Em seu primeiro livro ilustrado para o público adulto, Coisas para deslembrar, o autor e ilustrador Alexandre Rampazo explora o universo e os labirintos da memória, por meio de uma narrativa de contornos comoventes.
A história tem como personagem central uma mulher, que observa fotografias na parede enquanto rememora alguns episódios da própria vida. Tendo mais comumente se voltado ao público infantil e juvenil em sua trajetória literária, Rampazo agora se debruça num novo desafio: o de criar livros ilustrados para o público adulto.
Formado em design, Rampazo é autor de livros ilustrados e artista gráfico. Recebeu importantes prêmios literários como o Prêmio Jabuti, Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Prêmio Biblioteca Nacional (2º e 3º lugares), Prêmio Fundación Cuatrogatos, entre outros. O artista assina a capa da edição de dezembro do Rascunho.
A narrativa de Coisas para deslembrar conta a travessia de uma mulher pelas próprias memórias, que se descortinam aos poucos, conforme a história avança. Pelas imagens do volume, nota-se a narradora de costas, a observar uma parede repleta de fotografias. Enquanto testemunha no presente as fotos emolduradas, a narradora se reencontra com as lembranças de outrora, que trazem à tona passagens longínquas de sua vida.
Nas páginas iniciais, o texto começa quase totalmente escondido do leitor, coberto por marca-texto em preto, sendo gradualmente revelado, no decorrer da obra. No começo do livro, portanto, o que se lê são palavras que, à maneira de um poema abstrato, trazem sabor à leitura pouco a pouco. É no caminhar das páginas que o texto ganha variados contornos, delineando mais substancialmente os eventos dos quais a personagem se recorda.
O livro aborda o assunto do envelhecimento e da passagem do tempo, a partir da experiência do deslembrar — que se trata, conforme vimos, de um processo de recordar as vivências humanas através de um jogo entre lembrar e deixar ir, entre duvidar das lembranças e conferir a elas múltiplas camadas.