🔓 Relato sobre Auschwitz da francesa Charlotte Delbo ganha 1ª tradução no Brasil

“Auschwitz e depois”, publicado pela Carambaia, é composto por três livros: “Nenhum de nós voltará”, “Um conhecimento inútil” e “Medida dos nossos dias”
Charlotte Delbo, autora de “Auschwitz e depois”
22/11/2021

Um dos mais marcantes relatos sobre o Holocausto, o livro Auschwitz e depois, da francesa Charlotte Delbo (1913-1985), ganha pela primeira vez tradução no Brasil, publicada pela Carambaia. O livro, em pré-venda, será lançado em dezembro.

A obra se distingue de outros relatos célebres sobre os campos de concentração, como os de Primo Levi e Elie Wiesel, por pelo menos dois motivos: ter sido escrito por uma mulher e a razão pela qual a autora foi presa, a atividade política — era militante comunista e membro da Resistência durante a ocupação da França pela Alemanha nazista.

Auschwitz e depois reúne três livros escritos em tempos diferentes e em ordem diversa, mas que compõem uma unidade: Nenhum de nós voltará (concluído em 1947 mas publicado em 1965), Um conhecimento inútil (fragmentos de 1946 que vieram à luz em 1970) e Medida dos nossos dias (escrito em 1970 e publicado em 1971).

O primeiro relata a passagem por Auschwitz. O segundo une Auschwitz e o campo de Ravensbrück e o terceiro narra o que aconteceu, um quarto de século depois, a onze mulheres (e um homem) que  Charlotte Delbo conheceu no cativeiro.

Delbo foi presa em março de 1942, aos 29 anos, com uma centena de membros da Resistência francesa, entre eles seu marido, Georges Dudach, que seria fuzilado após semanas de tortura em maio do mesmo ano.

No mês anterior, em março de 1942, Delbo havia sido recolhida à prisão de Santé, em Paris. No mês seguinte, integrou o grupo de 230 mulheres oriundas de toda a França enviado a Auschwitz. Entre julho de 1943 e janeiro de 1944, esteve no campo agrícola de Raïsko e em janeiro de 1944, com mais sete mulheres, foi enviada a Ravensbrück.

“Era um lugar de antes da geografia. Onde estávamos? Ficaríamos sabendo – mais tarde, pelo menos dois meses depois; nós, as que dois meses depois ainda estavam vivas – que o lugar se chamava Auschwitz. Não lhe poderíamos dar nome”, escreve Delbo.

Após a libertação da França, Delbo integrou, em abril de 1945, o comboio para a Suécia organizado pela Cruz Vermelha do país. E depois, até a morte, viveu, como a maioria de suas companheiras, a impossibilidade de sair daqueles lugares.

Charlotte Delbo nasceu Vigneux-sur-Seine, perto de Paris, de pais italianos. Aderiu às Juventudes Comunistas aos 19 anos e dois anos depois conheceu na militância seu futuro marido, Georges Dudach.

Formada em estenodatilografia, tornou-se em 1937, aos 24 anos, secretária do célebre diretor de teatro Louis Jouvet, que a convidou para o cargo depois de ler um artigo que ela havia escrito sobre a arte teatral. Em 1941, contrariando pedidos de Jouvet, Delbo se uniu ao marido na Resistência, e passou a viver na clandestinidade. No ano seguinte, o casal foi preso.

Depois dos 27 meses passados em campos de concentração e do fim da Segunda Guerra Mundial, Delbo começou a trabalhar na Organização das Nações Unidas em Genebra. Morou durante doze anos na Suíça e, quando voltou a Paris, tornou-se assistente do filósofo Henri Lefebvre, autor de O direito à cidade, que havia conhecido em 1932. Morreu em 1985, em Paris, de câncer nos pulmões.

Além da trilogia Auschwitz e depois, Delbo escreveu outros três livros, entre eles O comboio de 24 de janeiro (1965), uma biografia em ordem alfabética das 230 mulheres que partiram com ela para Auschwitz.

Auschwitz e depois
Charlotte Delbo
Trad.: Monica Stahel
Carambaia
448 págs.
Rascunho

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