Influência para vários escritores brasileiros contemporâneos, a argentina Alejandra Pizarnik tem dois de seus principais livros reunidos em uma box, publicado pela editora Relicário. Extração da pedra da loucura e O inferno musical trazem edição bilíngue e textos de apoio assinados por Nina Rizzi, Laura Erber e pelo tradutor das obras, Davis Diniz.
Considerado o livro mais importante da poeta, Extração da pedra da loucura se apoia no mito da Idade Média de que a loucura era consequência do crescimento de saliências ou tumores que se projetavam da testa: dois chifres retorcidos, talvez, expressando o inferno interior da loucura.
A metáfora serviu de inspiração para artistas como El Bosco, Van Hemesen e Bruegel, que tentavam compreender a loucura através daquela imagem inquietante. Alejandra Pizarnik igualmente sonhou com a pedra da loucura para construir sua imagem da dor.
No livro, a palavra é apresentada como uma visão do eu que se oculta, que se bate e se perpetua, e também se despedaça, abrindo-se em dois lados sem nome que nunca se encontram. Uma ideia quase destrutiva, mas ao mesmo tempo perfeitamente compreensível para uma autora que, durante a maior parte da vida, contornou os limites da angústia e se valeu dela para criar. A escritora morreu jovem, aos 36 anos, após uma overdose de remédios para dormir.
Já O inferno musical é o último livro de Pizarnik, publicado em 1971, pouco antes da morte da autora. O livro é um amostra de como a leitura de diferentes tradições, a escrita cuidadosa, a compreensão da poesia como ferramenta para perfurar paredes da linguagem e o reconhecimento de que tudo o que Pizarnik tentava captar no papel tinha que partir de si mesma, mas se transmutar em algo mais do que memória ou escavação psicanalítica; tornado em experiência poética, comunhão com os outros.