentes terroristas que se parecem com rapazes de qualquer periferia do planeta.
Mannocchi dá voz aos sobreviventes e aos carnífices, num contexto em que cada libertação é o começo da próxima guerra, e que cada vítima é também algoz.