No bojo das comemorações dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, a Todavia publica Lira mensageira, em que o professor de sociologia da Universidade de São Paulo Sergio Miceli analisa o evento paulistano a partir da trajetória do poeta Carlos Drummond de Andrade e seus contemporâneos em Minas Gerais.
Aos vinte e poucos anos, Drummond dispunha de menos trunfos que os colegas. Sua formação dera-se em farmácia — o caminho natural seria o Direito. Havia acabado de consumar um casamento que não lhe trouxe capital econômico ou social. E sua família estava falida.
A proximidade com Gustavo Capanema, interventor em Minas e mais tarde homem forte do Estado Novo, é a chave que torna inteligível não só o seu percurso profissional na juventude, mas também as possibilidades de sua expressão poética. Se a contribuição da obra de Drummond não pode ser reduzida a essa circunstância — e Miceli é o primeiro a reconhecer isso —, ela também não pode ser entendida longe desse contexto.
Lira mensageira traz também olhares sobre o modernismo paulista e sobre a classe política na Era Vargas. Em ensaio com foco nas obras de estreia de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Ribeiro Couto, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Miceli traça um panorama do escrete literário que integraria a Semana de 22, cravejado de tensões que seriam diluídas na fortuna crítica posterior.
No terceiro e último texto, o autor examina a elite política dos anos 1930 e 1940 a partir do embate entre a União Democrática Nacional e o Partido Social Democrático, ainda hoje reconhecível nas feições da classe dirigente brasileira.